13 Novembro 2012
Num cenário de crise econômica internacional, os países precisam reforçar suas políticas sociais para avançar na melhoraria da qualidade de vida das populações mais pobres, reduzindo a fome e o número de subnutridos no mundo. Em entrevista ao Valor, o novo representante da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) para América Latina e Caribe, Raúl Benitez, destacou que o crescimento econômico nos últimos anos foi importante para a diminuição da fome no mundo, porém ele não é suficiente para erradicá-la. "De nada vale um número espetacular da economia e das exportações se depois as pessoas passam fome".
A reportagem é de Edna Simão e publicada pelo jornal Valor, 13-11-2012.
O relatório "O Estado da Segurança Alimentar no Mundo (SOFI 2012)", publicado em outubro pela FAO, Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) e Programa Alimentar Mundial (PAM), mostra que a região da América Latina e Caribe foi a que mais avançou. Nos últimos 20 anos houve redução de 16 milhões de pessoas entre os que passam fome. Independente das medidas adotadas, porém, a fome ainda atinge 49 milhões de pessoas.
Os países latino-americanos que tiveram maiores baixas de subnutridos foram o Brasil e o Peru. "A América Latina foi capaz de levar a melhora na situação econômica para o social. Não é sempre assim. Em alguns casos, o país cresce, mas a situação social não melhora", explicou Benitez, que assumiu o cargo em julho.
Somente o Brasil retirou 10 milhões de pessoas da situação de fome, o que representa uma queda de 43,5% nos últimos 20 anos. Na avaliação de Benitez, isso ocorreu por conta dos programas de transferência de renda como Bolsa Família, Minha Casa, Minha Vida, Luz para Todos e de aquisição de alimentos de pequenos produtores rurais. No período da crise de 2008/2009, países que não tinham sistema de proteção semelhantes registraram um aumento no número de pessoas que passam fome. Segundo Benitez, o Brasil conseguiu diminuir a quantidade de pessoas que passam fome porque, além de implementar uma política de transferência de renda, desenvolveu uma estratégia para que as pessoas consigam se sustentar no longo prazo. O país atingiu, três anos antes, a meta de erradicar a fome, segundo estabelecido no Objetivo de Desenvolvimento do Milênio 1, que era reduzir pela metade a proporção de pessoas subnutridas entre 1990 e 2015. No período, essa proporção passou de 14,9% para 6,9%.
Sobre os altos e baixos das commodities, o representante da FAO afirmou que a experiência mundial demonstra que "o mercado por si mesmo não resolve todos os problemas". Portanto, defende o desenvolvimento de políticas públicas para beneficiar os pequenos produtores. O impacto desse tipo de iniciativa é grande economicamente porque 80% dos produtores agrícolas pertencem à agricultura familiar na região.
Na avaliação de Benitez, a recente alta de preços de algumas commodities não provocou uma piora no quadro da fome no mundo. "O arroz, por exemplo, não aumentou o preço no mundo. O arroz é o básico para dieta de muitos países, principalmente, na Ásia, onde duas de cada três pessoas sofrem com a fome. Então, não podemos falar de uma crise de preços", explicou.
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FAO destaca Brasil no combate à fome - Instituto Humanitas Unisinos - IHU