18 Fevereiro 2013
Sara Silvestri é professora de Religião e Política Internacional na City University London, associada do Von Huegel Institute (centro de pesquisa para o estudo do papel da religião na sociedade contemporânea), na Universidade de Cambridge, e colunista do The Guardian.
A reportagem é de Claudio Gallo, publicada no jornal La Stampa, 17-02-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
A senhora captou um interessante paralelismo entre os últimos dias do cardeal Martini e os últimos dias de Ratzinger como papa. Pode nos explicar?
O cardeal Martini e o Papa Bento XVI foram capazes de se erguerem no nosso tempo como grandes intelectuais – além de líderes religiosos – apreciados em nível internacional, mesmo fora da Igreja Católica. Mas é conhecida a distância de orientação dentro da Igreja: o primeiro representou uma voz progressista, o segundo, a conservadora. No fim da sua vida, ambos realizaram um gesto radical e de grande simbologia: o cardeal de Milão pediu que os médicos deixassem de lado a obstinação terapêutica e que ele pudesse enfrentar livremente a morte de um modo natural. Bento XVI também destacou a própria humanidade ao reconhecer que a velhice lhe impedia de enfrentar a sua tarefa de pastor da Igreja de modo adequado.
O papado de Ratzinger que começou na sombra do de João Paulo II, com esse gesto, se afasta dele radicalmente: a senhora concorda?
Chamou-me muito a atenção o fato de que o próprio Ratzinger, o protetor por excelência da Doutrina da Igreja, ousou fazer um gesto tão raro e audaz de renunciar ao cargo de papa, redimensionamento, de fato – re-humanizando (se é que se pode dizer) o papel de Pedro (que era justamente um homem mortal e pecador, tão homem a ponto de ter até negado ser seguidor de Cristo quando este foi crucificado). Mas é interessante que, ao abdicar como papa, Ratzinger não agiu fora do cânone e não inventou nada de novo. Ele cavou, digamos, na tradição e trouxe à tona um aspecto do pontificado que havia sido esquecido.
A senhora escreveu que o gesto do papa é uma celebração da liberdade humana: quão fundamental é o conceito de liberdade do indivíduo no cristianismo?
A liberdade é absolutamente central no pensamento cristão. Não é por acaso que esses grandes líderes cristãos do nosso tempo se debruçaram sobre esse tema.
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''Um gesto radical como o de Martini'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU