03 Novembro 2012
A trajetória do coronel do Exército reformado Júlio Miguel Molinas Dias, 78 anos, assassinado a tiros em Porto Alegre, está ligada ao aparelho repressivo da ditadura militar. Quando houve o atentado no Riocentro, em 30 de abril de 1981, ele comandava o DOI-Codi.
A reportagem é de Nilson Mariano e publicada pelo jornal Zero Hora, 03-11-2012.
Não haveria informações se Molinas Dias planejou, autorizou ou ignorava o atentado – atribuído a militares linha-dura descontentes com a abertura política encaminhada na etapa final do regime militar. Naquela noite de 31 anos atrás, enquanto ocorria um show no Riocentro pelo Dia do Trabalhador, o capitão Wilson Dias Machado e o sargento Guilherme do Rosário estariam planejando explodir uma bomba no pavilhão. Só que o artefato estourou antes, dentro de um automóvel Puma, matando o sargento e deixando o capitão gravemente ferido.
O assassinato de Molinas Dias consternou clubes militares do país, que repercutiram o crime em seus sites. Ontem, o editor do Jornal Inconfidência (Minas Gerais), coronel reformado Carlos Claudio Miguez, recolheu inúmeras manifestações de pesar vindas de outros Estados. Uma das sugestões foi de que o Comando Militar do Sul (CMS) também investigasse a morte.
Em contato com militares que atuaram com a vítima no DOI-Codi do Rio, Miguez apurou que Molinas Dias primava pela discrição. Atualmente, não participava de associações classistas que reúnem os oficiais reformados.
– Era uma pessoa calma, que nunca se meteu em confusões – disse Miguez para ZH, a partir dos relatos que ouviu.
Ativistas de esquerda, que foram perseguidos durante a ditadura militar, desconhecem o coronel assassinado. Representantes do Grupo Tortura Nunca Mais do país, consultados por ZH, não o situam na vanguarda da repressão. O presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH), Jair Krischke, consultou o arquivo de mais de três década da entidade. Molinas Dias não consta na lista de repressores – aqueles que torturaram ou mandaram supliciar presos políticos.
Discreto na profissão, também era reservado na vida privada. Nascido em São Borja, Molinas Dias residia há cerca de duas décadas no bairro Chácara das Pedras, em Porto Alegre. Desde que ficou viúvo, há quatro anos, morava só. Costumava almoçar ou jantar na casa de uma das duas filhas, em um bairro vizinho.
Moradores lembram que o coronel era educado, a todos cumprimentava, mas sem alongar conversas. Certo vez, um vizinho perguntou-lhe por que era tão reservado, ouvindo uma resposta enigmática:
– Tenho um monte de presuntos (na gíria policial, significa cadáveres) – teria dito Molinas Dias.
Talvez devido ao tempo de caserna, exercitava-se três vezes por semana numa academia e andava armado com uma pistola. Não gostava de tirar fotografias e, nos momentos de lazer, apreciava ver TV.
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Envolvimento do militar assassinado em Porto Alegre em atentado é desconhecido - Instituto Humanitas Unisinos - IHU