22 Julho 2013
No olho do ciclone, o "reformador" do IOR. Frequentação em locais homossexuais na época em que ele havia sido transferido para o Uruguai, um quarto para o amigo militar trazido da Suíça, um incidente com um jovem no elevador. Essas são algumas das circunstâncias descritas em uma investigação da revista italiana L'Espresso que aponta o dedo contra a primeira nomeação de peso do pontificado de Francisco. Mons. Battista Ricca, nomeado como o novo "prelado" do banco vaticano depois que, escreve a L'Expresso, o "lobby gay" operante dentro do Vaticano conseguiu, sem o conhecimento do papa, limpar um currículo nada imaculado.
A reportagem é de Paolo Rodari, publicada no jornal La Repubblica, 19-07-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Mas, no Vaticano, as fontes oficiais avançam e desmentem. O padre Federico Lombardi, porta-voz vaticano, de fato, é categórico: "O que foi afirmado sobre o Mons. Ricca não é confiável". Palavras que dizem como as pessoas dentro dos muros leoninos acreditam na boa-fé do monsenhor, que, dentre outras coisas, nos últimos dias, se defendeu diretamente com Jorge Mario Bergoglio.
Por enquanto, na Cúria Romana, ninguém se descompõe. Ao contrário, muitos indicam o momento no qual a primeira nomeação do papa foi posta no Índex. E falam, por esse motivo, de um "complô" tramado justamente aquele que, por vontade de Francisco, foi trazido para o coração das finanças vaticanos, para dentro daquela máquina em que, há décadas, se multiplicam fatos obscuros.
Certamente, os fatos relatados pela L'Espresso são circunstanciais. Ricca, 57 anos, natural da diocese de Bréscia, vem da carreira diplomática. Ele prestou serviço por 15 anos em nunciaturas de vários países, antes de ser chamado de volta ao Vaticano, para a Secretaria de Estado. "Mas ele conquistou a confiança de Bergoglio – escreve a revista – em outra qualidade, inicialmente como diretor da residência da Via della Scrofa em que o arcebispo se hospedava durante as suas visitas a Roma, e agora também como diretor da Domus Sanctae Martae em que Francisco escolheu morar como papa".
Antes da nomeação, havia sido mostrado ao pontífice, como é de costume, o arquivo pessoal referente a Ricca, "onde ele não havia encontrado nada de impróprio", mas, uma semana depois da nomeação, "o papa veio ao conhecimento, a partir de várias fontes, de lapsos de Ricca a ele desconhecidos até então".
O "buraco negro" na história do Ricca – segundo a L'Espresso – é o período transcorrido na nunciatura de Montevidéu, no Uruguai, onde ele chegou em 1999, depois de ter prestado serviço em Berna. Justamente em Berna, ele havia estreitado uma amizade com um capitão do Exército suíço, Patrick Haari.
"Os dois chegaram ao Uruguai juntos. E Ricca pediu que também ao seu amigo fossem dados um papel e um alojamento na nunciatura", o que ocorreu, no fim, depois que o núncio se aposentou. Segundo a revista, "a intimidade das relações entre Ricca e Haari foi, assim, descoberta, a ponto de escandalizar inúmeros bispos, padres e leigos do pequeno país sul-americano, não por último as freiras que cuidavam da nunciatura. O novo núncio, o polonês Janusz Bolonek, chegado a Montevidéu no início de 2000, também achou intolerável o ménage e informou as autoridades vaticanas, insistindo várias vezes com Haari para que ele fosse embora. Mas inutilmente, dados os laços deste com Ricca".
Nos primeiros meses de 2001, Ricca "foi pego em mais um incidente por causa de sua conduta imprudente. Um dia, tendo ido como outras vezes a um local de encontros entre homossexuais, ele foi espancado e teve que chamar sacerdotes em ajuda para ser levado até a nunciatura, com o rosto machucado". Em agosto de 2001, "em plena noite, o elevador da nunciatura parou e, no início da manhã, os bombeiros tiveram que acorrer. Eles encontraram um jovem preso na cabine junto com Ricca".
O núncio Bolonek exigiu o imediato afastamento de Ricca da nunciatura e a demissão de Haari. Ele obteve a luz verde do secretário de Estado, o cardeal Angelo Sodano. Ricca foi antes transferido para Trinidad e Tobago e, depois, chamado de volta ao Vaticano. Segundo a L'Espresso, apesar do núncio ter se pronunciado sempre "com severidade contra Ricca, referindo-se a Roma", "um manto de silêncio público cobriu até hoje aqueles lapsos do monsenhor", e "no Vaticano há quem promova ativamente essa operação de cobertura". Para a revista, não seria ninguém menos do que aquele "lobby gay" que, no pontificado de Ratzinger, acelerava ou freava as carreiras dos monsenhores, intervindo sem escrúpulos e ostentando um poder inegável.
Ricca, até agora, não respondeu publicamente às acusações, mas nada nega que, nos próximos dias, ele não pretenda agir de outra maneira. No Vaticano, convidam à prudência, lembrando também que o monsenhor foi nomeado pelo papa como prelado "interino". Como dizendo que, se a confiança com relação a ele desaparecer no futuro, Francisco poderá demiti-lo, ao que parece.
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IOR: sombras e escândalo sobre o prelado desejado pelo papa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU