Por: André | 23 Julho 2012
“Comprometemo-nos a continuar acompanhando o Estado, a indústria mineral e o povo colombiano na construção de um desenvolvimento humano, integral, solidário e sustentável”, disse o Episcopado Colombiano em uma declaração de sua assembleia.
A reportagem está publicada no sítio espanhol Religión Digital, 20-07-2012. A tradução é do Cepat.
A Assembleia de Bispos Católicos da Colômbia publicou na sexta-feira, 20 de julho, uma declaração sobre a realidade mineiro-energética atual na Colômbia e sobre os riscos e possibilidades de aproveitamento dos recursos de extração.
Assinalam que sentem que como bispos têm o compromisso de continuar trabalhando por um desenvolvimento autenticamente humano, por uma Colômbia justa e fraterna.
Expressam, além disso, preocupação em relação à presença “de projetos de mineração em territórios de comunidades camponesas, indígenas e de afrocolombianas, sem o devido enfoque social e ambiental, causando destruição da natureza e provocando conflitos ambientais e sociais, geradores de novas violências”.
No comunicado, os bispos propõem:
Ao Estado, que formule um Código de Mineração moderno, justo, motor e fiador do desenvolvimento humano. E que procure fazer com que os grandes lucros sejam investidos de maneira justa e equitativa no desenvolvimento nacional e regional.
À indústria da mineração propõem comprometer-se em sua tarefa com um olhar mais humano e acolher os desafios éticos que esta atividade implica.
E ao povo colombiano pedem manter viva a consciência sobre a responsabilidade que têm as atuais gerações com a criação e a organização de um desenvolvimento amigável com a natureza.
“Queremos que a enorme riqueza que temos não produza mais e novas violências”, disse dom Nel Beltrán, bispo de Sincelejo, em uma entrevista coletiva na sede do Episcopado Colombiano.
Texto completo da declaração da Conferência Episcopal da Colômbia
A realidade mineiro-energética atual: riscos e possibilidades
Introdução
Os bispos da Colômbia reunidos em Assembleia Geral, fiéis ao dever fundamental de acompanhar o nosso povo, acolhemos os clamores e esperanças das comunidades das regiões onde atualmente há processos de exploração e aquelas onde estão em marcha estudos e pedidos de projetos mineiros energéticos.
Nossa análise:
Somos um dos países com um dos maiores índices de biodiversidade e recursos hídricos; temos estepes, parques naturais, zonas de reserva florestal, pântanos de interesse internacional. Em poucas palavras, somos um país com uma grande riqueza agrícola, pecuária e mineral.
Temos, além disso, uma rica diversidade de regiões, etnias e culturas. Igualmente destacamos uma crescente consciência da população colombiana sobre o cuidado e a responsabilidade da criação que nos foi dada como herança para todos.
Reconhecemos a urgência para o país de um desenvolvimento sustentável e verdadeiramente humano.
O que nos ilumina:
Nós, os crentes, anunciamos “a verdade do amor de Cristo na sociedade”. Buscamos configurar a nossa vida com a práxis de Jesus Cristo, que é para nós o Evangelho da Vida e que veio para dá-la e para que a “tenhamos em abundância”. Dali brota a nossa identidade de ser um “povo a serviço da vida” (EV 79).
O desenvolvimento e a criação de verdadeiras condições de vida digna para o nosso povo necessitam da verdade de Jesus Cristo. “Sem verdade, sem confiança e amor pelo que é verdadeiro, não há consciência e responsabilidade social, e a atividade social acaba à mercê de interesses privados e lógicas de poder, com efeitos desagregadores sobre a sociedade” (Caritas in Veritate, n. 5).
A partir dessa luz da fé sentimos o compromisso de trabalhar por um desenvolvimento autenticamente humano e uma Colômbia justa e fraterna, pois para nós, os crentes, “o desenvolvimento é o novo nome da paz” (Populorum Progressio, n. 76).
O que nos preocupa:
Estamos conscientes da crescente necessidade de energia no país e no mundo, assim como da cada vez maior demanda de matérias-primas. Contudo, preocupa-nos profundamente:
A presença de projetos de mineração em territórios de comunidades camponesas, indígenas e afrocolombianos sem o devido enfoque social e ambiental.
A destruição da natureza selvagem do país, pulmão do planeta.
O crescente desequilíbrio e mesmo oposição entre o desenvolvimento da mineração e o desenvolvimento humano agrário que gera desemprego, novas pobrezas e graves deteriorações da saúde em consequências de práticas inadequadas na exploração; igualmente, é fonte de conflitos ambientais e sociais geradores de novas violências.
Assistimos a um modelo mineiro de extração sem suficiente desenvolvimento tecnológico e industrial nem do setor terciário nas zonas de mineração e com um alto impacto ambiental. Por isso, apresentam um escasso impacto social no desenvolvimento humano das regiões mineiras. Por outro lado, há o desconhecimento das razões históricas e que levaram à mineração informal e ao surgimento de uma verdadeira “mineração ilegal” e violenta.
O que propomos:
Diante da realidade anteriormente enunciada, os Bispos colombianos propomos:
Repensar criativamente um novo modelo de desenvolvimento que tenha como centro o respeito pela dignidade da pessoa humana e seus direitos fundamentos; que responda às necessidades atuais, mas que garanta sua sustentabilidade para as gerações futuras; não é aceitável um modelo de riqueza para hoje e pobreza para amanhã. Um modelo com critérios morais e éticos, que faça da Colômbia um Estado social de direito, que responda às necessidades de toda a população e que assuma o cuidado da criação que Deus nos entregou para que a administremos com responsabilidade.
Ao Estado:
Que formule um Código de Mineração moderno, justo, motor e garante do desenvolvimento humano. Que este código seja elaborado pelo Estado em reflexão interna e com a consulta a organizações, grupos e movimentos sociais próximos às necessidades das pessoas. Que atue com firmeza diante da destruição incontrolada do meio ambiente e para impulsionar o desenvolvimento de tecnologias e métodos de extração amigáveis com a natureza.
Que os grandes lucros sejam investidos de maneira justa e equitativa no desenvolvimento nacional e regional, assim como legisle para que isto se torne uma realidade.
À indústria mineira:
Comprometer-se em sua tarefa com um olhar mais humano e acolher os desafios éticos que esta atividade implica, ao mesmo tempo que reconhecemos sua contribuição para o desenvolvimento.
Ao povo colombiano:
Manter viva a consciência sobre a responsabilidade que temos com a criação e organizar-se e comprometer-se ativamente para conseguir um desenvolvimento amigável com a natureza.
Fortalecer a democracia: na institucionalidade do Estado, assim como na institucionalidade civil.
Nosso compromisso:
Comprometemo-nos como Igreja colombiana a continuar acompanhando permanentemente o nosso povo colombiano na busca da verdade e da justiça a serviço da vida, favorecendo o diálogo construtivo e evitando a violência. Convocamos fraternalmente as outras igrejas a trabalhar conjuntamente neste propósito.
Comprometemo-nos a continuar acompanhando o Estado, a indústria mineral e o povo colombiano na construção de um desenvolvimento humano, integral, solidário e sustentável.
“O Senhor Deus tomou o homem e o colocou no jardim do Éden para que o guardasse e o cultivasse” (Gn 2, 15). Bendito seja Deus que nos colocou a serviço da vida.
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“Que a enorme riqueza que temos não produza mais violência”, pedem bispos colombianos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU