19 Junho 2013
O padre jesuíta Miguel Yanez leciona teologia moral na Pontifícia Universidade Gregoriana, a grande universidade dos jesuítas em Roma. Mas, há alguns meses, muitos daqueles que vão lhe procurar não o fazem para resolver dúvidas sobre a doutrina católica, mas sim para saber mais sobre o seu ilustre superior e amigo, Jorge Mario Bergoglio, que foi formador, diretor espiritual e depois colega de Yanez no Colégio Massimo, na Itália.
A reportagem é de Alessandro Speciale, publicada no sítio Vatican Insider, 17-06-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"O primeiro encontro pessoal com ele ocorreu quando eu lhe pedi para ser admitido na Companhia de Jesus. Quem falou com ele, ao menos naquela época, lembra o seu olhar penetrante, a escuta atenta. E as suas palavras: poucas, mas significativas, incisivas", contou ele um mês depois da eleição do Papa Francisco em um encontro na Gregoriana.
O Vatican Insider o entrevistou enquanto o pontificado do primeiro papa jesuíta se aproxima do marco simbólico dos primeiros 100 dias.
Eis a entrevista.
Padre Yanez, o senhor conhecia bem o padre e depois o arcebispo Bergoglio. O senhor os reconhece no Papa Francisco destes primeiros meses?
Do ponto de vista pessoal, quando falamos pelo telefone, ele era a mesma pessoa que falava comigo, e era a continuação das nossas conversas anteriores. Nas suas aparições em público, pode-se dizer que veio à tona uma personalidade até agora insuspeita: como formador e também como arcebispo e cardeal, ele não gostava tanto da exposição pública, principalmente nos meios de comunicação. Raramente ele concedia alguma entrevista. Agora, ao invés, surpreende a sua desenvoltura no seu novo papel, pode-se dizer até da sua "vontade" de ser papa. Recentemente ele disse que não queria isso – obviamente, pode-se entender que ele não ambicionava esse papel –, mas mesmo assim transparece uma vontade de assumir a missão que lhe foi dada pelo Espírito Santo com grande entusiasmo e calor humano.
Em quais gestos ou palavras do Papa Francisco o senhor encontra mais o padre Bergoglio que o senhor conhecia?
Muitos gestos que vemos agora no Papa Francisco ecoam aquele homem que, às escondidas, era muito atento às pessoas, particularmente aos pobres e aos fracos, às crianças e aos idosos. Por exemplo, na missa da Paróquia dos Santos Isabel e Zacarias, (em Roma), na sua homilia às crianças, era o mesmo estilo que aprendemos com ele, quando éramos seminaristas na Paróquia de São José, em San Miguel, em Buenos Aires: falar com as crianças fazendo-lhes participar das nossas homilias da missa. O mesmo aconteceu na sexta-feira, 7 de junho, dia do Sagrado Coração, quando, deixando de lado o discurso escrito dirigido às comunidades educativas dos jesuítas, ele preferiu dar voz às crianças, adolescentes e jovens para ouvir as suas perguntas. De bom grado ele as respondeu, com a mesma espontaneidade das crianças e dos jovens. Lembro que, além das homilias nas missas das crianças em Buenos Aires, como arcebispo, Bergoglio começou a fazer uma missa anual com as crianças de toda a arquidiocese, realizada em um estádio de futebol para ter o espaço para acolher milhares de crianças e fazer da missa uma festa toda para elas.
Em que lhe parece que o seu novo "trabalho" influenciou Bergoglio?
Do ponto de vista da sua constante exposição em público, não parece que ele tenha ficado perturbado com isso, ao contrário, ele mostra uma naturalidade admirável. Mas eu acho que, em nível pessoal, como ele reconheceu no encontro com as escolas jesuítas italianas, certamente lhe farão falta o contato com as pessoas, a sua liberdade para se mover nos meios públicos, no metrô, nas ruas da cidade para ir ao encontro das comunidades, particularmente dos mais pobres e dos que sofrem.
Como católico e amigo, o que mais lhe chamou a atenção do que o Papa Francisco fez nesses primeiros meses?
A sua visita ao Instituto Penal Casa del Marmo e o seu gesto de lavar os pés dos jovens presos, até mesmo das moças, mesmo que alguns deles não eram católicos: fiquei impressionado com o olhar de felicidade dirigido a cada um deles assim que ele havia terminado de lavar os seus pés.
E como professor e jesuíta?
Ele continua sendo um filho de Santo Inácio também como papa, mas com uma abertura para a Igreja toda, com um sentido de universalidade, que é próprio da Companhia de Jesus, sem fazer desse seu pertencimento um obstáculo ao seu ministério como pastor de todos. Seja nas suas palavras, seja na sua atitude, encontramos um verdadeiro jesuíta – que se torna para a Companhia de Jesus hoje uma luz no seu caminho eclesial.
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''A universalidade da mensagem de amor de Deus pela pessoa é o traço distintivo do papa'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU