Por: Jonas | 27 Fevereiro 2013
Tem um “papável” que chegou a Roma há alguns dias. Usa o hábito dos capuchinhos e possui uma presença imponente. É um homem de oração, determinado, que há dez anos realizou um milagre impossível: dar credibilidade novamente à Igreja de Boston, destruída pelo escândalo da pedofilia, que obrigou a renúncia do cardeal Bernard Law. Seu nome é irlandês: Patrick O’Malley (foto). Foi missionário nas Ilhas Virgens, trabalhou muito na assistência aos latinos, nos Estados Unidos, e é um incansável defensor da vida.
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada no sítio Vatican Insider, 26-02-2013. A tradução é do Cepat.
O cardeal capuchinho não é um candidato que entrará no Conclave com a expectativa de muitos votos, como poderia acontecer, ao contrário, com o cardeal canadense Marc Ouellet. Trata-se mais de um “outsider”, um candidato surpresa que poderia obter os votos dos eleitores após um entrave na votação.
De alguma maneira, o arcebispo de Boston reúne a Europa e América em sua pessoa. Quando chegou a Boston, que durante uma época foi a fortaleza do catolicismo estadunidense, a diocese estava de joelhos, com os casos de abusos sexuais acobertados, com sacerdotes pedófilos redistribuídos entre as paróquias e em condições de voltar a abusar impunemente. Um desastre: diminuição das vocações, pouca presença na Missa, credibilidade quase nula. O arcebispo chegou sem clamor, com suas sandálias de frei. Começou a escutar e a tomar decisões. Colocou em andamento um caminho de purificação e de regeneração, e agora a situação que há dez anos era insustentável é apenas uma horrível lembrança. Os fiéis voltaram à Igreja, as vocações voltaram.
Nasceu em Ohio, em 1944, e cresceu na Pensilvânia. Fez os votos aos 21 anos na Ordem dos Freis Menores Capuchinhos. Foi ordenado sacerdote em 1970, e foi transferido para Washington, a capital federal, onde ensinou literatura espanhola e portuguesa na Universidade. Três anos depois, criou uma organização de assistência humanitária para os latinos, os prófugos imigrantes de toda a América Latina, o “Centro Católico Hispano”.
Em 1984, foi nomeado bispo na diocese de São Tomás, nas Ilhas Virgens. Em 1992, foi transferido para Fall River, Massachusetts, e em 2007 mudou-se para a diocese de Palm Beach, Flórida. Um ano depois, João Paulo II o enviaria a Boston.
Teve que enfrentar uma enorme quantidade de pedidos de indenização por parte das vítimas de abusos sexuais. Para pagá-las vendeu a sede do episcopado e foi viver numa cela monástica. Combateu profundamente a pedofilia clerical e, sobretudo, escutou as vítimas. Ele mesmo acompanhou algumas delas, em Washington, no comovedor encontro de Washington, em abril de 2008, com Bento XVI. Ele próprio entregou ao Papa a lista com os nomes, sem sobrenomes, de cerca de mil pessoas que sofreram abusos durante as últimas décadas, para que Ratzinger pudesse lembrá-las em suas orações. Ele mesmo criticou ao “entourage” wojtyliano pela má gestão do fenômeno, durante os últimos anos do Pontificado, quando João Paulo II já estava muito doente.
O Papa Ratzinger o fez cardeal e o encarregou de realizar visitas apostólicas na Irlanda para redigir um relatório sobre a gestão dos casos de pedofilia nas dioceses locais.
O’Malley, amigo de muitos purpurados, desde o italiano Scola até o hondurenho Maradiaga, sempre foi um incansável defensor da vida e combateu o aborto. Além disso, tem abençoado muitas manifestações contra os casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Cardeal com uma espiritualidade muito profunda e também com um cintilante sentido de humor, demonstrou com fatos essa capacidade de governar, o que para muitos eleitores é indispensável, pois o novo Papa terá que colocar em ordem a Cúria Romana. Se os cardeais o elegerem, seria o primeiro Papa com barba desde a época de Inocêncio XII, que morreu há 213 anos.
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O’Malley, o “outsider” em vestimentas e sandálias - Instituto Humanitas Unisinos - IHU