18 Janeiro 2013
“Minhas palavras são insuficientes para expressar ao senhor que bendito tesouro é encontrar as missas do Soho”, escreve um jovem, participante das Missas celebradas no bairro Soho, em Londres, em carta enviada ao arcebispo de Westminster, Vincent Nichols, em 2011.
A carta (1) é publicada pela revista The Tablet, 12-01-2013. A tradução é de Luís Marcos Sander.
Eis a carta.
Prezado Arcebispo Vincent:
Espero que esta carta o encontre bem e o senhor não a considere uma intrusão. Escrevo para compartilhar com o senhor minha caminhada pessoal.
Nasci numa família católica devota que compartilhava uma quantidade generosa de seu tempo e seus recursos na Igreja. Minha formação inicial foi moldada por escolas católicas. O catolicismo, ou ao menos a percepção de pertencer à Igreja, permeia as fibras do meu ser.
Mas, aos 18 anos, com um peso no coração, deixei a Igreja Católica porque achei que ela não tinha espaço para uma pessoa gay como eu.
Passei o resto da minha adolescência e até os 20 e poucos anos procurando em outras igrejas o Deus que eu tinha encontrado na Igreja Católica. Quase fui batizado como “cristão renascido”, mas caí fora na véspera da cerimônia porque não consegui largar meu batismo católico. Mais tarde flertei com o ateísmo, mas isso também não durou. Pouco a pouco, encontrei o amor e a aceitação que eu buscava junto a uma comunidade jesuítica em Washington DC. Não tenho como lhe contar o quanto isso me deixou feliz e fez brotar lágrimas dos meus olhos.
Minhas palavras são insuficientes para expressar ao senhor que bendito tesouro é encontrar as missas do Soho em Londres. Isso me permitiu examinar a minha fé e, com isso, aprofundar meu relacionamento com Deus. Essa espiritualidade recém descoberta era algo que eu queria compartilhar, e assim, junto com outras três pessoas, fundei o Grupo de Jovens Adultos das Missas do Soho. O grupo passou por uma evolução, passando de algo que era inteiramente social para algo onde jovens católicos gays podem aprofundar sua fé juntos e apoiar-se mutuamente. Vivendo numa cidade em que a religião é, muitas vezes, menosprezada ou desaprovada, ater-se à nossa moral católica pode ser um desafio. O Grupo de Jovens Adultos oferece um meio de obter apoio.
Neste ano nos reunimos para uma sessão que chamamos de “Francos e Livres”, em que discutimos o que significa para nós sermos jovens, gays e católicos. Nós tínhamos tanta coisa a dizer que, após a primeira reunião, decidimos fazer mais duas para discutir quais são, afinal, nossas responsabilidades para com a Igreja, e o que nós, como católicos gays, podemos fazer pelas pessoas que não vão à igreja, especialmente as que frequentam os bares do Soho.
Estamos cientes de que provavelmente somos o único grupo de católicos que não são estranhos aos bares do Soho e, como tais, temos provavelmente as melhores condições de mostrar que a Igreja Católica não é a instituição intolerante que muita gente naqueles bares pensa que ela é, e que ao menos na Warwick Street todo o mundo é bem-vindo.
Em outubro, membros do Grupo de Jovens Adultos foram para um retiro no Priorado de Aylesford. Para muitas das pessoas que participaram, essa foi sua primeira experiência de retiro. Fomos calorosamente acolhidos pelo priorado e pretendemos ir para lá de novo no próximo ano. Outros planos para o ano que vem incluem uma peregrinação, mais oficinas espirituais, mais sessões do tipo “Francos e Livres” e mais obras de caridade.
Agradeço-lhe pelo apoio diocesano às missas do Soho. Sei que todos os integrantes do Grupo de Jovens Adultos são gratos ao senhor por isso. Muitas pessoas se opõem a essa iniciativa pastoral da sua diocese e gostariam que ela acabasse. Não entendo como elas conseguem recusar uma pessoa que vem de livre e espontânea vontade ao altar.
Espero que o senhor ache esta carta útil. Irei lembrar-me do senhor nas minhas orações.
Nota:
1.- O autor pediu que seu nome não fosse revelado. Alguns detalhes da carta foram alterados para proteger sua identidade.
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As Missas no Soho são "um bendito tesouro" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU