01 Novembro 2012
Dividido, o PT desistiu de divulgar hoje um manifesto contra a atuação do Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento do mensalão.
O texto, que atacaria a condenação de petistas como José Dirceu e José Genoino por corrupção ativa e formação de quadrilha, ficará para depois da definição das penas.
"Temos uma avaliação crítica do julgamento e vamos fazê-la assim que ele for concluído", disse ontem o presidente do PT, Rui Falcão, a correspondentes estrangeiros.
A reportagem é de Natuza Nery, Catia Seabra e Bernardo Mello Franco e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 01-11-2012.
Conforme interlocutores, o mais recente cálculo, já discutido com Lula e a presidente Dilma Rousseff, é que não se pode transformar 2013 numa batalha campal contra o Supremo nem trazer para o colo do partido o ônus dessa mobilização.
Essa ponderação não casa com a expectativa de aliados dos réus Dirceu e Genoino, que pretendem conflagrar a militância contra o tribunal.
Nas últimas semanas, o PT já conteve ataques ao STF para não prejudicar seus candidatos nas eleições. A principal preocupação era evitar desgastes para Fernando Haddad em São Paulo.
Agora, após a vitória do ex-ministro, petistas evitam expor o sentimento de revanche. O partido deve se solidarizar com os condenados atacando a "politização" do julgamento, mas não fará campanha permanente por eles.
Eventuais iniciativas contra a decisão do STF, como campanhas por anistia ou recursos a cortes internacionais, não deverão ser lideradas pelo PT, e sim pelos réus.
O deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) pedirá que a Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara investigue o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, que sustentou a acusação aos petistas no julgamento.
A instituição divulgou recentemente uma cartilha para crianças explicando o mensalão. "Ele queria interferir no processo eleitoral e isso não pode", diz o petista.
Segundo um ministro petista, a ordem é agir com mais "cérebro" e menos "fígado".
Por ora, o único elemento capaz de reverter essa disposição seria a hipótese de o ex-presidente Lula virar alvo. Nesse caso, até mesmo a presidente Dilma tenderia a entrar no circuito para defender o antecessor.
"O PT não está em julgamento. Quem foi julgado foram alguns militantes do PT. Há uma tentativa de transformar o julgamento de pessoas em julgamento do partido", disse Falcão ontem.
"Isso [o mensalão] nunca foi comprovado. Isso é uma narrativa que foi feita e não há comprovação material de compra de votos. Há suposições e ilações", afirmou.
Ao falar sobre segurança pública, o presidente do PT repetiu a máxima de que no Brasil só vão presos "três Ps", vistos como "inimigos em potencial": pobres, pretos e prostitutas. "Agora acrescentaram outro P, que são os petistas", disse Falcão.
SEM EXPULSÕES
O dirigente disse anteontem a deputados que o artigo do estatuto do PT que prevê a expulsão de filiados que cometerem "crimes infamantes" não será usado contra os réus do mensalão. "Não se aplica a nenhum deles", disse. "Quem aplica o estatuto somos nós. E somos nós que interpretamos o estatuto."
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Dividido, PT adia manifesto contra condenações no STF - Instituto Humanitas Unisinos - IHU