07 Julho 2012
"Estes dados (do Censo 2010) devem nos levar a pensar como está a nossa atuação evangélica e missionária. Os apelos de Cristo de que os seus discípulos deveriam ir pelo mundo proclamar o evangelho ou mesmo que Ele não veio só para alguns, mas proclamaria o evangelho em outros lugares, pois para isso ele veio a este mundo, ajudem-nos a sermos missionários pela missão que ele confiou a cada um de nós" , escreve o Vital Corbellini, padre, teólogo em Patrística, da diocese de Caxias do Sul, RS, atualmente trabalhando na Diocese de Ji-Paraná – RO.
Eis o artigo.
O Estado de Rondônia faz parte do contexto amazônico. A consciência de ser uma igreja missionária está crescendo sempre mais nas Dioceses, comunidades e paróquias, atraindo a atenção das pessoas pela forma como está ocorrendo o anúncio do evangelho de Jesus Cristo nesta imensa região. Isso segue o documento de Aparecida que coloca a necessidade da Igreja sair de uma pastoral de conservação para uma pastoral decididamente missionária. O programa do evangelho seja introduzido em cada comunidade eclesial como novo ardor missionário, que a Igreja seja como mãe fazendo de seu lar uma casa acolhedora, uma escola permanente de comunhão missionária (Documento de Aparecida, 370).
Em nível de Brasil, os dados do último Censo devem nos alertar para um trabalho missionário mais sistemático devido à contínua sangria de pessoas católicas para outras denominações evangélicas. Se em 2010, a proporção dos católicos caiu para 64,6%, de 73,8% que era em 2000, em Rondônia, os dados acompanham aqueles do Nacional; os evangélicos cresceram 6,6% em 10 anos, totalizando 33,8% de 27% que estavam no ano de 2000. Já os católicos totalizam 47%.
Algumas pessoas pensam que aqueles e aquelas que foram para outras Igrejas não tinham algum compromisso comunitário. Em certo sentido essa idéia pode ter a sua valorização; no entanto algumas lideranças de nossas comunidades que faziam parte da Pastoral da Juventude ou da catequese, ou mesmo possuíam certa caminhada de fé passaram para a população evangélica. Quando mais tarde você encontra com algumas dessas pessoas, muitas dizem: “Agora eu conheço Jesus Cristo: Eu tenho outra visão de Cristo; Eu quis me aprofundar na Bíblia”. Estes dados devem nos levar a pensar como está a nossa atuação evangélica e missionária. Os apelos de Cristo de que os seus discípulos deveriam ir pelo mundo proclamar o evangelho (cf. Mt 28, 19) ou mesmo que Ele não veio só para alguns, mas proclamaria o evangelho em outros lugares, pois para isso ele veio a este mundo (cf. Mc 1, 37-38), ajudem-nos a sermos missionários pela missão que ele confiou a cada um de nós.
Aparecida não pode ficar apenas no conhecimento teórico de lideranças, dos pastores e de teólogos, mas deve ressoar nas mentes e nos corações para que a conversão pastoral aconteça em nós, em primeiro lugar como agentes de pastoral e nós possamos viver a missão em busca sempre das pessoas que estão longe da evangelização ou se afastaram por causa de nossa atuação. O apelo de Paulo: “Ai de mim se eu não anunciar o evangelho” (1 Cor 15,16) possibilite vivacidade no anúncio da palavra de Cristo em nossa região.
O número de evangélicos é expressivo neste Estado. O fato é que Rondônia foi colonizada por migrantes provenientes em sua grande maioria dos Estados do Espírito Santo, Minas Gerais, Bahia e de outros Estados do Nordeste e também pessoas provenientes do Paraná. Muitos saíram do Nordeste, foram morar no Sul e depois migraram para a região amazônica. Como era mata a grande parte do Estado, os migrantes tiveram que derrubá-la para se apossar da terra. Hoje, a consciência pela ecologia e pela preservação das matas aumentou nas novas gerações e as coisas mudaram em seu nível geral.
O povo veio para esta região, não sendo acompanhado pelos seus ministros leigos, sacerdotes, religiosos e religiosas. Eles tiveram uma evangelização em suas comunidades de origem como falam os dados do Censo. Quando eles vieram para cá muitas coisas se perderam, talvez pela falta de Igreja ou de alguma constituição de comunidade. Por sua vez, os evangélicos vieram marcando a sua presença em meio a este povo. É claro que a Igreja Católica apareceu com o tempo com missionários estrangeiros e também locais. Todos realizaram ações boas na evangelização do povo dessa região. Muitos derramaram o seu sangue em favor da justiça e pela causa do Reino de Deus. Hoje, a presença de leigos e leigas é bastante expressiva na coordenação das comunidades, de religiosos, religiosas, sacerdotes e verifica-se um aumento das vocações sacerdotais e religiosas.
Preocupações pastorais e sociais
Alguns dados preocupam essa Igreja como o êxodo rural, fazendo o fechamento de algumas comunidades, a pastoral urbana, os grandes projetos que beneficiam algumas pessoas e não a grande maioria, a falta de terra para os pequenos agricultores.
Em nível de trânsito, a Igreja não deixa de denunciar as constantes mortes de pessoas envolvendo motos, carros e carretas preocupando a Igreja em Rondônia. A BR 364 atravessa o Estado. Quase todos os dias divulgam-se noticias de acidentes tendo mortes ou feridos. O estado de conservação da mesma não é das melhores. Por isso a Igreja já fez abaixo-assinados pedindo para as autoridades federais e estaduais que olhem com amor a BR, pois ela é a economia do Estado. Em cada momento passam toneladas e toneladas de grãos de soja, de milho até Porto Velho, a capital do Estado. Muitas dessas mortes são de jovens.
O Espírito anima a caminhada de fé em Jesus Cristo
Animados pelo Espírito de Deus, alguns dados dão-nos forças para não cair no desânimo. Aparecida incentiva-nos para uma evangelização junto à família, a catequese querigmática, uma cultura pela vida, uma palavra evangélica junto aos MCS, a imprensa, rádio e TV, a construção da paz, a ecologia e a proteção da natureza. A Palavra de Cristo Jesus deve ser divulgada nas dimensões comunitárias e sociais.
Se esses pontos iluminam a nossa missão, em nível local um dado pastoral que chama atenção em nossas comunidades e região é o número de jovens. A população é jovem. A Pastoral da Juventude é uma ação alegre da missão porque muitas pessoas estão participando de grupos de jovens. Nessa caminhada de fé, nem todos perseveram, mas os jovens ajudam na catequese, na organização das comunidades, na liturgia, nos serviços comunitários e sociais. A cruz da Jornada Mundial da Juventude passará no mês de agosto em nosso Estado, girando alguns dias nas Igrejas e comunidades. Nós esperamos que esse acontecimento incremente uma maior participação do povo, sobretudo dos jovens em vista da evangelização.
Os jovens são convidados a evangelizar os próprios jovens. Hoje Deus fala pelo jeito de ser e de atuar da juventude. É preciso que nós procuremos acompanhar os sinais dos tempos e valorizar os jovens para que sejam os protagonistas da transformação social, política e da evangelização de nossa Igreja.
A Igreja de Rondônia continue firme no discipulado e missionariedade em vista do engrandecimento do Reino de Deus.
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Uma Igreja Missionária. Uma reflexão sobre o Censo 2010 a partir de Rondônia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU