27 Novembro 2012
Contra o pano de fundo dos combates que foram retomados a partir do dia 15 de fevereiro na província do Kivu entre o exército da República Democrática do Congo (RDC) e os rebeldes do movimento M23, também estão os nossos celulares.
A reportagem é de Alain Faujas e publicada no jornal Le Monde, 25-11-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Porque um dos motivos dessa guerra, que continua gerando sofrimento a milhões de congoleses, é a exploração das minas das quais se extrai a colombo-tantalita, ou seja, o coltan, que está na base dos cinco ou seis condensadores sem os quais os nossos smartphones permaneceriam mudos.
Milhares de menores – às vezes crianças – com ferramentas improvisadas raspam o solo do Kivu. Em nome dos rebeldes ou dos generais do exército de Kinshasa, extraem ouro, diamantes e cassiteritas (estanho). A tantalita também faz parte – mas menos do que no início do ano 2000 – desse espólio de mineração que paga tributo aos mercenários.
Com os caminhões, ela pega a estrada de Ruanda – que, segundo a ONU, sustenta o M23 – e da Uganda, da qual é enviada para o refino e a transformação em tântalo, rumo ao Cazaquistão ou a China.
Um mês atrás, os bispos da República Democrática do Congo declararam, por meio de Dom Nicolas Djomo Lola, que querem "cortar as fontes de financiamento das milícias", a renda das minas, "que permitem comprar armas", pois "2.000 empresas usam os minerais como o coltan e preferem manter esse saque que as dispensa de pagar os impostos ao governo congolês".
Poderíamos pensar que esses confrontos, acompanhados por uma demanda mundial pelas maravilhas tecnológicas da telefonia que não se desmente, empurrariam o preço do tântalo muito para cima. Mas não foi assim, e o seu preço por quilo varia entre 500 e 520 dólares.
"Essa relativa estagnação deveria perdurar apesar dos acontecimentos no Kivu", prevê Georges Pichon, consultor da ABS Alloys&Metals. "Da região dos Grandes Lagos, obtém-se apenas uma centena de toneladas de tântalo a preços muito baixos, em comparação com as 700 toneladas produzidas em todo o mundo por ano".
Parece que dois fatores contribuem para manter o mercado estável. O primeiro é o aumento da produção das minas moçambicanas e brasileiras, e a certeza de que 90% das reservas de tântalo se encontram em outros países que a República Democrática do Congo.
O segundo é a lei norte-americana Dodd-Frank, que obriga as empresas cotadas em Nova York a declarar a origem dos seus minerais: isso obriga a todos, incluindo os chineses, a abandonar pouco a pouco o "tântalo de sangue".
E no futuro? "Se o M23 marcha sobre Kinshasa para derrubar o presidente Kabila", responde Pichon, "os preços correm o risco de decolar". Assim como os do cobalto.
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O ''tântalo de sangue'' nos nossos celulares - Instituto Humanitas Unisinos - IHU