31 Janeiro 2013
Uma pastoral forte com relação aos homossexuais deve ser elaborada para permitir que essas pessoas sejam ouvidas e apoiadas.
A opinião é de Guy Gilbert, padre e educador francês, jornalista e autor prolífico. Nascido em Rochefort, em 1935, estudou no seminário da Argélia, onde permaneceu até 1970. De volta à França, especializou-se em Paris no trabalho contra a delinquência juvenil. É o fundador do centro Bergerie du Faucon para crianças de rua.
O artigo foi publicado no jornal francês, católico, La Croix, 29-01-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
"O meu filho é homossexual. Eu não posso aceitar isso. O que você acha?", escreveram-me muitos pais.
"Sou homossexual, os meus pais me botaram para fora de casa assim que completei 18 anos. Estou chocado", disse um jovem.
"Minha filha, homossexual, foi festejar o aniversário em casa. Devo aceitar a sua companheira? Se não, ela não virá a esta festa familiar", perguntava-me uma mãe.
Muitas vezes, os pais são cristãos, mas se recusam a aceitar o que para eles é uma aberração e interrompem deliberadamente a relação com os filhos.
Eu sempre respondi dizendo logo aos pais que não julguem a sexualidade dos filhos e que deixem aberta a porta de casa.
A pior coisa que eu vi foi o comportamento de uma mãe católica cujo filho homossexual morreu velado até o fim pelo seu companheiro, botado para fora do apartamento em que viviam no dia antes do funeral. Eu disse para aquela mulher como a sua prática cristã estava em absoluta contradição com o Evangelho.
O termo "homofobia" é particularmente adequado para essas situações. E a história da Igreja não é um bom exemplo a esse respeito. Eu acrescentaria, no entanto, que o povo cristão está evoluindo lentamente e cada vez mais positivamente com relação a isso.
Eu penso que uma pastoral forte com relação aos homossexuais deve ser elaborada para permitir que essas pessoas sejam ouvidas e apoiadas.
Às vezes, a seu pedido, acontece-me de abençoar um casal de homossexuais. Quando eu vejo um casal solidamente unido, que vive um amor forte e verdadeiro, eu não posso abençoá-lo.
A tarefa e a beleza da missão do padre não é, talvez, de abençoar o amor? Com discrição, é claro, mas sem julgar e, principalmente, sem rejeitar.
Sou contrário ao casamento para todos, mas sou a favor de um pacto civil que permita que os casais do mesmo sexo reforcem os seus direitos, particularmente nas sucessões, um pacto civil com uma cerimônia simples no cartório.
Como é possível que um casal homossexual, que viveu muitos anos, não possa ser protegido quando a morte de um dos dois ocorre de repente? A humanidade é tão frágil como um cristal.
Vivemos neste período, nos acalorados debates sobre o "casamento para todos", oposições pueris e estéreis entre modernidade e tradição, entre laicidade e clericalismo. Um cristão que quiser viver a sua fé com toda a verdade não aceitará tudo do mundo contemporâneo. Mas saberá não rejeitar ninguém, nem julgar ninguém. Porque é a lei do Evangelho. Só essa lei vai nos permitir viver livres em um mundo complexo.
* * *
Da nota do Conselho para a Família e a Sociedade da Conferência Episcopal Francesa (Elargir le mariage aux personnes de même sexe? Ouvrons le débat!):
"Embora o respeito pela pessoa seja claramente afirmado, é preciso admitir que a homofobia, porém, não desapareceu da nossa sociedade. Para as pessoas homossexuais, a descoberta e a aceitação da sua sexualidade comportam, frequentemente, um caminho complexo. Nem sempre é fácil assumir a própria homossexualidade no ambiente profissional ou familiar. Os preconceitos custam a morrer, e as mentalidades mudam muito lentamente, mesmo nas nossas comunidades e famílias católicas; que, porém, são chamadas a expressar a máxima acolhida a todas as pessoas, independentemente do seu caminho, como filhas de Deus. Pois o que para nós, cristãos, fundamenta a nossa identidade e igualdade entre pessoas é o fato de que somos todos filhos e filhas de Deus. A acolhida incondicional da pessoa não implica uma aprovação de todos os seus atos. Reconhece, ao contrário, que o ser humano é maior do que os seus atos (...). A Igreja Católica convida os fiéis a viver tal relação na castidade, mas reconhece que, para além do aspecto sexual somente, o valor da solidariedade, da atenção e do cuidado pelo outro podem se manifestar em uma relação afetiva duradoura. A Igreja quer ser acolhedora com relação às pessoas homossexuais e continuará fazendo a sua contribuição para a luta contra toda forma de homofobia e discriminação (...)".
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