Por: Cesar Sanson | 28 Julho 2012
Faltam à China recursos próprios para atender à sua demanda por energia, que dobrou desde o ano 2000. A aquisição da petrolífera canadense Nexen significaria o acesso a grandes reservas e a obtenção de know-how.
A reportagem é de Christina Ruta e publicada pela Deutsche Welle, 26-07-2012.
A empresa de petróleo estatal chinesa CNOOC anunciou nesta segunda-feira (23/07) a compra da petrolífera canadense Nexen por 15,1 bilhões de dólares. Se concretizado, será o maior negócio internacional fechado pela China desde 1995 e significaria o acesso a grandes reservas de petróleo e gás no oeste do Canadá, na costa da Nigéria, no Golfo do México e no Mar do Norte britânico. Os recursos energéticos da CNOOC seriam triplicados, e a empresa sairia da última posição do ranking mundial de empresas de energia.
A aquisição tem como objetivo assegurar o abastecimento de energia futuro na China, diz o economista Leon Leschus, do Instituto de Economia Internacional de Hamburgo. Hoje o país recorre à importação para atender à demanda por petróleo. "A demanda dobrou na China desde a virada do milênio – de 4,5 milhões de barris por dia para cerca de 9 milhões de barris, o que indica que a fome da China por energia continuará crescendo", afirma.
A República Popular é o país com a segunda maior demanda por petróleo, atrás apenas dos Estados Unidos, que consomem cerca de 19 milhões de barris de petróleo por dia. A British Petroleum (BP) estima que a demanda energética chinesa dobre novamente até 2030.
Escassez no Ocidente
Outro motivo para o interesse dos chineses pela Nexen são as novas técnicas de extração que chegariam ao país com a compra, diz Leschus. "A empresa canadense atua em áreas arenosas e também na perfuração em águas profundas. A China precisa desse know-how para explorar suas próprias reservas."
Além disso, a Nexen dispõe de conhecimento e tecnologia para a extração de gás natural, mesmo não sendo a líder de mercado. O xisto e as areias betuminosas são fontes não convencionais e de difícil acesso para a obtenção de petróleo. Sua extração provoca, em parte, grande impacto ambiental.
Em 2005, a CNOOC já havia comprado 16,7% da produção da especialista canadense em areias betuminosas MEG Energy. Em novembro de 2010, a estatal chinesa investiu junto com a Nexen cerca de 2 bilhões de dólares na empresa Opti Canadá, que atua no mesmo segmento. A investida chinesa faz parte de uma batalha global por fontes de energia. "A corrida já começou, pois muitos países no mundo têm uma enorme demanda por recursos e uma fome de energia que precisa ser saciada", considera a especialista em energia Klaudia Kemfert, do Instituto Alemão de Pesquisa Econômica.
Os Estados Unidos e a Europa temem que a China amplie sua influência sobre o mercado energético global com a compra de empresas de energia estrangeiras, complementa Lechus. Mas, por enquanto, o economista não prevê efeitos negativos para economias desenvolvidas como a Alemanha.
"Ainda há petróleo suficiente disponível no mundo, e a Alemanha adquire seu petróleo de diversos países", diz Leschus. Caso perca um parceiro comercial, o país pode recorrer a outros fornecedores.
Aprovação canadense
Além dos acionistas da Nexen e da CNOOC, das autoridades reguladoras e do governo do Canadá, os Estados Unidos e o Reino Unido também precisam aprovar a aquisição por parte da estatal chinesa. O governo canadense já se mostrou favorável. "Investimentos estrangeiros impulsionam nosso crescimento econômico e asseguram nossa prosperidade a longo prazo", declarou o ministro do Comércio, Ed Fast.
Em 2005, o governo dos EUA bloqueou planos semelhantes da China temendo por postos de trabalho. No Canadá, o governo chinês levou tais preocupações em consideração, garantindo, por exemplo, que a Nexen manteria sua sede na cidade canadense de Calgary. Além disso, as ações – que, desde o anúncio da intenção de compra chinesa, aumentaram de valor em 10 dólares em comparação à semana anterior – continuariam a ser negociadas em Toronto.
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China compra petrolífera e dá mais um passo para suprir "fome" por energia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU