14 Janeiro 2013
Um gigantesco mausoléu, de 2.300 metros quadrados de área e altura de um prédio de 17 andares, está à espera de Hugo Chávez para ser inaugurado em Caracas. A obra, orçada em US$ 140 milhões, foi idealizada pelo presidente da Venezuela para guardar os restos mortais do herói Simón Bolívar, e sua inauguração já sofreu quatro adiamentos - o último por conta da doença presidencial.
A reportagem é de Fabio Murakawa e publicada pelo jornal Valor, 14-01-2013.
Chávez está internado desde o início de dezembro em Cuba para o tratamento de um câncer, o que levou à polêmica decisão da Justiça de adiar indefinidamente sua posse para um novo mandato, na semana passada. A data prevista para a inauguração do mausoléu era 17 de dezembro do ano passado, coincidindo com o aniversário da morte de Bolívar, mas o presidente havia viajado dias antes para Havana. Segundo a imprensa local, o governo aguarda o retorno do líder bolivariano ao país para, finalmente, inaugurar o "Mausoléu do Libertador".
As incertezas sobre o real estado de saúde do presidente, porém, vêm alimentando um rumor que tem deixado antichavistas de cabelo em pé: o de que a obra teria, na verdade, sido projetada para abrigar também os restos mortais de Chávez. Essa "teoria da conspiração" começou a se espalhar por meio de blogs opositores, em meados do ano passado, e ganhou eco na imprensa dentro e fora do país.
Em junho último, o colunista Mario Villegas, do jornal "2001", propôs que a Assembleia Nacional criasse "uma lei mediante a qual fique absolutamente proibido sepultar nesse monumento, agora ou no futuro, qualquer outra pessoa que não seja Simón Bolívar".
Ludmila Vinogradoff, correspondente do jornal espanhol "ABC" em Caracas, chegou a reproduzir trechos do blog opositor S.O.S. Chávez, que diz ter em sua posse "documentos secretos do governo" confirmando que o presidente planeja que seu próprio corpo descanse ao lado do herói da independência do país.
Já a revista colombiana "Kien & Ke" foi mais longe. Citando "fontes próximas" ao presidente, afirma que "Chávez já conhecia a gravidade de seu estado de saúde e pensava em sua própria morte quando ordenou a construção do mausoléu.
"Esse é um boato que nós escutamos faz tempo e que, se for confirmado, será um verdadeiro absurdo", disse ao Valor Juan de Dios Sánchez, presidente da Sociedade Bolivariana da Venezuela, entidade fundada em 1842 para preservar a memória de Simón Bolívar. "Ninguém deve ser enterrado ao lado de Bolívar, muito menos um presidente rejeitado por quase metade da população", afirmou.
Procurado pelo Valor, Francisco Sesto, ministro para a Transformação Revolucionária da Grande Caracas, órgão responsável pela obra, não foi localizado.
Arquiteto de formação, Sesto tem tido muito trabalho para defender o projeto da enxurrada de críticas de que vem sendo alvo desde seu anúncio. Segundo opositores, o mausoléu idealizado por Chávez, além de caro, é uma aberração arquitetônica. Seu estilo moderno, semelhante a um enorme barco a vela, e o tamanho desproporcional seriam uma agressão às construções coloniais que caracterizam a região de Altagracia.
A principal dessas edificações é justamente o Panteón Nacional, uma igreja erguida em 1780 onde se encontram atualmente os restos mortais de Bolívar. Além do herói, repousam ali mais de 140 outros personagens históricos da Venezuela. Sánchez afirma que o Mausoléu do Libertador será um prédio anexo ao Panteón, que lhe servirá de saguão, e a atual tumba de Bolívar está a exatos 40 metros do altar onde seus restos serão depositados.
Em declarações à imprensa, Sesto tem defendido a obra comparando-a à Torre Eiffel, que também foi criticada em Paris à época de sua inauguração, em 1889, mas que, segundo o ministro, hoje é tratada como uma das maravilhas do mundo moderno. "Assim será com o Mausoléu do Libertador", afirmou Sesto.
Segundo um informe da Presidência, a obra terá 50 metros de altura, e em sua estrutura foram usadas 2.900 toneladas de aço, "quase a metade da Torre Eiffel". O edifício é coberto por cerâmica branca, e o piso será de granito negro. A urna mortuária será totalmente translúcida, feita de cristal. E, sobre ela, ficará uma chama, que jamais se apagará.
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Mausoléu espera volta de Chávez para inauguração - Instituto Humanitas Unisinos - IHU