Por: Cesar Sanson | 21 Junho 2013
Celebrada quando foi divulgada pela Fifa, a realização da Copa no Brasil é cada vez mais questionada pelos brasileiros, irritados com suspeitas de corrupção e investimentos públicos milionários nos estádios.
A reportagem é do sítio Deustche Welle, 20-06-2013.
As novas arenas brasileiras têm o que há de melhor. O Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha é um dos cinco mais caros já construídos para uma Copa do Mundo, segundo o jornal esportivo Lance!.
Para muitos brasileiros, a Fifa e seu presidente, Sepp Blatter, perderam o "contato com a realidade" com as suas exigências para atender o padrão Fifa. Blatter responde como sempre, dizendo que o Brasil se candidatou voluntariamente para sediar o evento. O suíço lava suas mãos, como de costume.
Ambas as alegações são corretas, embora em parte. O Brasil conhecia exatamente as condições da Fifa quando se candidatou para sediar a Copa e foi escolhido, em 2007. O povo festejou na época a perspectiva de realizar uma grande festa do futebol. Mas as suspeitas de corrupção, a explosão de custos e o gigantismo do projeto acabaram estragando a alegria de muitos brasileiros, sobretudo devido à conta salgada que eles estão tendo que pagar.
Sem "plano B"
O Mané Garrincha, por exemplo, é uma pequena joia, mas muitos questionam o sentido da obra. Na capital não há um clube de futebol na primeira divisão e nem mesmo uma tradição de futebol. Manaus, outra cidade com nenhuma tradição no futebol de ponta, também ganha um estádio novo em folha, embora aparentemente ninguém saiba quem vai preencher os assentos do lugar depois da Copa.
A Fifa argumenta que no mínimo 87% dos bilhetes para o jogo de abertura da Copa das Confederações, entre Brasil e Japão, foram comprados por residentes de Brasília. Mas, se todos eles voltarão para jogos dos clubes locais, é uma outra questão.
O problema é mais profundo. A Fifa escolhe a sede da Copa do Mundo segundo critérios determinados. O país-sede acaba sendo obrigado a investir bilhões em novos estádios para atender aos elevados critérios da entidade máxima do futebol, independentemente de a sociedade e sua economia suportarem o gasto.
A Copa do Mundo é a menina dos olhos da Fifa e deve ser disputada nos melhores palcos. Em nações industrializadas, como a Alemanha ou o Japão, isso até pode ser possível, porque há um consumidor que pode pagar o preço, mesmo após o mundial.
Mas em países como a África do Sul ou o Brasil, uma boa parte da população não entende por que tanto dinheiro precisa ser injetado em obras faraônicas enquanto 25 bebês morrem num hospital superlotado, como aconteceu há poucos dias no Brasil.
E o exemplo da África do Sul, com suas arenas da Copa do Mundo parcialmente abandonadas, mostra que não houve investimentos a longo prazo, mas apenas um estímulo momentâneo. A Fifa não tem um "plano B" para países emergentes no processo de escolha da sede da Copa do Mundo. A padrão vale para todos, tanto para a rica Suíça como para o miserável Sudão.
Craques mostram solidariedade
O atacante paraibano Hulk se disse a favor das manifestações, expressando o que muitos jogadores de futebol e outros atletas brasileiros pensam às vésperas da Copa do Mundo de 2014. "Eles [os manifestantes] têm total razão, o que falam tem sentido, temos de dar ouvido", reconheceu. "O Brasil tem que melhorar mesmo, a gente sabe que é verdade", acrescentou.
Justamente os atletas, que estão entre os principais beneficiados dos grandes eventos esportivos, se solidarizam com a base. O que está acontecendo no Brasil é um processo fascinante, que pode ser mais do que apenas uma revolta momentânea contra um grande evento. Dessa vez, são centenas de milhares de pessoas que vão às ruas, não porque são contra as Olimpíadas ou a Copa, mas porque reivindicam um equilíbrio justo. O contribuinte, que tem que pagar a conta no final, exige um direito de participação contra os monopólios e o gigantismo da Fifa e do Comitê Olímpico Internacional.
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Fifa não tem um "plano B". O padrão vale para todos, tanto para a rica Suíça como para o miserável Sudão - Instituto Humanitas Unisinos - IHU