15 Agosto 2012
"Uma adoção generalizada do gás de xisto daria ao planeta um tempo precioso para que fossem desenvolvidas outras soluções de energia renovável a fim de que fosse possível reduzir ainda mais as nossas emissões de dióxido de carbono. As atuais fontes de energia renováveis não seriam de maneira alguma capazes de proporcionar a mesma redução das emissões de carbono que nós poderíamos obter com a substituição do carvão mineral pelo gás de xisto", escreve Alan Riley, professor de direito do setor de energia da Faculdade de Direito da City University de Londres, em artigo publicado no Internacional Herald Tribune e reproduzido pelo Portal Uol, 13-08-2012.
Eis o artigo.
A batalha para impedir a mudança drástica do clima está sendo perdida. O movimento verde e a indústria da energia – embora estejam engajadas em um debate furioso sobre questões que vão da energia nuclear às areias betuminosas – estão perdendo de vista o quadro maior.
Ambos os lados da discussão não estão entendendo muito bem que as atuais políticas para reduzir as emissões de dióxido de carbono são inadequadas para que se enfrentem as ameaças representadas por esse gás causador do efeito estufa. O crescimento econômico alimentado a carvão em países como a China e a Índia é o responsável pela maior parte dessas emissões. A menos que se encontre um combustível substituto para o carvão que seja barato e que possa ser utilizado rapidamente, será praticamente impossível conter a elevação dos níveis de dióxido de carbono na atmosfera em todo o mundo.
Embora o movimento verde possa a princípio identificar o gás de xisto como sendo um inimigo nesta guerra, ele poderá ser na verdade um aliado na luta contra o aquecimento global. A exploração em grande escala das reservas de gás de xisto – com a aplicação das salvaguardas ambientais apropriadas – poderá se constituir na melhor maneira de alcançar a meta de reduções rápidas das emissões de dióxido de carbono que se fazem necessárias para a preservação de um meio ambiente habitável na Terra.
A Agência Internacional de Energia deixou claro que, segundo as atuais políticas energéticas, está se fechando a janela de oportunidade para tentarmos restringir o aumento das temperaturas globais provocado pelo dióxido de carbono a um máximo de 2ºC até meados deste século. Na verdade, as emissões globais de dióxido de carbono derivado da queima de combustíveis fósseis alcançou um patamar recorde de 31,6 gigatoneladas em 2011. Com um aumento dessas emissões da ordem de uma gigatonelada por ano, é muito improvável que seja alcançada a meta relativa ao aumento da temperatura global.
A revolução do gás de xisto poderá se constituir na maneira de conter o aumento das emissões de dióxido de carbono e em uma nova esperança para que nos mantenhamos dentro do quadro de dois graus centígrados. Esse recurso natural está amplamente disperso pelo planeta. A sua exploração é barata e ele oferece vários dos benefícios proporcionados pelo carvão. Caso seja explorado de maneira apropriada, ele poderá substituir o carvão em algumas décadas como um dos principais combustíveis usados pela humanidade.
Com a exploração do gás de xisto como substituto do carvão nós poderemos contar com a oportunidade de conter – e possivelmente até mesmo reverter – a curva ascendente de emissões de dióxido de carbono. O gás de xisto emite 50% menos dióxido de carbono do que o carvão mineral, de forma que se países como a China e a Índia fizerem uma substituição de combustível em grande escala, nós teremos a chance de reverter a trajetória de crescimento das emissões globais de gás carbônico.
Uma adoção generalizada do gás de xisto daria ao planeta um tempo precioso para que fossem desenvolvidas outras soluções de energia renovável a fim de que fosse possível reduzir ainda mais as nossas emissões de dióxido de carbono. As atuais fontes de energia renováveis não seriam de maneira alguma capazes de proporcionar a mesma redução das emissões de carbono que nós poderíamos obter com a substituição do carvão mineral pelo gás de xisto.
Basta olharmos para a China para constatarmos que esta solução tem um forte potencial. Esse país, que possui as maiores reservas de gás de xisto, incluiu um enorme programa de exploração de gás no seu último plano econômico quinquenal. A produção aumentaria de 6,5 bilhões de metros cúbicos de gás de xisto em 2015 para 100 bilhões de metros cúbicos em 2020. E se a China for capaz de produzir tamanha quantidade desse gás em 2020, haveria algum motivo para duvidarmos de que ela fosse capaz de produzir 800 bilhões de metros cúbicos em 2030?
Tal programa de exploração seria similar em magnitude àquele implementado nos Estados Unidos, onde a produção de gás derivado do xisto aumentou de 1% da produção total de gás em 2001 para 37% no ano passado.
Não há dúvida de que a China é capaz de atingir tais objetivos, especialmente ao levarmos em conta toda a nova tecnologia que se encontra disponível para a indústria do gás de xisto, bem como o capital estatal abundante daquele país. O fato de o governo chinês estar concentrando os seus esforços nessa direção é mais um motivo para acreditarmos que a China será capaz de atingir tais níveis de produção. Uma produção de 800 bilhões de metros cúbicos por ano – aliada a patamares bem mais elevados de eficiência energética – possibilitaria à China reduzir, e posteriormente cancelar, os seus planos para o aumento da exploração do carvão mineral e, no futuro, até mesmo acabar completamente com a sua dependência da eletricidade gerada pela queima de carvão mineral.
Os Estados Unidos poderiam desempenhar um papel fundamental no sentido de encorajar a China e outros países em desenvolvimento a fazer essa transição do carvão mineral para o gás de xisto. O Departamento de Estado lançou a sua Iniciativa Global para o Gás de Xisto a fim de facilitar a transferência de conhecimentos técnicos para outros países para assegurar a exploração segura desse novo recurso natural. E os Estados Unidos poderiam também assumir a liderança na criação de uma estratégia alternativa convincente para conter o aquecimento global. Com a implementação de tal estratégia alternativa, o uso do gás de xisto tornar-se-ia o responsável por reduções drásticas das emissões de dióxido de carbono no curto e no médio prazo.
Tal estratégia incluiria a criação de uma série de Fundações de Gás de Xisto em todo o mundo para disseminar informações, tecnologias e assistência para a criação de instrumentos regulatórios. Uma segunda parte dessa estratégia seria fazer pressões pela supressão gradual do uso e do comércio global de carvão mineral, com a implementação de planos de compensação para a indústria carvoeira como um todo.
A supressão da produção e do comércio do carvão mineral seria um fator vital por três motivos. Primeiro, isso demonstraria que o Ocidente comprometeu-se de fato a substituir o carvão. Segundo, nós poderíamos transferir o conhecimento social, regulatório e empresarial a outras nações a fim de encorajar a supressão do carvão mineral. Terceiro, isso faria com que o preço do carvão subisse para encorajar os países a fazerem uma transição deste produto para o gás de xisto.
É claro que a indústria do carvão no Ocidente resistiria à tal supressão. Mas a realidade do acesso cada vez maior ao gás de xisto barato acabará mais cedo ou mais tarde minando a lucratividade do carvão. É possível argumentar de forma convincente que, sob o ponto de vista empresarial, seria melhor para a indústria carvoeira optar pelas compensações e pelo acesso ao gás de xisto do que continuar explorando o carvão mineral.
A cooperação de âmbito mundial e bem sucedida para a supressão do carvão poderia proporcionar a base para a construção de uma convincente coalizão internacional com o objetivo de descarbonizar ainda mais o sistema energético para além do gás de xisto, com a adoção integral de uma economia baseada em fontes de energia renováveis.
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Gás de xisto pode ser um aliado na luta contra o aquecimento global - Instituto Humanitas Unisinos - IHU