Por: André | 18 Mai 2013
Os teólogos da libertação o elogiam, mas entre ele e eles há um abismo. Os progressistas contam-no entre suas fileiras, mas ele se mantém afastado. O verdadeiro Francisco é muito diferente daquele que alguns imaginam.
A reportagem é de Sandro Magister e publicada no sítio Chiesa.it, 16-05-2013. A tradução é do Cepat.
Em duradoura lua de mel com a opinião pública, o Papa Francisco ganhou também o elogio do mais combativo dos teólogos franciscanos, o brasileiro Leonardo Boff: “Francisco dará uma lição à Igreja. Saímos de um inverno rígido e tenebroso. Com ele chega a primavera”.
Na realidade, Boff abandonou há muito tempo o hábito franciscano, casou-se e substituiu o amor por Marx pelo amor ecologista pela Mãe Terra e o Irmão Sol. Mas ele ainda é o mais famoso e o mais citado dos teólogos da libertação.
Quando, apenas três dias depois do início do pontificado, Jorge Mario Bergoglio invocou “uma Igreja pobre e para os pobres”, sua inclusão nas fileiras dos revolucionários parecia coisa feita.
* * *
Na realidade, há um abismo entre a visão dos teólogos latino-americanos da libertação e a visão deste Papa argentino.
Bergoglio não é um prolífico autor de livros, mas o que deixou por escrito é suficiente e permite entender o que tem em mente com seu insistente misturar-se com o “povo”.
Conhece bem a Teologia da Libertação, viu-a nascer e crescer também entre seus irmãos jesuítas, mas sempre marcou seu desacordo com ela, mesmo ao preço de se ver isolado.
Seus teólogos de referência não eram Boff, nem Gutiérrez, nem Sobrino, mas o argentino Juan Carlos Scannone, também jesuíta e pouco conhecido, que havia sido seu professor de grego e que havia elaborado uma teologia, não da libertação, mas “do povo”, fundamentada sobre a cultura e a religiosidade das pessoas comuns, em primeiro lugar dos pobres, com sua espiritualidade tradicional e sua sensibilidade pela justiça.
Hoje, com 81 anos de idade, Scannone é considerado o maior teólogo argentino vivo. Ao contrário, sobre o que resta da Teologia da Libertação, já em 2005 Bergoglio concluiu seu discurso deste modo: “Com a queda do ‘socialismo real’, essas correntes de pensamento mergulharam nas sombras da confusão. Incapazes de uma reformulação radical e de uma nova criatividade, elas sobreviveram por inércia, embora haja, ainda hoje, quem as queira, de maneira anacrônica, voltar a propor”.
Bergoglio deslizou esta sentença condenatória contra a Teologia da Libertação em um de seus escritos mais reveladores: o prólogo a um livro sobre o futuro da América Latina, que tem como autor o seu amigo mais íntimo na cúria vaticana, o uruguaio Guzmán Carriquiry Lecour, secretário-geral da Pontifícia Comissão para a América Latina, casado, com filhos e netos, o leigo com o cargo mais alto na cúria.
Na opinião de Bergoglio, o continente latino-americano já conquistou um lugar de “classe média” na ordem mundial e está destinado a impor-se ainda mais em futuros cenários, mas está sendo ameaçado no que tem de mais próprio: a fé e a “sabedoria católica” de seu povo.
* * *
A armadilha mais temível, segundo ele, é constituída por aquilo que ele chama de “progressismo adolescente”, um entusiasmo pelo progresso que, na realidade, se volta – diz – contra os povos e as nações, contra sua identidade católica, já que “tem relação com uma concepção da laicidade do Estado que é, em grande medida, laicismo militante”.
No domingo passado, se posicionou a favor da proteção jurídica do embrião na Europa. Em Buenos Aires, ninguém se esquece da sua tenaz oposição às leis a favor do aborto livre e dos casamentos “gays”. Na promoção de leis similares em todo o mundo ele vê a ofensiva de “uma concepção imperialista da globalização”, que “constitui o totalitarismo mais perigoso da pós-modernidade”.
É uma ofensiva que, para Bergoglio, leva o sinal do Anticristo, como no romance que ele gosta de citar: O Senhor do Mundo, de Robert H. Benson, anglicano de Canterbury convertido ao catolicismo há um século.
Em suas homilias como Papa, a mais que frequente referência ao diabo não é um artifício retórico. Para o Papa Francisco o diabo é mais real que nunca, é “o príncipe deste mundo” que Jesus derrotou para sempre, mas que ainda tem liberdade para fazer o mal.
Em uma homilia de alguns dias atrás fez uma advertência: “O diálogo é necessário entre nós, para forjar a paz. Mas com o príncipe deste mundo não se pode dialogar. Nunca”.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Bergoglio, revolucionário a seu modo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU