04 Julho 2012
O ingresso da Venezuela no Mercosul aprofundou a crise dentro do governo do presidente do Uruguai, José Mujica. Depois das críticas feitas pelo chanceler Luis Almagro à entrada do país no bloco, decidida em uma reunião de Mujica com a presidente brasileira, Dilma Rousseff, e a presidente argentina, Cristina Kirchner, ontem foi a vez do vice-presidente uruguaio, Danilo Astori, condenar a iniciativa.
A reportagem é de César Felício e publicada pelo jornal Valor, 04-07-2012.
"Esta é a ferida institucional mais grave nos últimos 21 anos do Mercosul", disse Astori, em entrevista ao jornal uruguaio "El Observador". O ingresso da Venezuela deverá ser formalizado em uma cúpula extraordinária no Rio, este mês, e só se tornou possível depois da suspensão do Paraguai do bloco regional, em função da destituição pelo Senado daquele país do ex-presidente Fernando Lugo.
Mujica e Astori são de alas diferentes da Frente Ampla, o partido governista. O presidente é próximo do MPP, formado por ex-guerrilheiros tupamaros, enquanto Astori é ligado ao ex-presidente Tabaré Vásquez, de tendência moderada. Almagro é tido como alinhado a Mujica. Nas últimas eleições presidenciais, Tabaré tentou patrocinar a candidatura de Astori para a sua sucessão, mas Mujica o venceu no processo prévio interno da Frente Ampla para a definição do candidato.
Ontem, o Senado do Uruguai decidiu convocar Almagro para explicar porque ele discorda da entrada da Venezuela no bloco. A iniciativa foi da oposição, que controla 14 das 30 cadeiras da casa, mas os situacionistas não tentaram impedir a convocação. Os dezesseis senadores governistas, entre eles a primeira-dama do país, Lucía Topolansky, retiraram-se da sessão. No Uruguai, o vice-presidente comanda o Senado.
A oposição aposta no distanciamento entre Mujica e Astori para debilitar o governo no Congresso. "As desavenças entre o presidente e o chanceler podem ser um simples jogo interno, mas com Astori é diferente. É uma briga que provoca consequências", comentou o autor da convocação de Almagro, o senador Sérgio Abreu, do Partido Nacional, que foi chanceler do Uruguai no governo de Luis Lacalle (1990-95).
Abreu vai questionar Almagro sobre o fundamento jurídico para a inclusão da Venezuela no bloco. O senador parte da premissa de que a suspensão do Paraguai como membro pleno do bloco não se aplica para a hipótese da admissão de outro país como integrante, salvo se este país já houvesse cumprido com todos os requerimentos exigidos pelo Tratado de Assunção, de 1990. E o tratado exige a ratificação dos Parlamentos nacionais, o que não ocorreu no Paraguai.
Mas o parlamentar afirmou que o próprio Executivo uruguaio poderá dar uma guinada que crie obstáculos para o ingresso venezuelano. "Temos neste instante um presidente que foi convencido a aceitar uma situação colocada por Brasil e Argentina, um vice-presidente que é contra e um chanceler que se opõe publicamente ao que aconteceu. E todos são do mesmo partido", comentou.
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Entrada da Venezuela no Mercosul gera crise política no UruguaiEntrada da Venezuela no Mercosul gera crise política no Uruguai - Instituto Humanitas Unisinos - IHU