26 Outubro 2012
Chamados em tom de zombaria de "bamboccioni" ( literalmente, crianças grandes) ou "mammone" (o filhinho da mamãe), italianos adultos em grande número optaram por viver na casa dos pais. Mas não é simplesmente o abraço carinhoso da mamma italiana que os prende. O fenômeno está crescendo em grande parte por causa da atual crise econômica na Europa, afirmam os especialistas.
A reportagem é de Nick Squires e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 26-10-2012.
Cerca de 30% dos italianos moram hoje com os pais, segundo nova pesquisa da Coldiretti, uma associação nacional de produtores agrícolas, e da Censis, uma empresa de pesquisa de mercado. Na faixa etária entre 18 e 29 anos, a proporção aumenta para impressionantes 61%. Dos que não moram na casa dos pais, 42% residem bem perto.
O fenômeno não é novo. Como na maior parte dos países mediterrâneos, a Itália valoriza muito a união familiar. As mães ainda desempenham um papel reverenciado na sociedade, e os italianos de todas as classes e idades prezam muito sua região de origem - o chamado "campanilismo", definido como "um apego exagerado aos costumes e tradições da própria cidade natal".
Os jovens italianos viajam muito menos do que seus contemporâneos na Grã-Bretanha, Alemanha, ou Austrália - é raro encontrar italianos entre a multidão de mochileiros que percorre Ásia, África e América Latina, por exemplo. Mas a tendência cultural foi se acentuando em razão da crise - o número de jovens italianos que moram com os pais cresceu muito em comparação aos 48% de 1990.
Os italianos precisam permanecer juntos mais do que nunca por causa do aumento cada vez maior dos combustíveis e dos alimentos, do quase inexistente crescimento econômico, das demissões e do rigoroso pacote de austeridade montado pelo governo de Mario Monti, o primeiro-ministro tecnocrata que substituiu o desacreditado Silvio Berlusconi, em novembro.
O desemprego médio entre os italianos é de cerca de 10%, mas salta para mais de 30% entre os jovens na faixa dos 20 aos 30 anos. Eles constituem a chamada geração Neet - nada de emprego, educação nem treinamento -, lutam para se alimentar e se vestir, e estão praticamente impossibilitados de morar por conta própria. Encontrar um emprego bem pago em quase todas as profissões, muitas vezes, depende de relacionamentos pessoais mais que do mérito. Entre os que têm um emprego, muitos são precários, ou seja, o contrato é de curto prazo, o que torna difícil assumir o compromisso de uma hipoteca ou de um aluguel.
Portanto, embora seja fácil considerar os italianos que moram com os pais como preguiçosos sem abrir mão da dependência das mães superprotetoras ou dos pais, é injusto e excessivamente simplista, diz Roberto D'Alimonte, um cientista político da Libera Università Internazionale per gli Studi Sociali (Universidade Luiss) de Roma. "Acho que 'bamboccioni' tem uma conotação muito infeliz, negativa e não deveria ser usada", afirma. "É verdade que existe uma predisposição cultural que faz com que os jovens italianos continuem ligados aos pais, mas os principais fatores desse comportamento são econômicos. Os italianos simplesmente não têm condições de se manter fora de casa. Quando meu filho se formou em engenharia, ganhou 800 no seu primeiro emprego, insuficiente até para pagar o aluguel em Milão."
Sem opção
Eles não têm outra escolha senão continuar morando com a família, muitas vezes até uma idade em que isto seria considerado socialmente embaraçoso no norte da Europa e na América do Norte - 25% dos italianos dos 30 aos 44 anos ainda moram com o pai e a mãe, mostrou a pesquisa.
Por outro lado, a difícil situação econômica dos últimos quatro anos também contribuiu para um aumento do número de jovens nos Estados Unidos obrigados a continuar morando com os pais, ele acrescentou.
"Portanto, agora, vocês têm 'bamboccioni' também nos EUA", afirma o professor D'Alimonte. "Não se trata mais de um problema exclusivo da Itália."
Na Itália, a forte estrutura familiar é considerada em grande parte positiva. Na realidade, o relatório da Coldiretti e da Censis se intitula A crise econômica - viver melhor, vivendo juntos.
Para alguns, a relutância dos italianos em romper os laços familiares é uma fraqueza. Ela prejudica a mobilidade e o crescimento econômico. Alguns anos atrás, um ministro do gabinete apresentou um projeto de lei que obrigava os adolescentes a deixar a casa dos pais ao atingirem a idade adulta. Mas quando foi interpelado sobre a ideia, Renato Brunetta, ministro encarregado da desburocratização do país, admitiu embaraçado que sua mãe arrumou a cama para ele até os 30 anos. Sua proposta foi rapidamente engavetada.
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Na Itália, 30% ainda vivem com os pais - Instituto Humanitas Unisinos - IHU