Por: Jonas | 30 Mai 2012
Josep Maria Antentas e Esther Vivas (foto) apresentam seu último livro “Planeta Indignado” e conversam com os leitores do sítio Público.es, 25-05-2012.
A tradução é do Cepat.
JMA e EV: Olá, começamos agora esta conversa sobre nosso livro “Planeta Indignado. Ocupando o futuro”.
Javi#1: Olá Josep M. e Esther! Vocês não acreditam que existe um grande interesse de anestesiar as pessoas, para que tudo continue como está? Qual é a melhor forma para que as pessoas adquiram consciência? Obrigado.
JMA e EV: Sim, claro. Nunca houve interesse de que as pessoas tomem consciência, mas no último período temos visto como o engano coletivo, em que estamos submetidos, é mais evidente para um amplo setor da população. A crise fez aflorar muitas das contradições do sistema e de suas falácias. O 15M tem sido um forte choque social, que despertou a sociedade. Para seguir nesta via é preciso continuar com a mobilização e com as tarefas de contrainformação e sensibilização. Parece que estamos num bom caminho.
dac#2: Olá companheiros anticapitalistas! Quero apenas parabenizá-los pelo livro e sua boa expectativa [...] Que atitude de consumo cultural vocês defendem? Obrigado.
JMA e EV: Nós que agradecemos! [...] Pensamos que é preciso favorecer uma cultura desmercantilizada e potencializar todas as formas de criação cultural e artística que transmitam uma visão crítica da sociedade, fomentem a reflexão e a transgressão e potencializem os canais de difusão e distribuição alternativos e livres.
Marta Fernández #3: Qual a opinião de vocês sobre a situação da Grécia? É um caso isolado ou vocês acreditam que aqui (Espanha), no futuro, pode acontecer uma situação de cortes e lutas parecidas?
JMA e EV: A Grécia é um imenso laboratório social, um experimento do capital financeiro no seu projeto de reorganizar a sociedade. Por isso, também, converteu-se num laboratório das resistências sociais e na trincheira mais avançada e mais difícil de combate global contra o 1%. O que acontece na Grécia determinará, pelo menos, o futuro da Europa Mediterrânea e, por isso, acreditamos que é necessário reforçar as iniciativas de solidariedade com o povo grego.
Marc #4: Já que este jornal deu um grande apoio ao 15M, ajude-nos a dar publicidade para a “Caixarolada” que está acontecendo em Barcelona, apontando os culpados desta crise-calote, e informem o que está acontecendo ali. Obrigado e revolta!
JMA e EV: A "#caixarolada" das últimas semanas foi uma magnífica atividade para dedar o poder financeiro e suas intenções de reorganizar a sociedade em função de seus interesses. Não é preciso salvar os bancos! É preciso salvar os povos dos bancos! A imagem dos carros buzinando ao passar diante do banco “La Caixa”, em Barcelona, foi espetacular, uma mostra das simpatias sociais que tem o 15M.
Sonia Casas #5: Simpatizo-me com o 15M e participo de suas atividades. Porém, às vezes, penso que não temos conseguido nada. Como vocês veem isso? Para vocês, a luta deste ano serviu para alguma coisa?
JMA e EV: Mudar o mundo não é algo fácil. Não se pode perder a paciência! Não basta só um ano de indignação massiva para derrotar as políticas de ajuste. Este é um combate muito desigual e conseguir vitórias rápidas, nos grandes temas, é difícil. Porém, num ano conquistamos coisas muito importantes. Recuperamos a confiança coletiva na capacidade de mudar as coisas, no “Sim, podemos”. E isto é um começo muito importante. E a sociedade tem se politizado muito. Há mais interesse nos assuntos coletivos do que há um ano.
Sara Pastor #6: Já faz tempo que sou uma ativista ecologista e acredito que a mudança climática é uma das ameaças mais graves para o futuro. Como unir o ativismo ecologista com o dos indignados?
JMA e EV: Você tem razão. A crise ecológica é uma questão central de nosso tempo e, de fato, umas das novidades históricas da crise atual, se a compararmos com as anteriores, é que pela primeira vez a crise econômica se mescla com a crise ecológica. O movimento ecologista deve participar ativamente do 15M e este deve inserir as reivindicações ecologistas em suas propostas e atividades. A próxima cúpula da Rio+20 deveria estar em todas as agendas indignadas do mundo.
Jesús #7: É por meio da mobilização e da organização que se desenvolve a consciência de classe. Poderá haver o dia em que o movimento tão heterogêneo do 15M se declare abertamente anticapitalista?
