15 Fevereiro 2013
Nos dias seguintes, da discrição hermética do apartamento papal começam a vazar alguns elementos que ajudam a entender a decisão extraordinária de Bento XVI e os mecanismos que o levaram àquela que uma pessoa próxima a ele não hesita em definir como "uma decisão traumática" para a Igreja.
A reportagem é de Marco Tosatti, publicada no jornal La Stampa, 13-02-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O pensamento da possibilidade de renunciar estava na mente do papa como possibilidade há algum tempo, mas essa reflexão se concretizou de maneira definitiva, segundo quem o conhece, em torno da Epifania. O detonador foi a conscientização de um progressivo, mas contínuo, enfraquecimento das suas forças.
Já desde o verão passado, observa-se, o ritmo das audiências se diluiu muito. Nas visitas ad limina, foram cortadas as conversas com os bispos individuais, para não cansar Bento XVI. E, embora tenha estado presente durante o Sínodo dos Bispos do outono europeu, muitas vezes ele parecia exausto.
A decisão foi amadurecida sem consultar ninguém. Os primeiros a serem informados foram – há cerca de 20 dias, segundo as nossas informações – o cardeal secretário de Estado, Tarcisio Bertone, e o secretário particular, Dom Georg Gänswein. Posteriormente, o cerimonialista do papa, Mons. Guido Marini, foi posto a par do segredo; e, finalmente, há três dias, o ex-secretário de Estado e decano do Sacro Colégio, o cardeal Angelo Sodano.
Já se falou sobre os problemas físicos do papa ; o coração, a pressão em certos momentos quase fora de controle, o quadril e o joelho, o temor de que pudesse se repetir o derrame que o atingiu em um verão do início dos anos 1990 em Bressanone, enquanto estava de férias no seminário diocesano com o seu irmão Georg. Mas quem o conhece também fala de uma característica sua, que o acompanhou durante toda a sua vida, isto é, a tendência a somatizar problemas e dificuldades da Igreja. E também do seu desejo de ver implementadas algumas reformas, mas que ele não conseguiu pôr em obras.
Há quem pense que ele se sentiu um pouco sufocado e não suficientemente apoiado e garantido em particular no que se referia ao governo da Igreja. Ele conhece a fidelidade do secretário de Estado, Bertone, mas se sentiu cada vez mais exposto justamente naquele que era o seu (do papa) lado fraco, ou seja, o governo.
Bento XVI estava bem consciente de que a primeira reforma necessária seria a da Cúria Romana, onde a sistematização de Paulo VI começa a mostrar todo o peso dos anos. Mas ele não foi capaz de organizá-la, e esse é um arrependimento. Assim como não teve a energia, e os instrumentos "políticos" necessários, para implementar a reforma das conferências episcopais, que já assumiram um poder tal a ponto de muitas vezes pôr em dúvida o papel de Roma. Quando era cardeal, ele falou longamente sobre esse problema, mas como papa não conseguiu enfrentá-lo e se sentiu prisioneiro de mecanismos que não conseguia modificar.
Ele realizou muitas coisas como Magistério e também na liturgia. Mas foi posto em cima dele – e ele viveu isso com desconforto – uma parte do manto de João Paulo II, com comportamentos e compromissos que não lhe eram agradáveis, que o cansaram física e psicologicamente. E, por fim, houve a Comissão sobre o Vatileaks.
Sobre esse ponto, não há achados pontuais, mas pessoas próximas a ele estão convencidas de que Bento XVI ficou profundamente ferido, psicologicamente, até mesmo com um efeito de prostração a partir do quadro que a Comissão dos três cardeais lhe apresentou sobre o estado da Cúria Romana. Agravado pela emergência de problemas contínuos de gestão, que evidenciavam uma crise de capacidade de governo.
Do San Raffaele ao IOR, até a questão do IDI [Istituto Dermopatico dell'Immacolata] destes dias. Um crescendo que o convenceu da necessidade de confiar a Igreja a mãos menos gastas e cansadas do que as suas.
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A reforma fracassada da Cúria e as últimas angústias do papa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU