Cem vozes em meio à treva. Economistas fazem manifesto em favor da razão contra a economia fundamentalista e suicida

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13 Agosto 2012

Enfim, uma coleção de vozes respeitáveis se faz ouvir contra o pensamento único ortodoxo e conservador que tortura as políticas econômicas do mundo rico, além de ser francamente hegemônico nas academias e na mídia, em ambos os casos também nos países em desenvolvimento, emergentes ou como você prefira chamá-los.

O comentário é de Clóvis Rossi, jornalista, e publicado pelo jornal Folha de S. Paulo, 12-08-2012.

Está em circulação um "Manifesto para o retorno à razão na economia", assinado originalmente por uma centena de economistas.

Não, não se trata de comunistas, socialistas, anarquistas, militantes enrustidos do PSOL ou do chavismo. Não que essas tribos não tenham direito a se manifestar. Só faço a observação porque muita gente desclassifica opiniões e análises não pelo conteúdo delas mas pela suposta (ou real) filiação político-ideológica dos autores.

No caso desse manifesto, não há grife acadêmica lustrosa que não tenha um ou mais de um representante entre os signatários.

O que é profundamente triste é a total ausência de brasileiros entre os firmantes. Uma demonstração que, em matéria de inteligência, somos marginais. Em todo o caso, o manifesto está aberto ainda a assinaturas na internet, em www.manifestoforeconomicsense.org.

Até o meio da tarde de sexta-feira, mais de 9.000 pessoas haviam se dado ao trabalho de assinar o documento. Ao leitor que possa pensar que estou falando do manifesto porque um dos signatários chama-se Sergio Rossi, do departamento de economia da universidade suíça de Friburgo, esclareço que jamais havia ouvido falar dele.

Resumo dos temas tratados: primeiro, a causa da crise não foi, como já escrevi aqui uma e mil vezes, o endividamento irresponsável do setor público, exceto em poucos casos, como o da Grécia. Foram os empréstimos tomados pelo setor privado, inclusive pela chamada alavancagem dos bancos. Sendo assim, os importantes deficit públicos de hoje são consequência e não causa da crise.

Elementar, mas frequentemente escamoteado do debate.

A resposta dos governantes foi inadequada, dizem os autores, pela simples razão de que o setor privado parou de gastar porque estava endividado até o pescoço.

Se o setor público também corta gastos, como se está fazendo em toda a Europa, a consequência inescapável é a recessão, quando não a depressão (caso da Espanha, por exemplo).

É igualmente óbvio, mas, não obstante, os governantes do mundo rico não conseguem somar 1+1 e concluir que dá 2.

Parêntesis necessário por uma questão de justiça: o governo Dilma Rousseff está fazendo a análise correta no atacado, ainda que se possa discordar de algumas medidas pontuais, no varejo.

Você pode, com razão, perguntar de onde governos agora endividados e com robustos deficit vão tirar dinheiro para contrabalançar a retração do setor privado. Propostas existem e fazem sentido. Basta ler o programa eleitoral de François Hollande, aliás vitorioso.

De todo modo, é saudável ouvir gente relevante pedir o retorno à razão, quando o coro ensurdecedor até aqui parecia vir de um braço econômico da Al Qaeda.