Por: Jonas | 15 Abril 2013
O cardeal hondurenho Oscar Rodríguez Maradiaga, arcebispo de Tegucigalpa, foi designado, pelo papa Francisco, o coordenador do grupo de oito cardeais que irão assessorá-lo na reforma da Cúria Romana, o governo central da Igreja.
A reportagem é publicada no sítio Religión Digital, 14-04-2013. A tradução é do Cepat.
O purpurado, de 69 anos, uma das figuras mais destacadas da Igreja latino-americana, que figurou oito anos atrás entre os papáveis, tem fama de progressista por suas críticas ao capitalismo, à corrupção e a dívida externa que afogava os países da região.
No entanto, sua posição em favor do golpe de Estado de 2009, em Honduras, ofuscou sua imagem não apenas em nível interno, mas também continental, razão pela qual seu nome deixou de se apresentar para papa no conclave de março deste ano, em que saiu eleito o argentino Jorge Bergoglio.
Piloto de avião, amante da música, poliglota, formado pelos salesianos e com habilidades de mediador, Rodríguez Maradiaga enfrenta um importante desafio: ajudar a limpar uma das estruturas mais antigas e poderosas da Igreja. Uma entidade fortemente dividida, marcada por um sistema de “chantagens” internas, tráfico de influências, guerras pelo dinheiro e poder, ambições de carreira, o que desacreditou a entidade, segundo revelações recentes na imprensa italiana.
Francisco pediu ao grupo de oito cardeais, procedentes dos cinco continentes, que estudem “um projeto de revisão” da constituição apostólica, de 1988, que regulamenta a composição dos vários organismos ou ministérios da Cúria Romana, com mais de 2000 funcionários.
Num tweet irônico, o diretor francês da revista católica “La Vie” (A vida), Jean-Pierre Denis, comentou assim a designação do hondurenho: “Vaticano gira à esquerda, anuncia reforma da Cúria coordenada por Maradiaga”.
A mensagem gerou uma onda de reações no mundo católico contra e favor do purpurado, que não se define nem como de esquerda, nem como de direita. Segundo indiscrições do jornal italiano “La Repubblica”, o Papa argentino quer, antes de tudo, mudar a estrutura da maquinaria. “Não se trata de pessoas, mas da estrutura”, denunciaram vários cardeais durante as reuniões prévias ao conclave.
Com as modificações no aparato interno, a Igreja também quer mudar a relação com o mundo externo, com a política, com os leigos e com as outras religiões, sustenta o sociólogo italiano Luca Diotallevi, especialista em história da religião, mencionado pelo jornal.
Enquanto os assessores se concentrarão no estudo das reformas, a Cúria Romana continuará trabalhando e a Secretaria de Estado manterá seu poder e sua função de ligação com os demais Estados. Segundo o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, os oito purpurados não “tomarão decisões”.
Numa recente entrevista para a conhecida página católica “Aleteia”, o cardeal brasileiro Claudio Hummes, franciscano, reconheceu que a reforma é necessária. “Muitos dizem que a Cúria é muito grande, que se fez um retoque aqui, um retoque ali, uma sala a mais aqui, uma comissão a mais lá, esta não tem suficiente prestígio... Todas essas coisas que acontecem numa estrutura assim”, disse.
“A Igreja já não funciona. Toda essa questão ocorrida, ultimamente (ao se referir aos escândalos recentes), mostra que não funciona. E, depois, uma vez feito esse novo desenho, é necessário encontrar as pessoas adequadas para ocupar esses cargos, esses serviços”, advertiu.
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Cardeal Maradiaga, o homem-chave na reforma da Cúria - Instituto Humanitas Unisinos - IHU