Por: Cesar Sanson | 18 Fevereiro 2013
Celebrando o dia mundial do rádio, na última quarta-feira, esteve nos estúdios da Associação Latino-americana de Educação Radiofônica (ALER) o ex-diretor do Le Monde Diplomatique e autor do livro A explosão do jornalismo, Ignacio Ramonet, para ser entrevistado por jornalistas de veículos latino-americanos que formam parte do Enlace de Medios para a Democratização da Comunicação. Em uma hora, falou sobre a crise que vivem os meios transnacionais, o poder dos meios latinoamericanos, a importância da rádio e a atualidade midiática na Europa.
A reportagem é de Gustavo J. Fuchs, publicada pelo Enlace de Medios e reproduzida pelo Brasil de Fato, 18-02-2013.
Em sua primeira intervenção, Ramonet enfatizou a importância do rádio. Neste sentido, destacou que o auge das novas tecnologias causou a impressão de que o rádio não é tão importante, o que é uma percepção errada. “Em muitas regiões do mundo onde se chegou a eletricidade existem transistores que podemos montar a mão e permitem a captura de ondas. A rádio segue tendo muita importância em muitas partes do mundo”, afirmou.
Por outro lado, se referiu ao papel dos meios tradicionais frente às novas tecnologias como as redes sociais, os blogs e novos sites de esquerda que têm desafiado o monopólio da informação. “A internet tem feito com que surjam novos atores no campo da comunicação. Os atores tradicionais, hoje em dia, estão menos presentes no campo da comunicação/informação e tem surgido outros como o Google, Facebook, Microsoft ou Twitter”. Mas Ramonet adverte que estes “são suportes que vão condicionar o conteúdo em certa medida”.
A partir da proliferação de fontes informativas na rede, as grandes empresas transnacionais de comunicação entraram em uma profunda crise. “A crise geral está causando uma verdadeira extinção de meios de comunicação. Tiveram que fechar o News of the World; a revista Newsweek fechou faz duas semanas; então vemos que há uma grande crise”.
Os meios na América Latina e na Europa
Ao ser consultado sobre o papel dos meios de comunicação na América Latina, Ramonet caracterizou como 'anormal' o comportamento tanto dos meios comerciais como dos meios púbicos. “Não é normal que lhe deem um caráter profundamente ideológico e que tenham como objetivo essencial a derrocada de governos. Estamos falando do que ocorreu com o periódico ABC Color no Paraguai para derrubar Lugo; o golpe midiático contra Chávez em 2002. Esta atitude dos meios não é normal. Isto não quer dizer que a mídia não tenha o direito de opinar. Do mesmo modo não é normal que os meios públicos sejam meios do governo, por isso estamos vivendo um momento particular na América Latina. Há uma guerra midiática, e nesta guerra não há serenidade nem de um lado e nem do outro”.
Na mesma linha de pensamento, Ramonet afirmou que o papel dos meios públicos e seu posicionamento a favor do governo não pode ser considerado um elemento decisivo em termos eleitorais já que a campanha que fazem os meios de direita – que atuam como um partido de oposição – é permanente.
O diretor da Alai, Osvaldo León, trouxe à conversa o caso do império de Rupert Murdoch, que foi investigado na Inglaterra, onde o informe do juiz Leveson questionou a efetividade da chamada autorregulação midiática. Como bem assinalou León, “isso nunca foi notícia por estes lados. Como esse tema se apresenta na Europa? Está na agenda?
Diante desta interrogação, Ramonet explicou que “o que ocorreu na Inglaterra é que, agora, o próprio David Cameron, um primeiro ministro conservador, planeja um projeto de criar um limite concreto à liberdade de expressão”. Neste sentido, assinalou como o conceito de liberdade de expressão tem sido tergiversado para sustentar uma espécie de direito ilimitado.“O melhor sempre é a autorregulação, é dizer que há alguns princípios que se deve respeitar e que quando esses princípios forem transgredidos, que haja a resposta para isso”, defende Ramonet.
O exemplo da legislação francesa acerca da liberdade de expressão – vigente desde 1881 – foi utilizado pelo entrevistado para demonstrar que em democracias consolidadas existem mecanismos de regulação. “Na França, por exemplo, há uma lei no Código Penal que proíbe insultar um chefe de estado estrangeiro. Imagine se isso se aplicasse em vários países da América Latina com relação a Chávez ou a Fidel Castro, sabendo que aqui, em muitos periódicos de toda a América Latina tratam esses dirigentes de uma maneira perfeitamente desrespeitosa”.
El País, Assange e Chávez
Referindo-se ao diário madrilenho El País, Ramonet descreveu o comportamento do periódico frente ao caso de Julian Assange, o australiano fundador do Wikileaks hoje asilado na Embaixada do Equador em Londres. “Faz um ano, ou um ano e meio que Julian Assange era tratado como um herói. A partir do momento em que o Equador lhe deu asilo diplomático, ele se transformou numa espécie de diabo, e já não volta a falar, porque evidentemente o presidente Correa é a pessoa que obrigatoriamente deve ser criticada, segundo esse diário”.
O caso da falsa foto do presidente Chávez publicada na capa do diário madrilenho também foi aludido pelo ex-diretor do Le Monde Diplomatique, que assinalou: “Claro, dizem que eles ignoravam que era falsa, mas evidentemente se, em sendo falsa, não despenderam o tempo necessário para verificar se era falsa, é porque, em definitivo, tinham o desejo de causar danos. Isso porque levam muito tempo tratando de prejudicar revolução bolivariana, como há tempos tratam de prejudicar a revolução cidadã”.
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“As transnacionais da comunicação estão em crise”, diz Ramonet - Instituto Humanitas Unisinos - IHU