16 Fevereiro 2013
"Bento XVI abriu uma nova estrada. De agora em diante, os futuros papas sentirão o dever de renunciar quando alcançarem uma certa idade". Um Santo Padre revolucionário. Essa é a opinião de John Allen, jornalista e escritor norte-americano, que por quase 20 anos acompanha os episódios papais.
A reportagem é de Deborah Ameri, publicada no jornal Il Messaggero, 15-02-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Vaticanista da CNN e do National Catholic Reporter, é autor de duas biografias de Ratzinger e é a voz mais autorizada dos EUA em matéria pontifícia. No entanto, ele também, assim como todos, foi pego no contrapé por essa renúncia.
Eis a entrevista.
Surpreso?
Chocado, eu diria. Naquela manhã, eu estava em Roma, no Farnesina [sede do Ministério das Relações Exteriores da Itália]. Devia dar um discurso. A BBC me telefona e me pede informações sobre um boato de que o papa estaria para sair e eu respondo: bobagens! Pouco depois, o Vaticano fez o anúncio.
O gesto de Ratzinger pode ter danificado a Igreja e a imagem do sólio pontifício como alguns pensam?
Eu não acredito. Claro que, por algum tempo, será estranho ter um papa no cargo e um ex-pontífice em repouso. Mas, há 100 anos, era estranho que os bispos se aposentassem. Depois, tornou-se um costume. E eu acredito que, no futuro, será assim também para os papas. Esse é o início de uma transição. Um dia, todos vão esperar que o Santo Padre, tendo alcançado os 75-80 anos, deixe o trono de São Pedro.
Esse conclave inevitavelmente será diferente dos anteriores. Sobre o que os cardeais se focarão?
O conclave votará pela mudança. Com a morte de João Paulo II, a Igreja havia sido inundada de afeto e de amor. Era um papa muito estimado, e, à época, os cardeais quiseram aproveitar aquele momento positivo e optaram pela continuidade elegendo Ratzinger. Desta vez, a atitude será muito diferente.
O que você prevê?
Será um conclave mais aberto às novidades e mais crítico. Mas não esperem que se mude de ideia sobre o casamento gay, as mulheres-padre e o aborto. Estes cardeais, no fundo, foram eleitos por Wojtyla e por Ratzinger. Mas darão alguma sacudida. Provavelmente vão optar por um pontífice mais jovem, não europeu, não ocidental, uma figura mais popular e menos acadêmica, um papa menos abstrato e mais prático que se ocupe diretamente do governo da Igreja e da administração vaticana. Duas tarefas das quais Ratzinger não esteve à altura.
O que o novo pontífice deverá fazer em primeiro lugar?
Implementar uma séria reforma da cúria para dar uma resposta forte ao escândalo da pedofilia. Os cardeais acreditam que Bento XVI já fez muito sobre essa questão. Mas evidentemente não o suficiente.
Foi também por isso, talvez, que ele sentiu a necessidade de sair?
Acredito que as principais razões sejam a idade e a saúde. Mas, certamente, os escândalos, como o Vatileaks, o IOR e os padres pedófilos o amarguraram. E trouxeram à tona todos os problemas da Igreja de hoje. Bento XVI entendeu que não será ele o homem capaz de resolvê-los.
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''De agora em diante será inevitável que os papas renunciem ao alcançar certa idade'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU