26 Março 2013
A simplicidade que pontilha os primeiros dias de mandato do Papa Francisco deu muitas razões de otimismo para muitos católicos que procuram uma Igreja mais humilde. Para outros, eles representaram motivo de preocupação, especialmente entre aqueles que celebram a tradicional missa em latim.
A reportagem é de Brian Roewe, publicada no sítio National Catholic Reporter, 25-03-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A decisão de Francisco de omitir a mozeta, ou capa papal, do seu traje clerical na sua primeira aparição diante da multidão na Praça de São Pedro criou um frenesi de preocupação pelo destino da missa em latim entre os fóruns e seções de comentários de blogs e sites católicos conservadores:
"Este é um dos piores homens possíveis a ser eleito papa se você for um tradicionalista. É totalmente deprimente! O último a sair da Igreja, por favor, desligue a lâmpada de lava."
"Abito piano? Nada de mozeta? Nem mesmo João Paulo II apareceu na sua primeira Urbi et Orbi sem as vestes apropriadas."
"Ele fez referência a si mesmo várias vezes como mero 'Bispo de Roma'. Ele só colocou a estola para a bênção e depois a tirou. Estou chocado."
"Estou simplesmente doente com tudo isso. Os tradicionalistas não têm para onde ir. Eu realmente temo pela saúde da Igreja Católica."
Esses comentários e outros alagaram um post inicial do dia 13 de março anunciando Francisco como papa no blog tradicionalista Rorate-Caeli. Seus autores manifestaram apreensões semelhantes e mais tarde, naquela noite, postaram as opiniões de um jornalista de Buenos Aires, Argentina, compartilhando o seu alerta.
"De todos os candidatos impensáveis, Jorge Mario Bergoglio é, talvez, o pior. Não porque ele professa abertamente doutrinas contra a fé e a moral, mas porque, a julgar pela sua atuação como arcebispo de Buenos Aires, a fé e a moral parecem ter sido indiferentes para ele", disse Marcelo González, que chamou Francisco de "inimigo jurado da missa tradicional", enquanto repreendia suas relações inter-religiosas, sua falta de experiência curial e suas supostas posturas suaves com relação ao aborto e ao casamento gay.
Mas o Rorate-Caeli não foi o único site a temer pelo futuro da liturgia tradicional.
Michael Brendan Dougherty, correspondente nacional do site The American Conservative, alegou, no dia 13 de março, no site Slate.com, que Francisco impediu a adoção da Summorum Pontificum (carta apostólica de 2007 do Papa Bento XVI sobre o uso da forma da missa em latim de 1962) na arquidiocese de Buenos Aires e não implementou as novas traduções do missal.
O escrutínio intensificado do estilo litúrgico de Francisco é um produto de um foco excessivo posto sobre o papa nos últimos anos, disse Adam DeVille, professor de teologia da University of St. Francis, em Fort Wayne, Indiana.
"Sim, ele é o bispo de Roma, que sim, ele tem um lugar especial na Igreja, mas as pessoas precisam deixar de olhar para ele constantemente e assumir que tudo o que ele faz nós precisamos fazer, e que tudo o que ele não faz nós não podemos fazer", disse DeVille ao NCR.
Alguns sites buscaram moderar a resposta candente, incluindo o fórum Catholic Answers, que postou algumas regras para os usuários quando falarem sobre o novo papa. Entre elas: "Não agredir o Santo Padre" nem "falar sobre o seu papado de uma forma negativa, sem dar-lhe uma chance".
Outros seguiram o exemplo do policiamento de comentários, incluindo o blog tradicionalista What Does the Prayer Really Say?.
"Eu peço respeito e decoro quando preocupações ou desacordos forem expressos. Se ocorrer que o nosso novo papa comece a nos levar por um caminho que eu ou você não gostemos, então vamos discutir essas questões enquanto elas ocorrerem. Mas a quanto tempo ele é papa?", escreveu o autor Pe. John Zuhlsdorf no dia 14 de março.
Uma pesquisa no site que questiona sobre as primeiras impressões dos leitores sobre Francisco (em uma escala de 1-10) mostrou que, no dia 18 de março, mais da metade dos entrevistados aprovam o seu novo papa, dando-lhe uma nota 8 ou mais.
O blogueiro católico Taylor Marshall, do blog Canterbury Tales, expressou seu constrangimento com a resposta virulenta entre os tradicionalistas e os exortou a "respirar fundo!" e dar tempo a Francisco e oferecer-lhe suas orações.
"Se vocês realmente estão preocupados, não entre na seção de comentários de um blog. Jejue a pão e água, reze mais o terço, confesse-se mais regularmente, dê esmolas aos pobres", recomendou Marshall, acrescentando: "Realmente, não cabe a nós examinar quais podem ser os futuros erros de um papa que nós ainda não conhecemos".
No site Patheos.com, o Pe. Dwight Longenecker, um padre anglicano que se tornou católico, também encorajou essa perspectiva. As próprias preferências de Francisco a uma missa simples provavelmente refletem o culto mais informal comum na Argentina e região, disse ele, e não um desejo de eliminar a missa em latim.
DeVille concordou, dizendo ao NCR que ele não interpreta o estilo de Francisco como um sinal de que ele pretenda reverter a Summorum Pontificum ou fazer outras mudanças litúrgicas drásticas.
"Eu suspeito fortemente que a sua abordagem é 'viva e deixe viver'. Se as pessoas querem rezar em latim e usar rendas, ótimo, sigam em frente. Se as pessoas não querem isso, querem fazer outra coisa, ótimo também. Ele não me parece ser uma pessoa que queira controlar microscopicamente a vida de todo o mundo", afirmou.
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Eleição do Papa Francisco desperta alerta entre alguns fãs da missa em latim - Instituto Humanitas Unisinos - IHU