''Debater com os teólogos pode não ser tão produtivo''. Entrevista com Thomas Weinandy

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12 Fevereiro 2013

O chefe cessante do escritório dos bispos dos Estados Unidos encarregado de defender a doutrina da Igreja disse que, embora pense que "há uma grande esperança" de que os bispos trabalhem em conjunto com alguns teólogos norte-americanos, as tentativas de trabalhar com outros "pode não ser tão produtiva".

A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada no sítio do jornal National Catholic Reporter, 06-02-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Em uma entrevista exclusiva no dia 31 de janeiro, o padre capuchinho Thomas Weinandy refletiu sobre os seus oito anos como o membro-chave da comissão de doutrina dos bispos, que durante o seu mandato emitiu repreensões públicas contra cinco teólogos proeminentes dos EUA.

Weinandy, que é diretor-executivo do Secretariado de Doutrina dos bispos desde 2005, planeja deixar o cargo em agosto.

De Austin, Texas, onde participava de discussões ecumênicas com os líderes de várias denominações protestantes, Weinandy abordou o seu envolvimento com as críticas teológicas, a sua compreensão de como a teologia se desenvolve ao longo do tempo, e o que ele vê no horizonte da comissão dos bispos.

A Comissão de Doutrina dos bispos dos EUA, composta de nove prelados norte-americanos, mudou de liderança em novembro passado: do cardeal Donald Wuerl, de Washington, ao arcebispo John Nienstedt, de St. Paul-Minneapolis.

Citando a sensibilidade do trabalho da comissão, Weinandy respondeu a muitas perguntas com pouca elaboração.

Eis a entrevista.

Você está no secretariado desde 2005. Quando você começou, que tipo de ideia você tinha sobre o que queria fazer?


Em primeiro lugar, eu assumi o cargo para servir os bispos. Por isso, eu não tinha nenhum tipo de agenda ou algo do tipo. Eu não tinha certeza do que tudo isso implicava. Eu assumi principalmente porque eles me pediram para assumi-lo.

Como as coisas começaram a entrar em foco? Como você desenvolveu um caminho para o que queria fazer?

Para ser honesto, as coisas vêm até nós. Normalmente, nós não buscamos as coisas. Fizemos um documento sobre a recepção digna da Comunhão e outras coisas, mas a doutrina não é muito pró-ativa.

A Ir. Mary Ann Walsh, das Irmãs da Misericórdia, diretora de mídia da Conferência dos Bispos dos EUA, fez a descrição do trabalho oficial para o seu papel, que é ser um padre que "supervisiona, dirige e administra o Secretariado de Doutrina". Isso é bastante amplo. Como você interpreta isso?

Quando surgem problemas, eu, minha equipe e consultores externos damos informações para a comissão. E a comissão nos pede para fazer coisas. Grande parte disso é fazer pesquisa, transmitir informação, dar-lhes coisas que eles devem ler e olhar. Isso é grande parte do que fazemos. Lidamos com muitas questões morais médicas ao longo do meu tempo lá, com células-tronco, esse tipo de coisa. Claro, você conhece as questões doutrinais com as quais nós lidamos.

Você esteve lá por oito anos, quase nove. Qual você consideraria como a sua maior conquista? De que você mais se orgulha?

Eu acho que eu tentei servir os bispos e a comissão o melhor que pude. Isso é o que basicamente me deixa feliz. Eu acho que fiz um trabalho bastante bom. Ao menos, pelo que pude perceber, eles sempre ficavam bastante feliz com a forma como eu os ajudava. Essa é a principal coisa que me deixa feliz. É um trabalho muito importante. Nem sempre muito empolgante, mas um trabalho muito importante.

Nem sempre muito empolgante?

Não é como lecionar. Lecionar era um trabalho muito mais empolgante em muitos aspectos, estar em sala de aula e ensinar os alunos.

O que você achava mais empolgante em lecionar?

Você lida com questões e assuntos teológicos. E ajuda os alunos a compreender coisas, a entender o significado dos assuntos, das questões – que coisas funcionam, por que a fé é importante. Quando você fala sobre a encarnação, você está falando de algo que é muito, muito maravilhoso. Ou Trindade. É algo maravilhoso ser capaz de falar sobre a Trindade.

Os professores, especialmente acadêmicos como você, também debatem entre si, publicamente e em críticas por escrito. Qual é a sensação de passar dessa arena da academia para a comissão de doutrina, onde pode haver uma dúvida sobre quem tem a palavra ou a autoridade final?

Quando você está em sua sala de aula, obviamente você não pode ensinar o que quiser, mas você tem um pouco mais de liberdade para fazer isso. Considerando o fato de ser o diretor-executivo para a doutrina, a sua principal responsabilidade é ajudar os bispos a cumprir o seu papel como bispos. Mas eu nunca tomei quaisquer decisões finais sobre qualquer coisa no secretariado.