JMA e Ev: Hoje, o movimento é muito amplo, expressando graus de críticas diferentes ao sistema. Porém, a magnitude da crise e a intensificação permanente dos ataques sociais empurram à radicalização de suas propostas e ao desenvolvimento de uma consciência mais anticapitalista, embora seja ainda contraditória. Este é o desafio: aprofundar a crítica e o caráter antissistêmico das lutas atuais.
Bem #8: Se o planeta está indignado, com motivos mais do que suficientes, por que não se enxergam resultados? Por que a situação social do mundo real continua piorando? O que mais podemos fazer para mudar o mundo? Obrigado.
JMA e EV: Para mudar o mundo necessitamos de um processo de mobilização social que se sustente ao longo do tempo, que seja mais forte do que as lutas do último ano e ainda mais coordenado, em escala global, ou pelo menos na europeia. Diante dos planos de austeridade é necessária uma resposta em escala continental, mas ainda não conseguimos isto. E não podemos esquecer uma questão fundamental: levar a indignação para os locais de trabalho. Somos fortes nas ruas, como cidadãos, mas ainda frágeis nos postos de trabalho, como trabalhadores. Ainda existe muito medo, devido ao desemprego e a precariedade.
Nacho #9: Olá! Pertenço àqueles que pensam que uma futura revolução viria do povo indo para as ruas, superando os indignados, 15M, sindicatos e demais movimentos sociais. Que tipo de acontecimento vocês pensam que poderia desencadear isto? Obrigado!
JMA e EV: Ninguém sabe como poderia ser uma revolução num país como o nosso. Quando acontecer será certamente tão imprevisível e surpreendente, quanto bela. Havia anos que a palavra revolução estava abandonada, sendo utilizada somente na publicidade de cosméticos ou o que fosse! Com os exemplos da Tunísia e do Egito, pensar o que é uma revolução tornou-se novamente algo concreto. A mobilização das massas é a base para qualquer revolução e é preciso empurrar para isso.
Rosaura #10: Por que nada acontece diante de todos os casos de corrupção? O que vocês acham que devemos fazer?
JMA e EV: Sim, é frustrante ver a impunidade em que se movem banqueiros e políticos corruptos. Porém, também a constatação desta impunidade é o que tem movido milhares de pessoas a se rebelarem. Talvez ainda não sejamos suficientemente fortes para julgar os políticos e banqueiros, nem fazê-los pagar pelas suas malfeitorias, mas as suas desautorizações social avança e esta é a base para que haja uma reação social ainda mais forte que a do último ano.
Jmab #11: Vocês não acham indignante que a UGT utilize a reforma trabalhista do PP para despedir 30 humildes trabalhadores? Chegou o momento de descobrir de uma vez por toda a esquerda?
JMA e EV: Necessitamos de outro tipo de sindicalismo. O modelo de sindicalismo institucionalizado e burocratizado, de combinação social, está completamente esgotado. Temos que reconstruir uma nova cultura de mobilização e solidariedade, no mundo do trabalho, e reforçar o sindicalismo alternativo e combativo.
Víctor #12: Olá! Ao longo da história, sempre voltamos para um caminho... a violência para mudar as coisas (ou mantê-las). Como vocês enxergam o caminho atual, nos tempos atuais? Saudações.
JMA e EV: O 15M definiu sua identidade como um movimento de defesa de ação direta, não violenta, e de desobediência civil. Com ela conseguimos êxitos importantes e mobilizações interruptivas e provocadoras, que é necessário ampliar. A repressão e a violência do Estado aumentarão. É a outra cara dos cortes. O Estado penal cresce com a mesma proporção em que decresce o Estado social.
Pseudojudas #13: Não nos encontramos um pouco saturados com tantos livros sobre o 15-M e coisas semelhantes? Não se está banalizando um pouco o assunto 15-M? O que o livro de vocês possui para que mereça ser comprado?
JMA e EV: Sempre quando acontece um novo fenômeno social, existe uma explosão de livros, artigos e análises. O 15M marcou a abertura de uma importante brecha na sociedade e o início de um movimento social de magnitude desconhecida. É normal que tenha provocado tantas reações e coisas escritas, tanto pelos seus partidários, como pelos seus detratores. De nossa parte, tentamos fazer uma análise não de conjuntura, mas de fundo, e colocamos as reflexões sobre o 15M dentro da dinâmica internacional, aberta com a Primavera Árabe, comparando-o com outros movimentos semelhantes como Occupy Wall Street. Compreender o que está acontecendo diante dos nossos olhos não é tarefa fácil e nós contribuímos com o nosso grão de areia.
JMA e EV: Assim nos despedimos. Foi um prazer falar com todos e todas vocês. A indignação será por muito tempo. Continuemos e até outra oportunidade!
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“É preciso salvar os povos dos bancos”. Um bate-papo sobre o 15M - Instituto Humanitas Unisinos - IHU