Por: André | 03 Julho 2012
Segundo os sacerdotes do Grupo de Sacerdotes em Opção pelos Pobres, imagens como as do arcebispo de Assunção com o novo presidente lhes trazem à memória importantes bispos e cardeais que agiram como opositores na América Latina.
A reportagem é de Washington Uranga e está publicada no jornal argentino Página/12, 02-07-2012. A tradução é do Cepat.
O golpe de Estado institucional ocorrido no Paraguai e a atitude adotada pelas autoridades da Igreja católica naquele país produziram na Argentina uma reação do chamado Grupo de Sacerdotes em Opção pelos Pobres, que, além de condenar os fatos afirmados, que “como curas que querermos caminhar ‘com os pobres da Terra’, junto a muitos migrantes do irmão e vizinho Paraguai em nossas próprias comunidades, queremos manifestar claramente que, vendo as fotos do núncio apostólico visitando Luis Federico Franco Gómez, ou o arcebispo de Assunção dando a comunhão, ou lendo a declaração da Conferência Episcopal do Paraguai, não podemos menos que manifestar o nosso mais profundo repúdio”.
No texto, que tem a assinatura do secretário da organização, o sacerdote Eduardo de la Serna, os padres dizem que “essas fotos, sim, nos escandalizam”, em alusão direta às fotos divulgadas há alguns dias mostrando o ex-bispo de Merlo-Moreno, Fernando Bargalló, acompanhado de uma mulher em uma praia. Segundo os padres, as fotos do arcebispo de Assunção e do núncio no Paraguai com o agora presidente Franco, “nos fazem recordar as atitudes de importantes bispos, arcebispos e/ou cardeais oficiando como verdadeiros dirigentes opositores em Honduras, Bolívia, Equador, Venezuela, Argentina, e dos quais não quiséramos alimentar a suspeita de um ‘passe de faturas’, pelo passado episcopal de Fernando Lugo”.
Acrescentam que “não podemos menos que ver com preocupação movimentos destituíntes em nossos países latino-americanos como Equador, Bolívia e nosso próprio país, além dos golpes passados na Venezuela e em Honduras, para citar alguns”.
Fazendo uma análise do que aconteceu no Paraguai, os padres católicos asseguram que “aqueles que sofremos (e em memória daqueles que morreram ou desapareceram) nas ditaduras, não podemos nos calar diante do que vimos e ouvimos”. E a propósito refletir dizendo que “sabemos que hoje um golpe sangrento não seria bem aceito pela opinião pública, razão pela qual “o ‘golpe militar’ do passado transmutou-se em pantomimas pseudo-constitucionais como a que viveu o povo irmão de Honduras e sofre hoje o Paraguai; ou sob a modalidade de golpes midiáticos, golpes judiciais, golpes de mercado, golpes institucionais ou golpes parlamentares. Mas sempre golpes, que desconhecem a vontade popular para se submeter à vontade do ‘capital’, e interrompem os legítimos processos institucionais da democracia”.
Assinalam também que, como padres, “não temos capacidade de desconhecer um governo, ou romper relações diplomáticas, mas temos capacidade para saber que queremos ficar do lado das vítimas da história, como fez Jesus. E abraçar camponeses, pobres e trabalhadores do Paraguai e cujas vozes uma vez mais foram silenciadas, seus interesses violados e sua vontade desprezada”. Aproveitam também para manifestar-se “a favor de uma reforma agrária como instrumento de desenvolvimento econômico e social com equidade no Paraguai e contra as intoleráveis injustiças provocadas pelas formas de apropriação indevida da terra por parte de proprietários ou empresas nacionais e internacionais que pisoteiam todo direito adquirido de camponeses e povos indígenas”.