Gostaria de citar um teólogo alemão do século XIX chamado Johann Sebastian von Drey. Ele escreveu que um teólogo é acusado de "desenvolver a tradição para além do seu estado atual para que possa encontrar novas questões, necessidades e circunstâncias". Você já esteve em ambos os lados agora, na academia e no secretariado. Como você vê isso? Por que os teólogos são acusados de desenvolver a tradição?

Eu acho que isso é muito importante. Sabemos que a tradição se desenvolve dentro da Igreja, e nós temos intuições melhores ou novas, ou expandimos o que já sabemos. Mas, ao fazer isso, você nunca nega a verdade fundamental da fé, de que qualquer que seja o desenvolvimento ele ajuda a trazer a uma luz mais forte e a uma maior beleza o que já sabemos que é verdade. Mas nunca é uma negação ou uma mudança do que já sabemos que é verdade. Eu acho que o cardeal John Henry Newman foi bastante claro sobre isso em seu desenvolvimento da doutrina. Você nunca vai chegar a uma situação em que você diz que Jesus é Deus ou homem durante 1.500 anos e, em seguida, decide que ele não o é. Isso não é um desenvolvimento. Isso é o que a Igreja diz, não o que eu digo.

Você acha que se espera que as pessoas do secretariado para a doutrina desenhem linhas demarcatórias quando um desenvolvimento foi longe demais?

Eu não acho que o diretor-executivo do secretariado para a doutrina demarcar quaisquer linhas. Eu acho que o que ele faz é apresentar questões que os bispos trazem para a equipe. E nós alimentamos os bispos, juntamente com o seu próprio estudo e leitura, com várias questões, cenários possíveis, formas de olhar para isso, possíveis respostas. Mas eu nunca demarquei linhas. Em grande parte, eles dirigem perguntas para nós. Eles trazem preocupações para a mesa, ou alguém traz preocupações para a mesa, e então nós pesquisamos e lhes entregamos o que encontramos, lhes damos coisas para ler, para estudar, para olhar.

Durante o seu mandato, houve críticas à comissão por parte de teólogos e de suas sociedades pela sua crítica aos teólogos. Como você responde às pessoas que dizem que, durante o seu período, o secretariado parecia contraditório ou antagônico?

Se é assim que eles se sentem, e é óbvio que é assim que eles se sentem, isso é lamentável. A comissão, eu acho, só pensava que estava cumprindo as suas responsabilidades quanto ao que deveria fazer como bispos e como comissão.

Uma coisa que é mencionada quando eu converso com os teólogos é se a comissão busca o diálogo com os teólogos quando o trabalho deles é questionado.

Sim, mas você só conversa com alguns teólogos.

Eu não acho que esse seja o caso. Contatei muitos teólogos, incluindo consultores da comissão dos bispos, e nunca recebi respostas deles.

Os consultores não vão responder a você, porque eles sentem que estão em uma posição privilegiada para dizer uma coisa ou outra. Obviamente, se eles dissessem: "Tudo está muito bem e excelente", você não acreditaria. Eu não acho que é justo esperar que eles digam qualquer coisa.

Bem, não há dúvida de que muitos teólogos gostariam que houvesse mais cooperação com eles.

Bem, eu gostaria de apontar para o encontro que tivemos com jovens teólogos sobre a nova evangelização em 2011. Ele foi muito bom. Teremos outro encontro em setembro próximo. Enquanto eu e minha equipe fizemos o trabalho de campo, a fonte dessa ideia foi o cardeal Wuerl. Ele a trouxe à comissão, e a comissão achou que era uma ótima ideia.

Como você vê o trabalho conjunto dos teólogos e bispos no futuro?

"Teólogos" é uma categoria muito ampla de pessoas. Eu acho que há uma grande esperança pelo trabalho em conjunto com alguns teólogos, e com os outros pode não ser tão produtivo. É difícil dizer. Os teólogos não são um grupo monolítico. Eu adoraria ver a cooperação, e eu acho que há bastante cooperação entre bispos e teólogos, mas obviamente isso não é verdade com todo o grupo. Mas isso seria de se esperar em qualquer situação.

Que conselho você daria ao seu sucessor sobre essa questão?

Eu não sei quem vai ser, mas eu acho que ele vai ter que vir e aprender ao longo do tempo, assim como eu aprendi ao longo do tempo. Vou dizer a ele que o trabalho com os bispos na comissão de doutrina foi uma grande alegria para mim.

Além dos teólogos, eu conversei com um grande número de pessoas que trabalharam na Conferência ao longo do seu mandato. Uma coisa que veio à tona algumas vezes nas conversas é que, durante o seu período no secretariado, houve algum envolvimento do seu escritório na crítica do Vaticano à Leadership Conference of Women Religious. O que aconteceu nesse caso?

Se fizemos isso ou não, eu não posso dizer nada sobre o que Roma pode ter pedido que qualquer pessoa da Conferência fizesse. Se Roma quer que isso seja conhecido, eles podem. Mas eu não tenho autoridade para falar sobre coisas com as quais Roma está lidando.

Olhando para a questão dos teólogos e outros problemas, parece que o trabalho envolve situações adversas ou mesmo um pouco de tumulto. Isso apenas faz parte do trabalho?

O ponto principal da comissão de doutrina, eu e minha equipe é promover o ensino da doutrina da Igreja no mundo, por isso ela tem um núcleo muito positivo. A questão toda é ajudar a fomentar a verdade da fé e ajudar os bispos a fazer isso. Mas, obviamente, pode haver situações em que os bispos acham que isso não está sendo muito bem feito. Nesse ponto, pode haver algum desacordo ou tensão, mas são os bispos que discernem se a doutrina está sendo promovida ou não. Eu acho que São Paulo também teve um problema com isso às vezes. Ele foi um grande proclamador do Evangelho, mas não ficava feliz com o que todo mundo dizia.

As qualificações para o seu sucessor, tal como constam na descrição da função, são bastante rotineiras: um doutorado em teologia, experiência pastoral e afins. Além disso, o que uma pessoa nessa função precisa?

Eu acho que ela deve ser capaz de trabalhar com um grande número de pessoas. Você tem que trabalhar com os bispos em sua comissão, e então você tem que trabalhar com os bispos em outras comissões. Você lida com um grande número de bispos, por isso você tem que ser capaz de trabalhar com todos eles. E também tem todas as pessoas presentes na Conferência com as quais você trabalha diariamente. Você precisa ser bastante flexível. Você não pode ter uma atitude do tipo: "Vai ser do meu jeito". Caso contrário, desde o início, você não vai ser feliz.

A descrição da função é bastante específica, dizendo que o papel deve ser preenchido por um padre. Você acha que um leigo poderia fazer o trabalho?

Eu não sei. Quando eu olho em volta, vejo há muitos grandes teólogos leigos. E, provavelmente, neste momento, há teólogos leigos muito mais sábios e mais competentes do que clérigos. Mas haveria uma discordância para definir quem são esses leigos. Em certo sentido, ele provavelmente deve ser um padre, porque muitas vezes você lida com questões que têm um tipo de natureza muito sensível. E você lida com o público, e eu acho que lidar em público e ser padre lhe dá um pouco mais – provavelmente de modo errado – credibilidade, de certa forma. Falsamente, às vezes, talvez. Em certo sentido, um leigo poderia ter tanta credibilidade quanto um padre, mas quando você fala sobre o ensino, a doutrina e a moral da Igreja, provavelmente ajuda se você estiver em um posto público, um padre.

Uma mulher poderia desempenhar esse papel?

Eu suponho que se um leigo poderia, isso diz respeito a ambos os gêneros. Mas, como eu disse, eu concordo que, provavelmente, o melhor seria um padre.

Voltando aos teólogos novamente: duas das sociedades teológicas – a College Theology Society e a Sociedade Teológica Católica dos Estados Unidos –, em certo momento, criticaram a comissão durante o seu mandato. O que é preciso fazer em termos das relações da comissão com essas sociedades?

Eu acho que eu não quero me manifestar, porque não cabe a mim determinar ou sugerir publicamente o que poderia ser feito. São os bispos que determinam isso e que tornam público o modo como veem que as coisas deveriam desenvolver e progredir. Não cabe a mim dizer publicamente como eu acho que eles deveriam desenvolver e progredir.

O seu antecessor imediato, Mons. John Strynkowski, é agora pároco no Brooklyn, Nova York. O antecessor dele é agora arcebispo e trabalhou em duas congregações vaticanas. Falando em tom de brincadeira, os capuchinhos são uma espécie de matéria-prima episcopal em alta nestes dias. É assim?

Como eu poderia saber? Eu vou voltar para a academia; ao menos é o que eu penso agora. Vou tirar um ano sabático e depois espero que, em agosto de 2014, eu tenha um posto acadêmico em algum lugar. Eu pretendo escrever, assim como outras coisas.

Há algum assunto específico sobre o qual você pretende escrever?

Há muito tempo, um grande número de pessoas sugeriram que eu escrevesse um volume único sobre teologia sistemática. E eu tenho pensado muito nisso, ao menos na minha cabeça, há um bom número de anos. Então pensei que eu deveria tentar, passando pelas várias doutrinas e pela forma como elas se encaixam.