23 Abril 2013
Anhanguera e Kroton anunciaram ontem uma fusão criando o maior grupo educacional do mundo em valor de mercado. As duas companhias juntas são avaliadas no mercado de capitais em cerca de R$ 12 bilhões - cifra que representa o dobro da segunda colocada, a chinesa New Oriental.
Um ponto que chama atenção é que a transação foi fechada em menos de uma semana. Segundo o Valor apurou, a Anhanguera também negociou com a Estácio, por iniciativa desta, poucos dias antes. Mas as conversas não avançaram.
A reportagem é de Beth Koike e publicada pelo jornal Valor, 23-04-2013.
A transação entre Anhanguera e Kroton ainda depende de aprovação do Cade, que já sinalizou que está mais criterioso nas aquisições do setor de educação. O pedido de fusão será enviado ao Cade dentro de dez dias. O ponto sensível nesta operação é o segmento de ensino a distância. As duas companhias juntas têm cerca de 450 mil alunos (cerca de 45% desse mercado). "Acredito que o Cade vai exigir que se desfaça de negócios de EAD [ensino a distância]. Mas ainda assim vale a pena porque a fusão entre 'players' é um caminho sem volta", diz o consultor em educação Carlos Monteiro.
O analista do Santander, Bruno Giardino, observa que associações entre grandes grupos educacionais são inevitáveis daqui para frente e que o Cade tem se atentado mais para atuações regionais dos grupos de ensino e não nacionalmente. "Na área de ensino, o ponto principal é a atuação regional", disse Giardino. Não à toa, as companhias vão manter as marcas de suas respectivas faculdades.
A associação entre as duas maiores companhias de educação do país deve provocar mudanças importantes no setor e na própria Anhanguera. A nova companhia terá como presidente do conselho o professor Gabriel Rodrigues, fundador da Anhembi-Morumbi e principal acionista da Anhanguera. O presidente executivo será Rodrigo Galindo, filho do fundador da IUNI, adquirida pela Kroton.
O mercado já espera que a Estácio se associe a outro "player" para concorrer em pé de igualdade com Anhanguera e Kroton. Uma das possibilidades é uma fusão da carioca Estácio com grupos internacionais que têm forte interesse no mercado brasileiro como o grupo americano Apollo, que há muito tempo tenta entrar no mercado brasileiro.
A fusão entre Anhanguera e Kroton surpreendeu o mercado, que até o ano passado esperava uma associação com a carioca Estácio. Mas nos últimos meses essa possibilidade começou a arrefecer e recentemente começaram a circular, inclusive, rumores de que a Anhanguera seria vendida até o fim do ano para um outro investidor. "Sempre houve especulação no setor", disse Scavazza. "Uma fusão com a Kroton era descartada porque ela era uma empresa de menor porte até o ano passado", disse o analista do Santander.
A Kroton deslanchou após a compra da Unopar por R$ 1,3 bilhão, em dezembro de 2011. A companhia atingiu meio milhão de alunos neste começo do ano, tornando-se a maior empresa do setor e com uma imagem de que possui um ensino de melhor qualidade em relação a seus concorrentes diretos. Já a Anhanguera, que liderou o setor por muitos anos, vinha perdendo espaço. Uma das dificuldades da Anhanguera foi a integração com a Uniban, adquirida em setembro de 2011 por R$ 510 milhões. "A integração da Uniban consumiu mais esforço do 'management' e intervenções mais severas", disse Giardino, do Santander.
A nova empresa brasileira de educação, cujo nome ainda não está definido, acumula um faturamento anual de R$ 4,3 bilhões e 1 milhão de alunos em cursos de ensinos presencial e a distância.
A composição acionária do novo grupo educacional será de 57,48% de acionistas da Kroton e de 42,52% de sócios da Anhanguera. "Trata-se da fusão de duas empresas com estruturas muito semelhantes, com capital difuso e presença de private equity", disse Ricardo Scavazza, presidente da Anhanguera, que será membro do conselho de administração da nova companhia.
"A nova empresa será a 30ª maior na Bovespa e com certeza vamos compor o Ibovespa", disse Galindo. Ontem, durante conferência a analistas e entrevista a jornalistas os dois executivos trocaram de gravata. Galindo usou uma gravata laranja, cor da Anhanguera, e Scavazza vestiu uma azul, cor da logomarca da Kroton.
A Kroton vai emitir 198,8 milhões de novas ações. O negócio envolve uma troca de ações em que cada 1,36 ação da Kroton representa uma da Anhanguera. Apesar de a Kroton ficar com a maior fatia da nova empresa e ter seu comando executivo, o professor Gabriel, por meio do Fundo de Educação para o Brasil terá forte presença no conselho de administração, de 13 membros, com indicação de dois nomes. O Valor apurou que o professor Gabriel também indicará um dos três conselheiros independentes.
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Fusão cria grupo gigante de educação - Instituto Humanitas Unisinos - IHU