Kurusu Ambá: amor, ódio e omissão

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10 Março 2013

"Enquanto a gente está escrevendo ou lendo esse texto, violências, ataques  podem estar acontecendo com essa sofrida comunidade Kaiowá Guarani. Mais do que nunca é importante pressionar o governo para que agilize a identificação e regularização das terras desse povo. Caso coso contrário seremos constantemente surpreendidos com as tristes notícias de violências, mortes, condenações e ameaças", escreve Egon Heck, CIMI-MS, ao enviar o artigo que publicamos a seguir.

Eis o artigo.

Relembro com muito carinho e extrema preocupação, o doloroso caminho dessa comunidade indígena Kaiowá Guarani, na fronteira com o Paraguai, no município de Coronel Sapucaia, campeão brasileiro no ranking de violências.

Já completaram seis anos desde o momento resoluto e crucial da volta à sua terra natal, no tekohá Kurusu Ambá. Depois de décadas de luta e reivindicação de sua terra, a única opção que lhes restou, para exigir do Estado brasileiro o cumprimento  da Constituição demarcando suas terras, foi  voltarem para onde as cruzes sagradas de seus antepassados estavam plantadas. Quando no dia 9 de janeiro de 2007, assassinas armas de fazendeiros e pistoleiros tiraram a vida da Nhandesi Xurete Lopes, iniciou-se a “via crucis” mais dolorosa de uma comunidade Kaiowá Guarani, nas últimas décadas. Já foram cinco vidas ceifadas, vários feridos e um rosário de sofrimento sem fim.

A fome e a incerteza marcaram esses seis anos gerando momentos belíssimos de amor, de solidariedade e de luta destemida pelos seus direitos. A omissão do governo em avançar com urgência, na identificação e demarcação da terra e da justiça em punir os criminosos,  fez com que se gerassem tensões  na comunidade. E agora, quando  buscam um pequeno espaço, dentro do acordo feito na justiça, para oxigenar a esperança e sarar feridas, são novamente ameaçados pelo latifúndio e agronegócio.

A alegria, mesmo em momentos mais difíceis, sempre esteve estampada no face e coração dessa gente sofrida, principalmente das crianças.

Voltam a ser ameaçados, odiados e criminalizados, numa das mais sórdidas violências e ataques à vida e direitos de uma comunidade indígena  no país.

O cinismo do Estado chega ao ponto de levar ao banco dos réus vários membros da  comunidade, numa nítida armação, quando sequer  foram concluídos os inquéritos dos assassinos de Xurete, Ortiz e demais lideranças. A impunidade estimula violência, a omissão gera  tensões, a morosidade é criminosa quando põem em risco a comunidade.