31 Outubro 2012
Das 13 assembleias sinodais, essa é a quinta que se realizou no pontificado de Bento XVI, a partir do seu início em 1967. O Papa Ratzinger intensificou os encontros sinodais, um sinal de que ele vai rumo a uma ampliação da colegialidade.
A opinião é do cientista político e leigo católico italiano Christian Albini, em nota publicada no blog Sperare per Tutti, 29-10-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Encerrou-se no dia 28 o XIII Sínodo dos Bispos sobre "A nova evangelização para a transmissão da fé cristã", que durou três semanas. Mas o que aconteceu nesse encontro que reuniu 262 bispos de todo o mundo, juntamente com 45 especialistas e 50 auditores e auditoras? Foi uma representação significativa do catolicismo, que não deve ser subestimado.
Das 13 assembleias sinodais, essa é a quinta que se realizou no pontificado de Bento XVI, a partir do seu início em 1967. O Papa Ratzinger intensificou os encontros sinodais, um sinal de que ele vai rumo a uma ampliação da colegialidade. Embora, como destacou um artigo de Alberto Melloni, a livre discussão em sala foi muito restrita, e o encontro teve somente um valor consultivo. É um pouco um emblema de algumas contradições da Igreja de hoje. Em todo caso, o fato de que esses encontros já ocorram regularmente é, contudo, uma riqueza que favorece o intercâmbio e o encontro dentro do vasto corpo da Igreja Católica.
Os padres sinodais redigiram uma Mensagem ao Povo de Deus, da qual eu lembro alguns aspectos fundamentais (o texto completo pode ser lido aqui, em italiano).
A mensagem usa como imagem da experiência de fé o encontro de Jesus com a samaritana no poço (João 4, 5-42). A evangelização não é propaganda ideológica, mas sim uma experiência de relação que vai tocar os desejos mais profundos e autênticos do ser humano. Nova evangelização não é recomeçar tudo do início, mas sim um empenho, que recorre em todos os tempos, para que os fiéis evangelizem acima de tudo a si mesmos e façam dos espaços eclesiais poços nos quais todos possam se saciar livremente.
É indispensável aproximarmo-nos, a seguir, do alimento que vem da Palavra de Deus e ficar no nosso tempo e n nossa cultura sem contraposições e sem pessimismo. Isso significa que a Igreja "cultiva com particular cuidado o diálogo com as culturas, na confiança de poder encontrar em cada uma delas as 'sementes do Verbo', das quais já falavam os antigos Padres".
São fundamentais o estilo, a atitude dos cristãos, como evidencia esta importante passagem:
"Alguém perguntará como fazer tudo isso. Não se trata de inventar sabe-se lá quais novas estratégias, quase como se o Evangelho fosse um produto a ser colocado no mercado das religiões, mas sim de redescobrir os modos pelos quais, na história de Jesus, as pessoas se aproximaram dele e por ele foram chamadas , para introduzir essas mesmas modalidades nas condições do nosso tempo.
"Recordemos, por exemplo, como Pedro, André, Tiago e João foram interpelados por Jesus no contexto do seu trabalho, como Zaqueu pôde passar de simples curiosidade ao calor da partilha da mesa com o Mestre, como o centurião romano pediu a sua intervenção por ocasião da doença de um ente querido, como o cego de nascença o invocou como libertador da sua marginalização, como Marta e Maria viram premiada pela sua presença a hospitalidade da casa e do coração. Poderíamos continuar ainda, traçando as páginas dos Evangelhos e encontrando sabe-se lá quantos modos com os quais a vida das pessoas se abriu nas mais diversas condições à presença de Cristo".
Nessa perspectiva, capta-se o eco do que propõe Enzo Bianchi, que, de fato, estava presente no Sínodo como especialista no seu Nuovi stili di evangelizzazione. Assim o prior de Bose sintetizou o andamento dos trabalhos:
"A Igreja realmente mudou nesses últimos 50 anos: não mais hostilidade contra os 'infiéis', mas sim diálogo, responsabilidade comum pelo bem da sociedade, busca da paz entre as religiões, liberdade de consciência, afirmação da necessária 'razão humana' em toda doutrina religiosa.
"A Igreja não quer promover um proselitismo que imponha o evangelho ou seduza os homens, mas quer que a boa notícia possa ser ouvida por todos, porque todo o ser humano tem direito a isso. Por isso, ela se empenha a evangelizar acima de tudo a si mesma e, portanto, a oferecer uma vida que tenha sentido, uma mensagem que afirme que o amor vivido pode vencer a morte. Mas a Igreja na sua obra evangelizadora está ciente de que o mundo não é um deserto, um vazio sem bem e sem valores, mas sim um mundo à espera de respostas adequadas, um mundo habitado e moldado a cada dia pelo ser humano que é sempre um filho de Deus, uma criatura feita à imagem e semelhança de Deus, capaz, portanto, do bem, mesmo se às vezes o mal a fira e a torne desumana. Para anunciar o Evangelho, os cristãos devem então ouvir o mundo, conhecê-lo, ler as suas alegrias e os sofrimentos e, acima de tudo, discernir nele os 'pobres', os últimos, as vítimas do poder e daqueles que dispõem da riqueza e não se importam com os outros. Se Jesus declarou que veio para trazer a boa notícia do Evangelho aos pobres, a Igreja não pode fazer o contrário, porque, no seguimento do seu Senhor, é chamada a ser, principalmente, Igreja pobre e de pobres.
"Se alguém esperava do Sínodo palavras de esperança e de bondade para as histórias cotidianas de amor que hoje parecem cansativas, contraditas e nem sempre adequadas ao ideal de fidelidade e de união proposto pelo Evangelho, essas palavras foram ditas e ouvidas: reiterou-se diversas vezes que o amor do Senhor permanece fiel, mesmo quando há situações de infidelidade, porque a Igreja é a casa de todos os batizados, também daqueles que vivem situações de contradição com o Evangelho". (Leia aqui o texto na íntegra do artigo de Enzo Bianchi sobre o Sínodo.)
Os padres sinodais sintetizaram os trabalhos em 58 propostas enviadas ao papa, cujo texto está disponível de forma oficiosa somente em inglês (de fato, o "novo latim" da Igreja Católica).
As propostas atribuem uma importância fundamental à inculturação do Evangelho, que deve se encarnar na cultura de todo povo (n. 5). No anúncio do Evangelho, deve ser sublinhada a necessidade de escuta constante da Palavra de Deus através da lectio divina (n. 11) e a vitalidade dos ensinamentos do Vaticano II (n. 12). A missão cristã é indissociável da promoção dos direitos humanos (n. 15), da liberdade religiosa (n. 16), do desenvolvimento (n. 19), da acolhida dos migrantes (n. 21).
São só alguns elementos. Na base, há o fato de que a fé pode ser transmitida não como uma ideia a ser difundida, mas só modelando a própria vida sobre o Evangelho que deve ser "lido" nas pessoas e nas suas relações (n. 57). Isso significa, como disse Bento XVI no Angelus do dia 28, a necessidade de um "compromisso com a renovação espiritual da própria Igreja".
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O que aconteceu com o Sínodo? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU