02 Agosto 2013
"O Papa Francisco realizou um ato de grande coragem colocando-se humanamente em discussão e dizendo aos jornalistas de meio mundo: 'Se uma pessoa é gay e busca o Senhor, quem sou eu para julgar?'. Mas a sua audácia não está tanto em ter usado 'aquela' palavra, mas sim em ressaltar a acolhida que se deve a qualquer caminho espiritual. Bergoglio colocou novamente no centro a pessoa no seu conjunto, portanto a relação com a sua totalidade humana, deixando de lado o 'particular' da homossexualidade".
A reportagem é de Paolo Conti, publicada no jornal Corriere della Sera, 31-07-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Emanuele Macca tem 37 anos, nasceu em Pavia, trabalha desde sempre no mundo da assistência social, primeiro na Cáritas local e agora no apoio aos toxicodependentes. Ele se define assim: "Um católico praticante, um crente que, no caminho da sua vida, descobriu a própria homossexualidade com um grande conflito tanto interior, quanto nas relações com a comunidade católica".
Mas só no início: "Eu recuperei o entusiasmo da fé quando encontrei ambientes que me restituíram a alegria da dinâmica de comunidade". Em suma, justamente o que o Papa Francisco parece querer comunicar...
"Eu quero dizer exatamente isso. Não nos detenhamos na palavra 'gay', que, no fundo, é um hábito expressivo, provavelmente ligado demais à politização do movimento gay, que parece ter instalado todo o debate no casamento sim/casamento não. Vamos além. Porque me parece realmente essencial, nas rápidas frases do papa, a acolhida da pessoa".
Mas a expressão usada também não é importante? "Certamente, sim. O Papa Francisco usa um estilo comunicativo simples e eficaz. Precisamos ser gratos também por isso. Porque a forma é, sem dúvida, substância. Mas repito: o autêntico peso da frase do pontífice está em outro lugar. Está na acolhida".
Macca tem sobre seus ombros um longo caminho nas diversas comunidades de católicos homossexuais. A última etapa foi no "Grupo del Guado", de Milão. Mas depois decidiu caminhar sozinho. Frequentando, por exemplo, a diocese de Cremona, famosa pela sua "Pastoral para as pessoas homossexuais". Questão muito importante para ele: "A frase de Bergoglio está perfeitamente alinhada com toda a sua abordagem pastoral. Mas ele tem o mérito de dar plena legitimidade ao que já havia se manifestado há muito tempo em diversas realidades da Igreja. Penso justamente na Pastoral de Cremona ou nos gestos do cardeal Christoph Schönborn, arcebispo de Viena. Depois, há os grupos espalhados por todo o território. Os de Parma e de Catania, apenas para indicar dois exemplos que me são muito caros".
Ele pensa que a frase do Papa Francisco representa um ponto de não retorno? "Eu não tenho ilusões demais. Sempre haverá dificuldades. Justamente porque a realidade da Igreja, para o bem ou para o mal, nunca é linear e homogênea. Os próprios bispos têm abordagens humanas muito diferentes".
Pode-se dizer que a base da Igreja Católica é melhor do que a sua cúpula? "Não, eu recuso tal esquematismo. Em todo diálogo, a responsabilidade do resultado final deve ser compartilhada entre quem se aproxima e quem ouve".
E qual será, então, o resultado positivo? "O papa recordou que uma acolhida até hoje muito 'protegida' pode e deve se tornar acolhida comunitária, para além da rigidez das leis ou da própria doutrina".
Resta o ponto de fundo, a questão da homossexualidade vista como "desordem ética". E aqui Emanuele Macca também tem uma resposta sua: "Em nível de pesquisa teológica e debate, ela é bastante evidente, mas o ponto é delicado para ser esgotado. Eu sei que não sairemos disso se continuarmos com o esquema 'ordem boa contra desordem'. Em suma, é preciso descobrir onde se quiser chegar realmente...".
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''Agora Francisco me fez sentir acolhido'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU