Por: André | 08 Junho 2012
Tem cheiro de poder. No meio de comunicação da transição digital sem retorno, os 400 editores dos meios de comunicação mais poderosos do mundo procuram compreender o cisma provocado pela internet na circulação de informação em nível mundial. Durante três dias, no Hôtel de Ville em Paris, se sente de uma maneira particular a mescla de paquidérmicos jornais centenários que reescrevem seus métodos de produção e se apropriam de uma cultura que historicamente não lhes pertence, a cultura digital, que aguarda nos corredores do futuro e se prepara para trabalhar de uma maneira inédita: o jornalismo aberto, a influência definitiva da cultura do software livre no dia a dia dos meios transnacionais, e um “hashtag” que há alguns anos teria sido impensável para o establishment editorial: #hackthenewsroom, dizem no Twitter, é preciso “hackear” as redações. Há um cheiro de incerteza, também. Porque o jornalismo avança pelas quatro telas: a internet, os telefones, os tablets e os televisores e uma impressão em papel que está diminuindo de maneira acelerada em coincidência com a digitalização das sociedades.
A reportagem é de Mariano Blejman e está publicada no jornal argentino Página/12, 06-06-2012. A tradução é do Cepat.
O programa desenvolvido pela Global Editors Network é uma clara demonstração da importância dos velhos e novos atores: Jim Roberts, do The New York Times; Peter Bale, da CNN Internacional, e Juan Luis Cebrian, diretor executivo do El País, compartilham salgadinhos e canapés com Alastair Dant, da equipe interativa do The Guardian, com os “pibes” do CartoDB, um incrível software para gerar mapas interativos, ou escutavam o Douglas Arellanes, da SourceFabric, um administrador de conteúdos de licença aberta desenvolvido por tchecos muito simpáticos.
Na outra esquina do quadrilátero, Dan Green, diretor de acordos estratégicos da Fundação Bill e Melinda Gates (sim, o do Windows!), que junto com Warren Buffet criaram o maior fundo de investimentos do mundo, cerca de 50 bilhões de dólares, para fazer doações filantrópicas ao redor do mundo junto com Madhav Chinnappa, chefe de acordos estratégicos do Google, servia de “guardião” a Krishna Bahrat, nem mais nem menos que o fundador do Google News. Finalmente, corriam por baixo e brigavam pelos cartões dos senhores de gravata os novos empreendedores dispostos a repensar tudo: novos suportes, novos formatos, novos conceitos, novas plataformas para “inteirar-se” de como vem a mão.
E no meio do turbilhão, enquanto o consultor inglês Jim Chisholm defendia a imprensa escrita como modelo de negócio, garantia que o Twitter e o Facebook eram os grandes “chupadores de marcas”, dizia que os meios impressos também diminuem em vendas porque seus editores abandonaram o papel à sua própria sorte e mandava os contadores a “se reunirem num mesmo quarto e matar a todos”, a poderosa plateia se preparava para presenciar o primeiro prêmio de jornalismo de dados (datajournalism, no jargão) em cuja presidência está o prestigioso Paul Steiger, atualmente no comando do genial sítio ProPublica, antes gerente editorial do The Wall Street Journal. O jornalismo de dados é um tema quente de todas as grandes e não tão grandes redações vanguardistas: visualizações, cruzamento de dados, análises de fontes, mapas e linhas de tempo que contam histórias de maneira impensada, que acabam de explodir com o lançamento do primeiro manual Data Journalism Handbook, patrocinado pela Open Knowledge Foundation e coordenado pela Liliana Bounegru, do European Journalism Centre.
Uma corrida para produzir novos padrões e novas plataformas, provocou a sensação de que se trata do momento zero do “novo” novo jornalismo, que se está reinventando a uma velocidade ainda não percebida pela maioria dos editores, sobretudo na América Latina. E aqui, mais uma vez, outra intersecção entre dois mundos que antes não se tocavam: se algo foi centrado, fechado e vertical é a produção jornalística que se choca com a filosofia do software livre, estimulado por organizações sem fins lucrativos, como a Fundação Mozilla, criador do navegador Firefox. A Mozilla tem uma longa tradição na produção de padrões abertos e influiu fortemente em meios de comunicação tradicionais para gerar ferramentas de software livre, metodologia que se choca com os compartimentos estanques. Dali seu interesse em que os grandes meios de comunicação se abram para metodologias abertas.
Basta olhar os números daqueles que se dedicam a produzi-los seriamente para saber para onde vai a indústria: em 2015, a quantidade de usuários de redes sociais estará à beira dos 1,7 bilhão de pessoas (contra os 1,3 bilhão atuais) e passará de 65% para 70% dos usuários totais da internet. Os dados pertencem a uma pesquisa coordenada por Martha Stone, gerente geral da consultoria Worlds Newsmedia Network.
Mas a tendência em tamanho do mercado móvel é muito mais auspiciosa: o Idate espera que passe dos três bilhões de dólares em 2012 para quase sete bilhões em 2015, ao passo que na Ásia passará de sete bilhões para 17 bilhões de dólares. Razão mais que evidente para estudar os comportamentos da geração dos “inclinados”, jovens com o pescoço encolhido para baixo, olhando sempre para os aparelhos celulares: de acordo com um estudo do comScore, de agosto de 2011, nos Estados Unidos os leitores usam os telefones celulares, os tablets e os computadores pessoais para ler as notícias de maneira combinada: um pico parecido entre os três formatos em horas da manhã, uma diminuição do celular e do tablet em horário de trabalho (onde as pessoas leem as notícias em computadores ou notebooks) e um aumento ostensível no final do dia para os tablets.
“Devemos nos acostumar com a internet e não esperar a internet que queremos”, disse Eric Hazan, do McKinsey & Company, a 400 poderosos editores de meios de comunicação planetários, mais acostumados a criar a realidade do que contá-la.
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“Devemos nos acostumar com a internet que temos” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU