14 Janeiro 2013
O presidente da Pastoral Social da Igreja Católica, Manuel Vial, instou junto às autoridades que seja outorgado o reconhecimento constitucional ao Povo Mapuche e “assim dar-lhe um lugar que lhe permita dialogar de igual a igual com todos e poder também aportar [e/ou contribuir] à nossa sociedade”.
A informação é publicada por Religión Digital, 09-01-2013. A tradução é de Benno Dischinger.
Através de uma carta, este setor da Igreja questionou a invocação à Lei Antiterrorista e ao aumento da dotação policial na zona de conflito. “Lamentavelmente, nenhum governo tem sabido abordar o tema, o que estamos vivenciando não se resolve com militarização, se resolve com inteligência ativa, com encontros, diálogos, com políticas que levem a valorizar e conhecer o povo mapuche. Nós bispos o expressamos em nossa última Carta Pastoral”.
O padre faz um chamado para desmistificar a falsa imagem que se tem sobre os mapuche, já que, ao seu juízo, “os chilenos somos muito racistas e classistas. Por isso, o principal é educá-los para conhecer o que significa conviver com o povo mapuche, quais são seus costumes e necessidades”.
Nessa linha, Vial agregou que “é preciso fazer um esforço por conhecer o que significa este povo para o Chile, sua história e como podemos fazê-los partícipes de um modelo intercultural, reconhecendo que são parte do país. Na Araucanía, há outra sociedade, outra cultura, distinta da que se conhece em Santiago e é fundamental tomar em conta essa realidade”.
Finalmente, a Pastoral Social faz um chamado a “envolver-nos neste tema e trabalhar por buscar os caminhos da paz que nos permitam obter de uma vez a sã convivência que necessitamos como filhos de Deus”.
Um novo atentado incendiário se registrou em região chilena de La Araucanía. Este é o primeiro após uma pausa de 48 horas nessa zona, a quase 700 quilômetros ao sul de Santiago, após vários incêndios premeditados ocorridos ente sexta-feira e sábado passados, num dos quais morreu calcinado em sua casa o casal integrado por Werner Luchsinger, de 75 anos,e Vivian Mackay, de 69.
A morte de ambos levou o Governo a pedir que os responsáveis sejam processados pela lei antiterrorista e a aumentar ainda mais o já numeroso contingente policial espalhado na região, onde se arrasta há vários anos o chamado “conflito mapuche”. A reclamação por parte de algumas comunidades de terras, que consideram ancestrais e que estão em mãos de empresas agrícolas ou florestais tem marcado uma crescente atividade de grupos que optaram pela violência para sustentar essas demandas.
Declaração da Missão Mapuche da Companhia de Jesus
Junto à dor da família Luchsinger-Mackay, os jesuítas rechaçam a violência e reafirmam o seu chamado ao diálogo e a evitar que se criminalize todo o povo mapuche.
Eis íntegra da declaração:
“Desde Tirúa, nós jesuítas e colaboradores que caminhamos em solidariedade junto às comunidades mapuche voltamos a manifestar nosso total repúdio à violência e reafirmamos nossa vocação de diálogo e de paz.
Fazemos parte da dor da família Luchsinger-Mackay de Vilcun. Muitas famílias mapuche e não mapuche têm sofrido a morte de seus entes queridos no contexto deste conflito nos últimos anos. Reiteramos nosso chamado ao diálogo e à reparação histórica como único caminho que estabelecerá uma paz duradoura. Pedimos celeridade e clareza na busca dos responsáveis por este cruel atentado, evitando criminalizar todo um povo. Assim também pedimos que o Estado do Chile demonstre o mesmo rigor e a mesma força na condenação de toda violência e de todo assassinato em Arauco e em Araucanía.
Temos expressado em diversas ocasiões nossa solidariedade com as justas demandas do povo mapuche. Nossos bispos o tem expressado de igual forma em sua última carta pastoral. Temos repetido, uma e outra vez que, enquanto não se atendam às raízes históricas de dita demanda, não encontraremos caminhos de justiça que assegurem a paz. Vemos com preocupação que os caminhos para uma solução às origens históricas deste conflito são o grande ausente do debate, aumentando a dor dos que esperam há muitos anos.
Condenamos novamente o uso da violência e o atentado à vida das pessoas. A demanda mapuche não pode nem deve confundir-se com violência contra pessoas, e menos ainda com morte. É uma demanda de vida para seu povo e para todos.
Consideramos que a presença policial, o uso de lei antiterrorista e a judicialização do conflito não são as ferramentas para uma solução radical. Aqueles, por outra parte, que tem desestimado o diálogo e atacado com violência causam um dano muito grande à histórica e justa demanda de reparação do povo mapuche. A violência só conduz a mais violência. A justiça, o diálogo e o respeito aos direitos humanos de todos são o caminho para reconciliar a terra ferida e as relações rompidas”.
A nota é assinada por Carlos Bresciani, SJ, encarregado da Missão Mapuche da Companhia de Jesus.
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A Igreja chilena pede que se reconheçam os mapuches na Constituição - Instituto Humanitas Unisinos - IHU