28 Julho 2012
Em Damasco, temem-se, escreve a agência católica Fides, vinganças contra civis que poderiam ser tratados como "traidores", porque não estão do lado da oposição: o alerta vem de algumas famílias dos bairros de Qassaa e Jaramana, onde vivem mais de 100 mil cristãos e drusos (e muitos refugiados iraquianos). Muitos estão fechados nos subterrâneos das casas, outros as deixaram e dormem nas escolas, outras famílias ainda estão fugindo da cidade.
A reportagem é de Marinella Correggia, publicada no jornal Il Manifesto, 26-07-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Mas, enquanto isso, em Homs e em outras cidades, silenciosamente, continua uma obra desesperada e cheia de esperança, "Mussalaha", reconciliação de baixo. O padre Michel Maaman, sacerdote sírio-católico, ex-pároco da Catedral do Santo Espírito em Homs, é uma das almas desse movimento informal do qual participam religiosos e leigos, "também chefes tribais, que vieram nos visitar de outras áreas e estão nos ajudando".
Mussalaha busca recuperar aquela convivência e solidariedade étnica e religiosa que sempre caracterizaram a Síria e que agora parecem se desintegrar na fragmentação sectária.
Os encontros de paz a partir das famílias, dos clãs, das diversas comunidades da sociedade civil síria, cansada do conflito, são acompanhadas de ações de mediação bem sucedidas. Um programa da televisão francesa TF1 mostra o padre Michel trabalhando para fazer com que diversas famílias, cristãs e muçulmanas, presas no antigo centro de Homs, possam sair de lá (assista ao vídeo aqui).
Ele lida com a oposição que controla os bairros e, no fim, consegue obter o sinal verde para a libertação de dezenas de pessoas exaustas. O governador da cidade, entrevistado, explica que a Meia Lua Vermelha síria havia pedido várias vezes para entrar, mas os rebeldes sempre haviam negado o acesso e a evacuação dos civis, para evitar o assalto. A Cruz Vermelha internacional confirmou que não pôde entrar na cidade velha de Homs, mas não quis indicar o porquê ("somos neutros").
Falamos ao telefone com o padre Michel em Homs. Ele é muito cauteloso, não fala de política e permanece firmemente neutro: "Uma palavra a mais e aqui corremos risco de vida". Sobre os civis dos quais ele obteve a libertação, ele diz que "não, não eram escudos humanos, mas considerados como proteção pelos rebeldes...".
O padre repete: "Queremos que as armas se calem, para fazer com que as pessoas falem". Mas como é possível ajudar Mussalaha? Ele reflete: "Mais do que a ajuda humanitária, é preciso que nos deixem em paz, e os sírios saberão reconstruir a Síria". Deixar em paz significa também não fornecer mais apoio em armas do exterior? "Óbvio! Aqui se sopra sobre a poeira. À força de falar de guerra civil, de ódio étnico, aqui estão elas. Há interesses enormes, e um barril, um só, de petróleo parece valer mais do que uma vida".
Quanto às pessoas, elas estão em crise de consciência, desconfiadas, ninguém mais confia em ninguém. No bairro de Hamidieh, havia 50 mil cristãos, diz ele, e agora os remanescentes devem ser uns 80. Ao contrário, é preciso "abrir o coração".
E o que ele pensa sobre as delegações, corpos civis de paz e outros para apoiar Mussalaha? "Enquanto as armas disparem, nenhum grupo internacional poderá trazer a paz. São os sírios que têm que agir. E, além disso, a ONU, os observadores, as delegações são muito burocráticos. Eles estão nos hotéis". Mas um apoio político será útil. A irlandesa Mairead Maguire, prêmio Nobel da Paz em 1976 com Betty Williams e líder do movimento "The Peace People", manifestou o seu apoio a Mussalaha. E também Gregório III Laham, patriarca dos greco-melquitas de Damasco, que confia na longa história de convivência dos sírios.
"Se funcionar em Homs, a reconciliação irá funcionar em todos os lugares", conclui o padre Michel.
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''Que as armas se calem'', afirma padre que trabalha pela paz na Síria - Instituto Humanitas Unisinos - IHU