04 Agosto 2012
Depois de irritar o Palácio do Planalto ao dizer que o importante para o governo era o saldo de empregos gerado pelo setor automotivo e não a situação específica de uma fábrica, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, mudou o tom do discurso.
A reportagem é de Renata Veríssimo e Tânia Monteiro e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 04-08-2012.
Diante da iminente possibilidade da General Motors demitir 1,5 mil empregados de sua unidade em São José dos Campos (SP), o ministro da Fazenda afirmou ontem que não vai tolerar o descumprimento dos acordos de não demissão firmados com as empresas que foram beneficiadas com a redução de impostos.
Por meio de assessores, Mantega disse que demissões serão interpretadas como descumprimento do acordo acertado pelo governo quando foi reduzido o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) como forma de estimular a produção de setores beneficiados com a medida.
Na mensagem, Mantega não fez menção a nenhum setor específico, mas o recado foi direcionado à GM. Hoje, a diretoria da montadora terá uma nova rodada de negociações com representantes do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e do Ministério do Trabalho para discutir a situação dos empregados da fábrica.
Insatisfação
A mudança no discurso do ministro da Fazenda buscou reduzir, ao menos em parte, a insatisfação da presidente Dilma Rousseff com a condução do processo. A fala de Mantega no início desta semana, depois de encontro com representantes da GM e da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), foi na direção oposta do que ela disse em Londres, quando mandou um duro recado às montadoras.
Segundo assessores do Planalto, a fala de Mantega após o encontro com os representantes das montadoras foi muito branda e poderia sugerir que a presidente estava blefando, no momento em que Dilma indica que a manutenção de empregos é prioridade.
"O discurso dele não foi condizente com o dela em Londres", comentou um assessor palaciano. De acordo com interlocutores de Dilma, a presidente não gosta de posturas pouco consistentes, consideradas por ela diplomáticas, quando o assunto exige enfrentamento e cobrança. A presidente já afirmou que há setores e há situações em que não se pode ser diplomático.
O encontro de Mantega com os representantes das montadoras aconteceu na terça-feira. No dia seguinte, após participar da reunião de coordenação no Planalto, o ministro ficou a sós com Dilma para uma conversa direta.
Negociação
A reunião que vai decidir o futuro da unidade da General Motors em São José dos Campos, no Vale do Paraíba, acontecerá hoje na cidade. São aguardados os representantes da montadora e dos governos estadual e federal. A empresa aguarda uma proposta dos sindicalistas e alega excedente de pessoal. Somente o Classic está sendo produzido na unidade.
Enquanto aguardam uma definição, os mais de 7 mil trabalhadores voltaram ontem ao trabalho, depois de uma paralisação que durou 24 horas - a terceira registrada no último mês. Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, nas três paralisações a montadora teria deixado de faturar R$ 90 milhões.
Permanece o clima de tensão e silêncio entre os trabalhadores. Poucos aceitam comentar o assunto com a imprensa e os que aceitam pedem para não se identificar. "Está nas mãos de Deus, agora é torcer para sair um acordo e acabar essa tristeza", comentou um montador sobre o clima dentro da fábrica.
Durante a semana, sindicalistas criticaram a postura do governo federal em não se manifestar sobre o caso. Na manhã de quinta-feira, eles pararam o trânsito na Via Dutra nos dois sentidos por cerca de uma hora para protestar.
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Mantega recua e diz que não aceita demissões na GM - Instituto Humanitas Unisinos - IHU