20 Setembro 2012
Um grupo de professores brasileiros que há quase sete meses foi para o Timor-Leste para participar de um programa de cooperação acadêmica acusa a única universidade do país asiático de não cumprir o acordo. O acordo está previsto para durar até novembro, mas amanhã o sexto dos 30 docentes do projeto retornará ao País antes do prazo por causa do atraso nos salários, que não são pagos desde junho.
A reportagem é de Bruno Deiro e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 20-09-2012.
De acordo com os professores, há dificuldades para obter informações sobre os atrasos na Universidade Nacional do Timor-Leste (UNTL). "O reitor se recusa a nos receber e está fora do país", diz Flávio Tonnetti, que faz parte do grupo. Segundo ele, a maioria tem recorrido à ajuda de amigos e familiares, além de empréstimos em banco, para se manter no Timor-Leste.
Depois de uma seleção feita no final do ano passado pela Universidade Mackenzie, em São Paulo, os professores viajaram em fevereiro para dar aula de português, biologia e química e receber um salário mensal de US$ 3,5 mil, que seria bancado pela universidade timorense. "Recebemos o primeiro pagamento somente em maio", diz Carlos Gontijo, de 29 anos, que deu aulas de língua portuguesa e retornou em junho. "Ficávamos em um hotel cujo dono aceitou receber depois as diárias de hospedagem e alimentação. Mas teve gente que não aguentou e voltou antes."
É o caso de Alexandre Marques, de 33 anos, que retornou no início de maio, graças à ajuda de um grupo de professores de uma escola portuguesa em Dili. "Eles juntaram dinheiro e pagaram os cerca de US$ 300 para a remarcação da passagem", diz o professor de português, que mora em Cotia e abriu mão de dois empregos para viajar. "Sustento minha família e achei que conseguiria juntar algum dinheiro, mas tive de voltar porque estava acumulando dívidas lá e aqui."
O Timor-Leste é uma ex-colônia portuguesa que foi ocupada pela Indonésia entre 1975 e 2002, período no qual o uso do português foi proscrito. Com a independência, em 2002, o português voltou a ser uma das línguas oficiais, mas faltam professores para ensiná-lo aos jovens.
Atrasos
Sem contrato assinado, os professores entraram no país com um visto provisório de turista, que expirou em 30 dias. O contrato foi modificado duas vezes até ser consolidado.
A UNTL alegou uma questão burocrática para o primeiro atraso no pagamento e a demora na assinatura do contrato: o estatuto da entidade não permite que o valor seja repassado diretamente aos professores estrangeiros. A gestão dos recursos ficou por conta da Fundação das Universidades Portuguesas (FUP), que efetuou o primeiro pagamento no fim de maio.
O Mackenzie, que segundo os professores teria garantido informalmente que o acordo seria cumprido, lembra que o edital previa responsabilidade total da universidade timorense pelo pagamento. "A única atribuição do Mackenzie é monitorar o desenvolvimento das atividades acadêmicas, nada interferindo no pagamento dos salários dos docentes. Mesmo com o problema do atraso de salários, as atividades acadêmicas transcorrem dentro dos prazos previstos", defende-se a entidade.
A principal queixa do grupo que continua no Timor-Leste sobre o novo atraso é de que desta vez não há esclarecimentos. "O cenário é pior, pois as relações estão desgastadas e não temos qualquer previsão de resolução", afirma Tonnetti. O Itamaraty afirma que o governo brasileiro não tem relação com o convênio firmado entre o Mackenzie e a UNTL, mas está tentado ajudar informalmente. No último dia 7, durante um evento na embaixada em Dili, os professores cobraram ações de autoridades timorenses, mas não tiveram resposta.
O Mackenzie diz ter recebido um comunicado da FUP que garante que o pagamento será feito ainda nesta semana. O Estado tentou entrar em contato com a entidade portuguesa, mas não obteve resposta.
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Professores brasileiros abandonam Timor-Leste por falta de pagamento - Instituto Humanitas Unisinos - IHU