07 Abril 2013
De muitas partes chegam rumores dos trabalhos em andamento por parte do Papa Francisco para entrar na questão do governo da Cúria Romana. O que se ouve faz pensar que ele está prestes a iniciar as reformas, sem se limitar àqueles gestos que atraíram a atenção e o afeto em tantas pessoas.
A opinião é do cientista político e leigo católico italiano Christian Albini, em artigo publicado no blog Sperare per Tutti, 06-04-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Assim afirma Maria Galluzzo no jornal Europa do dia 6 de abril:
O seu estilo já o conhecemos: simplicidade e busca do debate, mas também rapidez de decisão e destreza na gestão de pessoas e de tempos. Nessa sexta-feira, depois da costumeira missa na Casa Santa Marta, da qual participaram os empregados da Tipografia Vaticana, ele retomou as conversações com os chefes dos dicastérios que iniciaram nas últimas semanas, quando havia se encontrado com o prefeito da Congregação para os Bispos, Marc Ouellet, e com o das Igrejas Orientais, Leonardo Sandri.
Em primeiro lugar, o papa viu o cardeal Fernando Filoni, prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos. É possível supor alguns dos temas abordados com o purpurado que muitos consideram como um possível sucessor do cardeal Bertone na Secretaria de Estado e que atualmente – donec aliter provideatur – está à frente da histórica "De Propaganda Fide", o órgão que assessora o pontífice na vasta rede das missões no mundo.
Um dicastério – que o Papa Wojtyla quis chamar de Congregação para a Evangelização dos Povos – na vanguarda não só nessa função específica, mas também nas relações com as Igrejas locais, e que nos últimos anos, quando o cardeal Filoni ainda não estava à sua frente, conquistou a atenção dos jornais mais pelos escândalos ligados às suas posses imobiliários e aos entrelaçamentos com uma certa política do que pelo seu papel de presença missionária justamente naquelas "periferias da existência" que são tão caras ao Papa Francisco.
Em uma segunda audiência, o papa recebeu o cardeal James Michael Harvey, arcipreste da Basílica de São Paulo Fora dos Muros. Lá está prevista a visita do Papa Francisco no dia 14 de abril, e é provável que eles tenham falado desse compromisso. Mas também de ecumenismo, do qual a grande basílica é considerada a guardiã. Mas é preciso lembrar que o cardeal Harvey também foi o prefeito da Casa Pontifícia até o momento em que usou a púrpura, no consistório de outubro passado, em pleno Vatileaks. Segundo alguns, tratou-se de um promoveatur ut amoveatur. Em seu lugar, em uma das suas últimas decisões, o Papa Ratzinger colocou Dom Georg Gänswein. Em suma, o cardeal Harvey conhece bem a Cúria e os muitos desastres dos últimos anos.
No terceiro encontro da manhã dessa sexta-feira, o Papa Francisco recebeu Mons. Piero Marini, presidente do Pontifício Comitê para os Congressos Eucarísticos Internacionais, além de cerimonialista pontífice antes do homônimo Mons. Guido Marini.
A escolha de ficar vivendo em Santa Marta também é um sinal de estilo de governo: o de buscar o máximo possível as relações, a escuta e o debate, sem se isolar.
Um colaborador seu de Buenos Aires, Federico Wals, deu a entender que o papa poderia renunciar ao IOR para adotar o método de gestão das finanças adotado na sua diocese.
O futuro Papa Francisco reformou de modo radical as finanças da arquidiocese – explicou Wals – livrando-se das participações no capital de alguns bancos e recorrendo "a bancos de primeira ordem na praça, como HSBC ou UBS" para depositar os fundos da Igreja e aplicando "uma contabilidade meticulosa e um controle muito rigoroso das despesas, com aquela sensação de austeridade visível, concreta, que ele já demonstrou no Vaticano".
Outra análise foi publicada nesse sábado por Francesco Peloso no jornal Secolo XIX.
Sobre os dossiês mais candentes – IOR, abusos sexuais, corrupção, redimensionamento da Cúria, reorganização da Secretaria de Estado –, Bergoglio procederá de acordo com o estilo proposto até aqui: isto é, de um lado, a capacidade de criar uma forte empatia com o povo de Deus; de outro, no entanto, há uma clara discussão da pompa, do poder como fim em si próprio, a chamada "autorreferencialidade" da Igreja e do reconhecimento, ao contrário, da qualidade e da capacidade de serviço. Certa e inevitavelmente, Francisco também terá que fazer alguma mediação, até porque, neste momento, o bispo de Roma precisa especialmente de aliados seguros, de personalidades que conhecem bem os meandros dos palácios vaticanos e saibam aconselhar melhor.
Nesse domingo, enquanto isso, ocorrerá a "tomada de posse" da cátedra de Roma em São João de Latrão, um ato que pode ser bastante significativo e um prenúncio de informações importantes para quem prefere se definir como bispo de Roma em vez de papa. No que diz respeito à Cúria, ao invés, fala-se há muito tempo de uma simplificação dos centros de decisão: em essência, trabalha-se em uma hipótese de nova divisão dos poderes. O papa só teria tarefas religiosas e não mais como chefe de Estado, o que o livraria de incumbências como a de estar, por exemplo, à frente de órgãos como o IOR. Ao contrário, o Governatorato assumiria tarefas mais amplas, incluindo o controle sobre o Instituto financeiro que também poderia mudar sua própria natureza jurídica para se tornar definitivamente um banco.
Ao mesmo tempo, a Secretaria de Estado trabalharia em estreita conexão com o Governatorato, tanto que, de acordo com uma fonte vaticana, "pensa-se também na possibilidade de ter, no fim, um único órgão que reúna ambas as competências". Nesse caso, o presidente do Governatorato, o cardeal Giuseppe Bertello, assumiria um papel central. Para o ministro das Relações Exteriores, continua-se indicando, dentre outros, o nome de Dom Pietro Parolin, hoje núncio na Venezuela. Parolin assumiria o lugar de Dom Dominique Mamberti. Ao contrário, quem poderia continuar no seu posto é o Sostituto para os assuntos gerais, Dom Angelo Becciu, enquanto, para a Secretaria de Estado, a candidatura do cardeal Fernando Filoni continua tendo os seus promotores, assim como a do núncio de Paris, Luigi Ventura.
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Papa Francisco: reformas à vista? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU