13 Novembro 2012
Certamente, quem encontra e conhece Arturo Paoli fica persuadido de que poucos como ele acreditam e esperam fortemente na vida que renasce no tempo, ainda mais agora que os documentos estão prestes a declará-lo centenário.
A opinião é de Silvia Pettiti, autora do livro Arturo Paoli, Ne valeva la pena (Edizioni San Paolo, 2010, 252 páginas). O artigo foi publicado na revista Rocca, nº. 21, 01-11-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Muitos ouviram falar dele por aquele seu livro Un incontro difficile, que despertou tantos consensos e discussões. Ele esboça um "tipo" de cristão completamente fora de certos esquemas convencionais, mas finalmente vivo, sensível ao próprio tempo, capazes de captar os seus sinais. Ficávamos curiosos para conhecer esse "irmãozinho do Evangelho", que nos revelou um cristianismo tão rico e vital... e fomos fazer-lhe algumas perguntas".
Essa "retranca" introduziu o primeiro artigo que a revista Rocca dedicou a Arturo Paoli. Foi uma entrevista realizada por Vittorio Messori no verão de 1967, exatamente há 45 anos. Desde então, a série de artigos assinados por Arturo Paoli para a Rocca é ininterrupta e ainda continua. Não há "história editorial" mais longa e fiel do que essa na vida de Arturo e talvez até mesmo na da Rocca. A ela corresponde uma história de amizade, como em todas as coisas que se referem a esse irmãozinho que, em novembro, completará 100 anos.
"Se o Senhor me perguntasse: tu preferes continuar vivendo ainda ou morrer agora, eu lhe responderia: Amigo meu, faze tu, decide tu!", responde Arturo aos que se comprazem pela meta já próxima, à qual ele se aproxima com grande serenidade, agradecido a todas as pessoas que tornam alegre a experiência cotidiana do limite e da dependência do outro, no qual ele sempre reconhece a presença do Amigo.
"O segredo para envelhecer bem é libertar-se dos pesos do passado, não carregar consigo fardos que remetem àquilo que foi, abandonar tudo nas mãos de Deus Pai. Jamais en arrière é o lema de Charles de Foucauld, que nós, irmãozinhos, tentamos aplicar na nossa vida, e, pela minha experiência, posso dizer que é um ensinamento perfeito", repete Paoli àqueles que se admiram com o seu vigor e pedem-lhe a sua razão.
"Pessoalmente, também recebi um ensinamento exemplar da minha mãe: esquecer do próprio corpo, não prestar atenção aos pequenos defeitos que inexoravelmente se apresentam. Certamente, eu tive sorte, sempre tive boa saúde, mas devo agradecer à minha mãe por esse ensinamento de desatenção para com a dor física e de preocupação para com as necessidades dos outros".
Aquele primeiro artigo de 1967 era inspirado no livro Un incontro difficile (Ed. Gribaudi, 1966, depois reeditado pela editora Cittadela em 2003), que Paoli compôs na Argentina entre os lenhadores de Fortín Olmos, onde viveu por décadas e onde escreveu alguns dos livros mais importantes da sua longa e fecunda vida. Dentre outros, Dialogo della liberazione (Ed. Morcelliana, 1969), primeiro gérmen daquele movimento cristão que dará origem à teologia da libertação, livro hoje reproposto pelas edições Nino Aragno como clássico do pensamento religioso contemporâneo. Uma homenagem aos 100 anos de Paoli, uma restituição de mérito com relação à história da teologia da libertação, mas sobretudo uma contribuição atual para "libertar" a história humana – religiosa, política, social, econômica – dos laços que a amarram, a partir do projeto de vida proposto por Jesus no Evangelho.
"Jesus veio para libertar as relações humanas e construir o Reino de Deus. É verdade que o projeto da Igreja que eu ouvi repetir muitas vezes é 'sê santo', mas o projeto de Jesus é bem mais universal e concreto: 'Tragam ao mundo a paz, a justiça, a fraternidade', que são a síntese do amor, que é a alteridade até ao dom de si mesmo, do qual o Cristo nos deu o exemplo", escreve Paoli na introdução à reedição do Dialogo. Reimpressão que também é fruto da amizade, daquela rede de relações que nascem espontaneamente ao redor de Arturo e que, graças a ele, encontram novas razões de compromisso e de esperança.
Quem é o santo
"Sê santo": naquele primeiro artigo na Rocca, Vittorio Messori interrogava Arturo justamente sobre a santidade: "O teste da verdadeira santidade é a contemplação infusa. Ora, a contemplação se explicita em uma visão profunda, íntima, saborosa de Deus e das coisas de Deus. É uma sabedoria que ajuda a ver as coisas, os acontecimentos da história, os verdadeiros valores da vida na sua justa luz", respondia Paoli. "Veja, eu penso que o Concílio fez o projeto da Igreja como ele deve ser, como ele deve se pôr no mundo de hoje. Ora, esperamos os santos que de fato realizaram essa nova forma de ser da Igreja no mundo. Nada de medo; depois do Concílio haverá heresias, depois de todo Concílio há heresias, mas também se tem a época dos santos e dos grandes momentos espirituais".
E então devemos nos perguntar se a época de hoje, a 50 anos do evento conciliar, é uma época de heresias ou de grandes momentos espirituais. A resposta de Arturo Paoli está na mensagem que ele enviou à Assembleia convocada no dia 14 de setembro em Roma pelo Nós Somos Igreja para celebrar e relançar o Concílio.
"Encontramo-nos diante de uma chamada civilização cristã despedaçada, que se tornou estéril em geral. É preciso ser absoluto e pensar que o cristianismo não é lei abstrata, mas sim encarnação da justiça, da paz, da concórdia entre os homens. [...] Essas ideias eu as vivi encarnadas na América Latina. Vocês já pensaram naquilo que dizia o nosso saudoso Balducci, de que nós somos a terra do ocaso e que devemos valorizar continentes como a América Latina e a África? [...] Nunca podemos esperar uma primavera da fé senão partindo do conceito da encarnação. Nunca nos esqueçamos que o primeiro teólogo da libertação foi Jesus, que não nos deixou teorias, mas sim práticas concretas".
O Ocidente cristão, portanto, é para Paoli terra arrasada pelas idolatrias ainda mais do que pelas heresias, enquanto as terras africanas e sul-americanas têm sido capazes de encarnar uma nova forma de Igreja, através das comunidades de base e da opção pelos pobres, até quando foram extirpadas pelo medo ocidental de que a teologia da libertação se confundisse com o marxismo.
A ambiguidade das instituições
As ambiguidades presentes nas instituições eclesiais sempre foram objeto de denúncia por parte de Arturo: "As instituições eclesiais se dissociaram dos grupos que fazem a história e levam a flecha adiante: os pobres, os jovens, os operários, os investigadores. Isto é, os grupos proféticos que [...] compreendem o tempo e o levam adiante. As instituições eclesiais têm amizades com grupos de poder; e os grupos de poder contagiam as instituições eclesiais com a sua lepra, isto é, o fato de contar com o dinheiro, com a proteção política, apenas com a capacidade organizativa; todas as eficiências aparentes sob as quais se esconde uma profunda frustração", escrevera ele há mais de 40 anos nas páginas do Dialogo della liberazione.
Mas a época de hoje "é a pior época histórica de toda a minha longa vida", diz Arturo com sofrimento e preocupação. "Nunca houve uma época tão escura, tão vazia de projetos e de valores. Eu também disse isso na entrevista da Rai, não sei se a transmitirão, mas eu estou convencido disso. O fim das ideologias, o fim dos partidos deixou um vazio total na política, que se tornou fazer os seus próprios negócios, aproveitar-se do poder para enriquecer, servir ao dinheiro e ignorar as necessidades do ser humano".
Aqui, então, que, no seu último esforço editorial pessoal (La rinascita dell'Italia, Ed. Pacini Fazzi, 2011), nos discursos públicos que profere em Lucca, nos encontros informais com os hóspedes da Casa Beato Charles de Foucauld em que vive, Arturo Paoli tenta preencher a brecha com os "grupos que fazem a história", particularmente com os jovens, restituindo-lhes a confiança no futuro: "Os adultos de hoje dão um exemplo negativo aos jovens, começando pela cúpula dos responsáveis políticos. Pelo amor ao poder ou à pecúnia, todos se curvaram a apoiar como presidente um rico incompetente em política, egocêntrico, superficial, que conseguiu captar a simpatia com as suas obscenidades que obscurecem o belo país que já foi a pátria dos Espíritos Magnos e mostram que o poder pode dominar a justiça fazendo-a parecer uma complicação inútil, um freio à liberdade de gerir a vida como quisermos", escreveu Arturo na Mensagem aos Jovens, com que fecha o livro La rinascita dell'Italia.
E mesmo que humildemente afirme que "hoje eu não saberia como começar para reencontrar uma nova relação dos jovens com a fé", ele continua assim: "Eu gostaria que a juventude se sentisse amada, porque só assim poderia encontrar a coragem de se impor ao mundo adulto, incapaz de um futuro positivo para a nossa pátria. (...) Coragem, jovens, o próximo futuro se oferecerá a vocês, só a vocês. A geração adulta desaparecerá logo, porque o futuro é somente de quem crê e espera fortemente na vida que renasce no tempo".
Crer na vida que renasce
Certamente, quem encontra e conhece Arturo Paoli fica persuadido de que poucos como ele acreditam e esperam fortemente na vida que renasce no tempo, ainda mais agora que os documentos estão prestes a declará-lo centenário. "Ninguém é capaz de construir a própria vida como gostaria e é bom que não nos seja concedido um projeto preventivo, erraríamos tudo. Eu só tinha claro o ideal de amar os jovens satisfazendo as suas expectativas. Eu tentava entender com eles o que os acontecimentos nos exigiam", diz ele sobre si mesmo, resumindo a ideia de amizade autêntica, enraizada na história e no tempo, que ele sempre pregou e praticou.
Os frutos continuam crescendo naquele continente sul-americano onde Arturo passou quase a metade da sua vida: na Argentina, um grupo de homens e mulheres quase idosos, que viveram os anos da juventude nas comunidades ampliadas dos irmãozinhos, estão organizando uma jornada de festa pelos 100 anos de Arturo; no Brasil, em Foz do Iguaçu, os jovens do Madre Terra tentam a cada dia pôr em prática aquele ideal de amizade e de colaboração que Arturo lhes ensinou e que a associação Ore Undici tenta continuar; na favela Morenita, ainda em Foz, mulheres e crianças são acolhidas e cuidadas graças ao trabalho iniciado por Arturo e continuado pelo grupo ítalo-brasileiro Afa. E em Lucca, na casa de San Martino, em Vignale, onde Arturo vive, acontece com frequência e ao mesmo tempo com espanto que, nos seus rastros, se reconectem fios de amizades antigas, refloresçam histórias perdidas no tempo, surjam novas e inesperadas relações em torno a uma mesa que muitas vezes é preparada deixando um lugar vazio, "para o amigo que deve chegar".
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
100 anos de Arturo Paoli. Uma uma longa história vivida na vanguarda - Instituto Humanitas Unisinos - IHU