Paraguai repete Honduras com "golpe constitucional" na América do Sul

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23 Junho 2012

É tão chocante o afastamento do presidente Fernando Lugo que permite a Alí Rodríguez - um político das entranhas do "chavismo", que não é exatamente um modelo acabado de democracia - dar uma aula de democracia.

"É uma nova modalidade de golpe de Estado supostamente constitucional", disparou Alí, agora secretário-geral da Unasul, ao deixar o palácio do governo em Assunção, minutos após a destituição de Lugo.

O comentário é de Clóvis Rossi, jornalista, e publicado pelo jornal Folha de S. Paulo, 23-06-2012.

Não há como discordar. Primeiro, porque não há base suficiente para montar um processo de impeachment. Acusar o presidente deposto de responsável pelas 17 mortes ocorridas no choque entre camponeses e forças de segurança ou é uma precipitação ou evidente exagero.

Se houve abuso, o presidente seria de fato responsável, em última instância, mas, antes, seria preciso apurar o que ocorreu, o que o próprio Fernando Lugo determinou ao criar uma comissão de sindicância.

Segundo, porque o julgamento foi um fuzilamento sumário. Tanto José Miguel Insulza, o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos, como Michael Shifter, presidente do Diálogo Interamericano, coincidiram em dizer que, se bem a instalação do processo seguiu o marco constitucional paraguaio, não houve respeito ao direito de defesa.

"Vai contra o espírito da democracia", diz Shifter, no que acaba indiretamente concordando com o "chavista" Alí Rodríguez.

Na prática, guardadas as proporções, volta-se ao cenário Honduras: os oposicionistas que afastaram o presidente Manuel Zelaya dizem que estavam apenas defendendo a Constituição.

Os países latino-americanos, em conjunto, gritaram "golpe", suspenderam Honduras da OEA e adotaram outras sanções.

Repete-se agora a rejeição, não pela OEA, que não teve tempo de se reunir, mas pela Unasul, mais ágil, que enviou parte de seus chanceleres, inclusive o do Brasil, a Assunção, para acompanhar a votação do impeachment.

No caso Honduras, o golpe acabou sendo absorvido, com o passar do tempo, ainda mais que pouco depois dele deu-se a eleição, prevista antes do afastamento de Zelaya, e assumiu Porfirio Lobo, hoje já não mais contestado no restante do mundo.

No Paraguai, a eleição se dará em abril, dentro portanto de nove meses, o que insinua um período de turbulência especialmente nas relações internacionais do país.

Para o Brasil, a grande diferença é que Honduras está longe demais, ao passo que o Paraguai é sócio no Mercosul e na usina de Itaipu.

Por isso mesmo, o Brasil foi decisivo para evitar tentativas anteriores de golpe, mas de golpe convencional. Não conseguiu lidar agora com um "golpe supostamente constitucional".