Por: André | 05 Dezembro 2012
Vidal Vega foi assassinado na madrugada de sábado por dois pistoleiros mascarados que o balearam na presença de sua família. Era testemunha no caso conhecido como massacre de Curuguaty, pelo qual Fernando Lugo foi deposto.
A reportagem está publicada no jornal Página/12, 04-12-2012. A tradução é do Cepat.
Os camponeses da Liga Nacional de Acampados do Paraguai uniram-se à reivindicação de outras organizações sociais e pediram, nesta segunda-feira, às autoridades uma investigação exaustiva do assassinato do dirigente camponês Vidal Vega. De acordo com a Plataforma de Estudos e Pesquisa do Conflito Camponês (Peicc), Vega era uma testemunha chave no caso conhecido como massacre de Curuguaty.
Vidal Vega foi assassinado na madrugada de sábado em sua casa por dois pistoleiros mascarados que o balearam na presença da sua família. Ele levou três tiros de escopeta, um na cabeça, outro no abdômen e o terceiro em uma das extremidades. Os pistoleiros chegaram à sua casa, perguntaram por ele à sua esposa e quando o dirigente saiu para conversar levou os tiros que o levaram à morte, detalhou o relatório policial. Vega foi assassinado perto do local onde, em 15 de junho passado, ocorreu um enfrentamento entre a polícia e camponeses, que deixou um saldo de 11 lavradores e cinco policiais mortos. A tragédia desembocou em um julgamento político contra o ex-presidente Fernando Lugo, que foi destituído do cargo no dia 22 de junho pelo Congresso, acusado de mau desempenho de suas funções.
“O companheiro Vidal Vega, de 46 anos, foi brutalmente assassinado no sábado e queremos saber o que está por trás. Vega foi um dirigente importante que presidia uma comissão que lutava por terras perto de Curuguaty”, disse José Rodríguez, líder da Liga de Acampamentos. Rodríguez expressou que a direção camponesa pretende obter informações precisas sobre o crime antes de descartar qualquer conjectura. Além disso, ressaltou que este fato deve levar a uma investigação mais profunda do massacre de Curuguaty de junho passado. “Tudo se encaminha para dar em nada. Há 12 presos e alguns foragidos, mas até agora não há indícios concretos de quem começou a chacina (de 15 de junho). Parece que não há interesse real em chegar ao fundo”, explicou. Rodríguez advertiu que sobre o episódio de Vega podem dizer que é um crime passional ou um ajuste de contas para desviar a atenção. “Por isso é que exigimos uma investigação clara e transparente para saber o que aconteceu”, afirmou.
Como informou o portal de notícias Paraguay Resiste, Domingo Laíno – presidente do Peicc, plataforma que publicou um estudo paralelo questionador sobre o que aconteceu no dia 15 de junho – explicou que Vega era um colaborador importante da Plataforma. “Vidal Vega era uma testemunha chave”, expressou. O sítio também detalhou que o dirigente camponês havia assumido a presidência da Comissão Sem Terra de Marina Cué [acampamento] que, recentemente, passou por uma renovação, dado que a maioria dos integrantes tinha morrido ou foram incriminados pela promotoria. Esta comissão acompanhou desde junho os familiares e vítimas do massacre.
A Coordenação Latino-americana de Organizações do Campo (CLOC) e a Via Campesina Paraguai também denunciaram o fato. “Vidal Vega era um conhecido líder na luta pela terra que estava coordenando a recuperação de 500 hectares de um excedente fiscal, em mãos de um empresário”, expressaram através de um comunicado de imprensa. Assinalaram também que, segundo a Plataforma de Estudos e Pesquisa do Conflito Camponês, era uma testemunha chave no caso do massacre de Curuguaty que estava acompanhando as organizações sociais que lutam pelo esclarecimento desse fato. “Pedimos estar atentos a este caso, em que a polícia anunciou a prisão de um suposto envolvido, segundo testemunhas de moradores. Esta pessoa bem pode ser um bode expiatório para cobrir os verdadeiros responsáveis que estão por trás do atentado criminoso”, manifestaram.
A Coordenação Nacional de Mulheres Rurais e Indígenas (Conamuri), por sua vez, afirmou em seu comunicado que o assassinato de Vega “é mais um caso de criminalização da luta social”.
O promotor José Zarza, que iniciou as investigações do caso, anunciou na segunda-feira a prisão de um dos dois suspeitos, Pánfilo Franco Toledo, de 35 anos, com antecedentes por um homicídio perpetrado em 1999. “Tudo aponta para um ajuste de contas. Desconhecemos ainda o motivo. O preso se absteve de declarar até o momento”, declarou o promotor aos jornalistas. Zarza descartou o roubo como motivação para o crime e considerou que “são conjecturas” as versões que sustentam que Vega foi assassinado por colaborar com uma investigação paralela do massacre de junho.
Os moradores da comunidade curuguatenha de Yby Pyta expressaram no começo da semana seu “profundo rechaço” à versão oficial do promotor Zarza e exigiram o esclarecimento do fato. Através de um comunicado indicaram que acreditam que o assassinato de Vidal Vega é a continuação do massacre de Curuguaty e assinalaram o camponês morto como responsável pelos movimentos para a recuperação das terras do [acampamento] Marina Cué, que estão em disputa entre o Estado e privados e que foram o centro do massacre de junho.
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Assassinada testemunha-chave de Curuguaty - Instituto Humanitas Unisinos - IHU