11 Julho 2013
As pesquisas sociais são unívocas: cada vez menos jovens vão à paróquia ou se declaram católicos. Às vésperas da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) do Rio de Janeiro, um fórum da redação da revista Jesus, com quatro especialistas, apresenta o quadro da situação sobre essa distância crescente entre a Igreja e a geração dos "nativos digitais".
A reportagem é da revista Jesus, n. 7, de julho de 2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Para apresentar o quadro sobre esse dilema e sobre o tema mais amplo do "planeta jovens", a revista Jesus organizou um fórum editorial do qual participaram quatro convidados especiais: o padre Armando Matteo, teólogo e autor do livro La prima generazione incredula; Chiara Giaccardi, socióloga da Universidade Católica de Milão e especialista em mídias digitais; o padre Renato Rosso, religioso carmelita com uma longa experiência pastoral em paróquias e à frente de uma escola católica na Terra Santa; e Luciano Manicardi, monge de Bose, que se ocupa na comunidade particularmente com a formação dos jovens. Nas páginas que se seguem, a síntese do animado debate que surgiu do encontro.
Publicamos aqui a segunda parte do debate. Confira também as partes anteriores em "Para ler mais".
Eis o debate.
A geração dos anos 1980 é a mesma dos chamados Papaboys, isto é, quando era máxima a sensação, ao menos por parte da grande mídia, de uma empolgação juvenil pela figura do papa. Porém, de acordo com os dados, parece ser mínima a real participação dos jovens na vida de fé e na prática religiosa. Como vocês explicam esse estranho efeito?
Chiara Giaccardi – João Paulo II utilizou códigos muito envolventes de comunicação que, especialmente sobre os jovens, geraram uma grande aderência, como as JMJs ou as grandes reuniões. O erro foi pensar que o apelo desses grandes eventos era suficiente para trazer estavelmente os jovens de novo para a Igreja. Mas os dados demonstram que esse primeiro passo, embora importantíssimo, não é suficiente se, depois, na normalidade da vida eclesial, se continua falando uma língua estranha aos jovens.
Isso não significa, naturalmente, que a Igreja deve se preocupar, como se fosse uma agência de publicidade, a se adequar ao público-alvo desejado. O movimento é bem diferente: sair da inércia, deixar-se interrogar pelo mundo, encontrar continuamente os modos de fazer reviver a tradição à luz das novas questões. É preciso, portanto, entender o que funciona desses momentos e como utilizar essa linguagem, e recriar aquele clima de alegre fraternidade também na normalidade, e não apenas na excepcionalidade do Rio de Janeiro e de Sydney. Porque a vida é feita de excepcionalidade e de normalidade, e é a respiração entre esses dois momentos que mantém acesa a centelha de infinito.
Renato Rosso – Eu concordo. Talvez nos deixamos iludir um pouco por esses grandes acontecimentos e pensamos que a realidade juvenil é essa, enquanto a realidade juvenil é a que está na periferia dos grandes eventos. Além disso, precisamos nos perguntar que incidência essas grandes reuniões têm no cotidiano. Como sacerdote, eu me pergunto se talvez não apresentamos um cristianismo um pouco complexo demais, um pouco articulado demais, um pouco impositivo demais. Para um jovem que quer se aproximar da fé, não é fácil. É preciso simplificar, sem renunciar aos dogmas fundamentais, mas apontando para o essencial.
Eu gostei que o Papa Francisco, como primeira coisa, anunciou a misericórdia de Deus. Agora, é preciso ver como tudo isso vai se concretizar, por exemplo, na realidade dos casais de fato ou dos casais em segunda união: é um problema diante do qual a Igreja é chamada a dar respostas que sejam abertas. E talvez a nossa linguagem também deveria ser um pouco revista.
Armando Mattteo – Seguramente, há uma lacuna entre a experiência forte das JMJs, que é uma experiência adivinhada, e o cotidiano. A intuição está certa, é uma pena que não fez e continua não fazendo escola. Tomemos, por exemplo, a JMJ de Madri: diante de 1% da população juvenil italiana presente em Madri, participaram 50% do episcopado italiano. Portanto, uma presença de Igreja incrível. E quase 10% do clero, um número enorme de freiras e leigos que acompanhavam os jovens.
Mas o que acontece no dia a dia? Quantos acompanham os jovens nas universidades? Como os professores de religião são acompanhados? E como a rede é vivida? Basta ver os sites institucionais da Igreja Católica, nos quais não é possível um "reply", um "curtir", nem mesmo um comentário.
Segundo elemento, a pluralidade de formas litúrgicas que havia em Madri: adoração, Via Sacra, confissões, muitíssimas formas de oração, em comparação com as nossas paróquias, que são monótonas.
Terceiro elemento: os bispos fizeram catequeses bíblicas, "impulsionados" pelo Pontifício Conselho para os Leigos. Tinham inputs muito precisos, foram obrigados a se preparar, a pensar. E foram muito eficazes.
O quarto elemento é a festa, uma experiência humana central, que nas nossas paróquias não existe. Parece um funeral mesmo quando o morto não está. A nossa civilização tem apenas a diversão, e não a festa: a JMJ é realmente o lugar de festa, de comunidade. Nós temos muitas missas aos domingos, para viver o domingo. Há uma questão de quantidade-qualidade.
Chiara Giaccardi – Esses grandes momentos funcionam porque são experiências. E o único modo de aproximar os jovens é de fazer com que tenham experiências. Não fazer catequese, mas lhes oferecer oportunidades de experiência. O que significa fundamentalmente duas coisas. Ajudá-los a sair da obviedade dos lugares-comuns e ajudá-los a aprender com esse movimento, que, além disso, é o da educação, e-ducere: aprender fazendo. É a única linguagem que os jovens entendem hoje, que é também a linguagem da rede: "hands on", pôr as mãos, é de fato um dos princípios da ética hacker. A única coisa que se pode fazer para educá-los é não deixá-los simplesmente no mundo da exploração casual, mas, através da exploração, chegar àquela passagem que talvez eles não façam espontaneamente.
Nesse sentido, a linguagem é preciosa: nós estamos acostumados a uma linguagem conceitual que para eles é chata, incompreensível, distante. O Papa Francisco, ao invés, está usando a linguagem das metáforas, que é a linguagem das parábolas, que fala da cotidianidade mais ínfima.
A linguagem foi "violentada", não apenas pela política, mas em alguns casos também pela religião, quando ela a usou em chave retórica com afirmações de princípio que, depois, não eram seguidas com o testemunho. Isso provocou uma desconexão da realidade. Por isso, o testemunho é hoje o único registro comunicativo crível. O enunciador deve ser testemunha, e a linguagem deve ser "integral". A Igreja só precisa se valer do seu próprio patrimônio, da Bíblia, da arte sacra: é preciso levar os jovens para dentro das igrejas e fazê-los se maravilharem diante dos mosaicos, contar-lhes essa história e ajudá-los a sentir que essa história está perto da sua história e é dirigida a cada um deles.
É um percurso totalmente diferente, que passa, justamente, pela experiência. O fato é que se afirmou a especialização, triunfou a funcionalização. Separamos tudo, fragmentamos e recompusemos os processos em nome da eficiência. Ao contrário, é hora de colocar tudo junto de novo.
A esse propósito, a definição mais bonita de católico foi dada por Bento XVI na Caritas in Veritate, no número 55: "O homem todo e todos os homens". Universal não no sentido abstrato, mas que envolve a mente, a paixão, os afetos, a fisicalidade, a espiritualidade, isto é, todo o ser humano. Ao invés, a nossa cultura é uma cultura que separa, o intelectualismo de um lado, e a fisicidade (talvez pervertida) de outro. Os jovens precisam saber que as coisas estão juntas. Eu sou capaz de perceber isso, mas não através da linguagem da catequese tradicional. A rede nos oferece novos caminhos e novas possibilidades, mas é preciso se preparar e ser humilde, porque, se estamos convictos de já ter a verdade, e que são os outros que não a entendem, não podemos ir muito longe.
Renato Rosso – São importantes a linguagem, os conteúdo e também a atitude. Muitas vezes, diante de situações que os jovens vivem, logo fazemos um julgamento, não esperamos que eles façam um certo caminho. "Quando o Filho do Homem vier, será que ainda vai encontrar a fé sobre a terra?": essa frase do Evangelho sempre me fez pensar. É preciso redescobrir uma formação pessoal que ajude a ter uma abordagem diferente com os jovens, de maior paciência, tolerância, espera. No fundo, o cristianismo é o tempo da espera, não o da realização.
Luciano Manicardi – A brecha entre o fascínio da figura de João Paulo II e a vida eclesial cotidiana, na realidade, não é uma lacuna, mas expressa uma mesma realidade: a ausência da comunidade. Ou a não eloquência da comunidade paroquial para muitos jovens, o que eu acho que é o problema que está por trás de tanta ineficácia da evangelização. O fascínio e o poder comunicativo de João Paulo II puderam mascarar essa realidade, mas os jovens precisam de comunidade, e o cristianismo encontra a sua genialidade justamente na criação de comunidades nas quais jovens e adultos, homens e mulheres, pessoas de diversas nações e culturas encontram a sua unidade em Cristo.
Mais uma vez, ouvir os jovens e as suas dificuldades poderia ajudar os homens da Igreja a identificar um problema capital para o anúncio da fé no mundo de hoje. Podemos dizer assim: como fazer com que as comunidades paroquiais se tornem scholae amoris, lugares de experiência de fraternidade, lugares humanos em que se faz a experiência de ser amado, escutado, reconhecido e onde, por sua vez, se aprende a amar?
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Jovens, o futuro da Igreja em fuga – Parte 3 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU