03 Abril 2013
Nas grandes redes de televisão e na mídia impressa continua a lua de mel do novo papa com a opinião pública, enquanto na web começam as críticas: são todas de orientação tradicionalista, referem-se geralmente às vestes e à liturgia, mas também à relutância de Francisco ao uso das diversas línguas e a sua preferência pelo título de "bispo de Roma" ao de papa.
A reportagem é de Luigi Accattoli, publicada no jornal Corriere della Sera, 02-04-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Um primeiro conjunto de críticas, as mais imediatas desde a sua aparição na loggia, referem-se às vestes, à cruz, ao apartamento: o fato de que o Papa Bergoglio não quis a cruz peitoral de ouro (ele usa a de ferro que tinha como cardeal), a mozeta vermelha e os sapatos vermelhos, o adiamento da transferência ao Apartamento papal, apesar do fim dos trabalhos de sua atualização.
O site Messa in Latino – que chama Bergoglio de "papa piacione" [puxa-saco] –, no dia 27 de março, comentava assim sobre a informação dada pelo porta-voz vaticano sobre o desejo do papa de continuar morando "por enquanto" em um quarto da Domus Sanctae Martae e de querer almoçar e jantar com os outros hóspedes: "Esperamos apenas que ele não acrescente o seu apartamento no terceiro andar do Palácio Apostólico aos Museus Vaticanos".
Mais sérias são as críticas à novidade que dizem respeito às celebrações litúrgicas, começando pela "bênção silenciosa" aos jornalistas que foram a Roma para o conclave, recebidos no dia 16 de março: por "respeito" – disse o papa – aos não católicos e aos não crentes que estavam entre eles, ele não deu a bênção com a fórmula litúrgica, mas disse que os abençoava "em silêncio".
Mais numerosas e mais preocupadas foram as reservas provocadas pelo lava-pés da Quinta-Feira Santa estendida a dois muçulmanos e a duas mulheres, que ele fez na prisão juvenil de Casal del Marmo. Sandro Magister – um dos mais conhecidos vaticanistas italianos – se referiu no seu site às duas questões e disse que "permanece sem resposta a interrogação" que elas levantam.
O próprio Sandro Magister já havia levantado dúvidas educadamente ainda no dia 19 de março: "Alguns gestos do Papa Francisco acenderam na opinião pública, dentro e fora do catolicismo, más tentações: da liquidação do governo central da Igreja ao desaparecimento do título de papa, do advento de uma 'nova Igreja' espiritual à humilhação da beleza que celebra a Deus, isto é, da simbólica de ritos, vestes, utensílios, edifícios sacros". Magister sempre foi um defensor do cardeal Bergoglio: falava dele como de um papável ainda em 2002, mas pode-se dizer que ele não é um entusiasta dele agora que é papa.
Até mesmo a visita do Papa Francisco ao Papa Bento XVI provocou críticas, ou ao menos foram provocadas pela decisão das autoridades vaticanas de divulgar as suas imagens que mostravam dois papas copresentes e, entre eles, quase indistinguíveis: "Quem é o papa?", perguntou-se Roberto De Mattei no jornal Il Foglio do dia 28 de março: "A coexistência de um papa que se apresenta como bispo de Roma e de um bispo (porque tal é Joseph Ratzinger hoje) que se autodefine como papa oferece a imagem de uma Igreja 'bicéfala' e evoca inevitavelmente as épocas dos grandes cismas. Não se compreende, a esse propósito, a ênfase midiática que as autoridades vaticanas quiseram dar ao encontro dos dois papas no dia 23 de março, em Castel Gandolfo. A imagem que girou o mundo e que o próprio L'Osservatore Romano publicou em primeira página no dia 24 de março é a de dois homens que a linguagem dos símbolos coloca em pé de absoluta igualdade, impedindo discernir de maneira imediata qual deles é o autêntico papa".
A crítica de De Mattei no Foglio é a única crítica verdadeira dirigida até agora ao papa argentino pela imprensa italiana. Mas a rede regurgita censuras. O site tradicionalista Rorate Caeli lembrou que, no lava-pés, devem ser admitidos – segundo as normas litúrgicas – somente "homens escolhidos", e não mulheres nem muçulmanas.
O National Post qualificou a eleição de Francisco como "o enésimo acréscimo à pilha das recentes novidades e mediocridades católicas", alinhado com o meio século que se seguiu ao Concílio Vaticano II. Ed Peters, blogueiro norte-americano, define esse lava-pés como "um exemplo discutível".
O site Cantuale Antonianum repreende o papa por não cantar e, ainda no dia 14 de março, escrevia que "mesmo que o papa se chame Francisco ele não é e não pode ser um simples freizinho que faz exortações evangélicas que jorram no momento".
O site Pontifex – encorajado pela própria denominação –, no dia 30 de março, escreve peremptoriamente: "Ele é bispo de Roma, mas também papa e, portanto, cabeça da catolicidade, seria bom não esquecer disso. O populismo, o pauperismo e a demagogia não surtem efeito".
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As primeiras críticas dos sites conservadores aos ''excessos'' litúrgicos de Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU