12 Julho 2013
As pesquisas sociais são unívocas: cada vez menos jovens vão à paróquia ou se declaram católicos. Às vésperas da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) do Rio de Janeiro, um fórum da redação da revista Jesus, com quatro especialistas, apresenta o quadro da situação sobre essa distância crescente entre a Igreja e a geração dos "nativos digitais".
A reportagem é da revista Jesus, n. 7, de julho de 2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Para apresentar o quadro sobre esse dilema e sobre o tema mais amplo do "planeta jovens", a revista Jesus organizou um fórum editorial do qual participaram quatro convidados especiais: o padre Armando Matteo, teólogo e autor do livro La prima generazione incredula; Chiara Giaccardi, socióloga da Universidade Católica de Milão e especialista em mídias digitais; o padre Renato Rosso, religioso carmelita com uma longa experiência pastoral em paróquias e à frente de uma escola católica na Terra Santa; e Luciano Manicardi, monge de Bose, que se ocupa na comunidade particularmente com a formação dos jovens. Nas páginas que se seguem, a síntese do animado debate que surgiu do encontro.
Publicamos aqui a quarta parte do debate. Confira também as partes anteriores em "Para ler mais".
Eis o debate.
No seu último livro, o padre Armando Matteo fala da fuga das quarentonas da Igreja. Presumivelmente, muitos são mães. Quanto isso afeta a transmissão da fé e o crescimento dos jovens?
Armando Matteo – Já se sabe muito bem que a única instância educativa na Itália é a mãe. Infelizmente, os dados disponíveis e a experiência pessoal me levaram a verificar que não se veem mais coetâneas minhas na igreja. Presumivelmente, elas são mães, e isso é um grande problema. O afastamento está bem ligado ao fator educação: quanto mais as mulheres são graduadas, mais aumenta a separação da Igreja.
Como na Itália a transmissão da fé ocorre normalmente pela via "matrilinear", é evidente que a Igreja italiana precisa reabrir o diálogo com o universo feminino. Somam-se a isso outros fatores, como a diminuição incrível das religiosas nas presenças paroquiais, a realidade religiosa que perdeu mais números nos últimos anos, embora atualmente isso não se vê, porque na Itália há 90 mil freiras, mas mais de 50% tem mais de 70 anos.
As irmãs representaram a possibilidade de um cotejo institucional do feminino dentro da Igreja e habitaram de maneira incrivelmente generosa os espaços essenciais do contato entre o cotidiano e a fé: asilos, hospitais etc. São elas que verdadeiramente encarnaram o conceito de que "a Igreja é a mãe!". Isso também significa entrar nos debates políticos sobre a condição da mulher: sobre problemas enormes como o feminicídio, não ouvimos nenhuma palavra séria por parte eclesial!
E o mesmo sobre toda uma série de problemas, como a disparidade de salários. As mulheres na Itália são as que estudam mais, também têm ótimas notas e pedem uma Igreja competente, capaz de interagir com o seu crescimento cultural. Dentro da relação com o mundo juvenil, portanto, o capítulo "Igreja-mulheres" é muito importante e não se reduz à questão "ordenação sacerdotal", mesmo que pensar em novos ministério femininos poderia ser útil.
Além disso, a experiência, a concretude, os códigos essenciais dos jovens fazem parte muito mais do universo feminino do que do masculino. E, ao contrário das gerações mais jovens, as "quarentonas" também têm um maior dinamismo interior, não há uma desafeição total com relação à espiritualidade, à fé, à oração: mesmo na Itália, as ateias também afirmam que rezam. Mas estamos em uma sociedade com um machismo ainda forte e em uma Igreja que, no último período, não só é masculina, mas até mesmo "episcopal". Felizmente, graças ao Papa Francisco, algo está mudando.
Chiara Giaccardi – Diante de uma verdade cultural muito poderosa, ou seja, que no Evangelho a figura da mulher é fundamental, a Igreja dispõe de um patrimônio de valorização da figura feminina de extraordinária riqueza, com uma grande capacidade para combater todo dualismo. Homens e mulheres são duas faces de uma mesma humanidade, que é uma dualidade, e não um dualismo; uma riqueza que não deve ser desperdiçada; uma unidade que não deve ser separada.
A presença feminina pode e deve ser mais valorizada, e isso não em nome de uma suposta revolução, mas no de uma plena fidelidade às origens. Quanto à festa, eu gostaria de acrescentar algo a partir do significado etimológico original. A questão não é tanto o da extraordinariedade, da excepcionalidade, já que festiao significa "comer juntos, banquete, acolhida ao lar doméstico". Portanto, tem mais a ver com a acolhida e a hospitalidade, o fazer festa juntos; é um "ponha mais um lugar à mesa", na mesa de todos os dias, ao invés de um "ir ao restaurante".
No fundo, há uma ideia da convivialidade como modelo de relação social diferente do consumismo. Onde o mais importante não é tanto o quanto e o que se come, mas sim o clima acolhedor que se consegue criar. São todas lógicas que, em certo sentido, tem a ver com a rede. Existem movimentos de antropólogos contemporâneos que falam do neoconvivialismo como modelo alternativo ao liberalismo, com um componente utópico próprio que retoma essa dimensão intrinsecamente relacional, comunal, não tanto como evento excepcional, extraordinário, mas como estilo de partilha gratuita, no sentido de não estar baseada em um interesse.
Então, é preciso reaprender a estar juntos, porque às vezes parece que não somos mais capazes disso. A festa, na realidade, é uma modalidade, uma postura existencial, mais do que o evento excepcional. Essa é outra das vertentes sobre as quais é preciso educar hoje.
Renato Rosso – Quem tem a minha idade – eu tenho 46 anos – se lembra da Comunidade de Taizé das origens e da intuição do Irmão Roger: "Cristo ressuscitado te convida a uma festa", isto é, uma festa interior. Isso também deveria nos fazer refletir: sobre como definimos a catequese do Batismo sobre o pecado original e não sobre a festa...
Armando Matteo – Devemos estar conscientes do caráter anestésico das nossas missas dominicais. Se alguém vive algo bonito, isso fica gravado nele! A nossa própria linguagem nos trai: inventamos uma abjeção teológica – o termo "animar a liturgia" –, mas "liturgia" já significa "animação"! O problema é agravado pelo fato de que, na Itália, temos um número de paróquias e de missas excessivo, em comparação com o clero presente e ao envelhecimento dos sacerdotes que têm 20 anos a mais, em média, do que os homens italianos.
O papa falou de uma Igreja "pesada". É também uma questão estrutural: missas demais, padres idosos, mal distribuídos no território nacional, ocupados em pensar em trabalhos burocráticos que não têm nada a ver com o trabalho pastoral, trabalhos que poderiam ser feitos pelos leigos, mas que não lhes deixam fazer!
Luciano Manicardi – A deserção feminina da Igreja também pode ter algo a ensinar. Dificilmente hoje podemos repetir o que Paulo dizia a Timóteo: "Lembro-me da tua fé sincera, a mesma da tua avó Lóide e da tua mãe Eunice, e que agora também está em ti" (2Tm 1, 5). Mas talvez isso ajude a Igreja a redescobrir a sua dimensão de comunidade generativa, de ecclesia mater e, portanto, a sua vocação de transmitir vida, de expressar uma promessa de vida para os jovens. Igreja capaz de maternidade significa Igreja capaz de humanidade, isto é, que entendeu bem que "o ser humano é o ponto de interseção da fé", como diz o cardeal Walter Kasper, e que educar para a fé implica cuidar do humano que está no ser humano e, especificamente, do jovem.
Essa dimensão generativa e educante da comunidade cristã, que exigiria a reavaliação da paternidade e da maternidade espiritual no acompanhamento de caminhos de fé dos jovens, envolve dar tempo, dar escuta, dar palavra, dar presença. Estar ao lado, mesmo na impotência, mas na consciência da própria não inutilidade.
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Jovens, o futuro da Igreja em fuga – Parte 4 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU