13 Dezembro 2012
"Nós pedimos apenas respeito, como congoleses e como homens que lutam por dignidade, por desenvolvimento, por justiça", diz o ex-bispo de Goma, Jean-Marie Runiga Rugerero, hoje presidente e líder espiritual do M23. Um bispo católico que se sente um pouco italiano. "Quando criança", confidencia-nos com orgulho e nostalgia, "fui adotado por uma mulher de Salerno. Falo com ela muitas vezes e sei que ela me ama".
A reportagem é de Daniele Mastrogiacomo, publicada no jornal La Repubblica, 11-12-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
O que preveem os acordos do dia 23 de março de 2009?
O reconhecimento dos graus dos soldados, o retorno dos refugiados aos lugares de origem, a criação de uma unidade de reconciliação no Congo.
Por que não foram atendidos?
As eleições de 2011 tornaram a situação mais difícil. A democracia foi pega de refém.
Agora vocês se retiraram de Goma. O que farão?
Aderimos ao pedido da comunidade internacional. Era a condição para iniciar o diálogo com o governo.
O que o governo de Kabila respondeu?
Hoje começamos e logo interrompemos as negociações em Kampala. O governo de Joseph Kabila continua lançando acusações infundadas. Exigimos verdade e diálogo. Estamos cansados de todas essas guerras. Queremos resolver os verdadeiros problemas do país.
Quais, por exemplo?
No Congo, não há escolas, estradas, hospitais. Para chegar a Kinshasa, é preciso ir de avião. As ruas estão cheias de crianças que não podem estudar, porque o governo não constrói escolas, nem paga os professores. Pede que os pais façam isso. Tudo isso é um absurdo, tem que acabar.
Diversos relatórios transmitidos à ONU acusam Uganda e Ruanda de apoiar vocês.
O problema é só congolês. Kinshasa tem todo o interesse para desviar para o exterior a atenção de uma realidade interna.
Um homem da Igreja à frente de um movimento armado. Como o senhor concilia os dois papéis?
Estou entre congoleses que amam o seu país, o seu povo e que amam a Deus. Davi, antes de se tornar rei de Israel, lutou contra os filisteus, José foi primeiro-ministro no Egito. Todos conhecem a nossa integridade moral. Estar à frente do M23 não mudará o meu compromisso como pastor da Igreja. A comunidade internacional está convidada a vir para o Congo. Julgará por si mesma quem quer destruir o nosso país.
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Congo: ''Faltam escolas e estradas. Lutamos por isso'', afirma bispo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU