03 Mai 2012
Os governadores e o empresário Fernando Cavendish, diretor afastado da Delta Construções, ficaram de fora da relação de pessoas a serem ouvidas pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Congresso que vai investigar as relações de agentes públicos e privados com o esquema de exploração ilegal de jogos de azar de Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.
A reportagem é de Raquel Ulhôa, Bruno Peres e Daniela Martins e publicada pelo jornal Valor, 03-05-2012.
O plano de trabalho proposto pelo relator, deputado Odair Cunha (PT-MG) - e aprovado pela CPI, apesar de muitas críticas pela ausência de governadores e responsáveis pela Delta -, prevê desvendar a organização criminosa de Cachoeira e suas relações com o Poder Legislativo, com servidores e agentes públicos de governos estaduais, com membros do Judiciário e Ministério Público, com as polícias federal e estaduais (civis e militares) e "com setores empresariais e agentes de mercado, inclusive com a diretoria da Delta na região Centro-Oeste".
Diante das críticas, Cunha negou que a intenção seja restringir a apuração à Delta Centro-Oeste. Segundo ele, este será "o ponto de partida", já que as investigações apontam o envolvimento do ex-diretor da Delta no Centro-Oeste, Cláudio Abreu, que está preso. "Onde a organização criminosa esteve presente, municípios, Estados e União, deve ser objeto de investigação." Segundo ele, o objetivo é esclarecer "qual o papel da Delta na organização criminosa".
Por decisão do PT, o relator deu ênfase, em sua proposta, à investigação do "esquema de interceptação, monitoramento e divulgação de comunicações telefônicas e telemáticas de forma ilegal, e de escutas clandestinas com objetivo de espionagem política e empresarial".
A aparente limitação da investigação da Delta à região Centro-Oeste foi considerada ridícula e um "vexame nacional" pela senadora Kátia Abreu (PSD-TO). "Querem transformar a CPI do Cachoeira na CPI da Procuradoria-Geral da República", disse o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP). "Com essas omissões, é um começo muito ruim", afirmou. "No momento em que o relator propõe que se investigue apenas a Delta Centro-Oeste, está visivelmente excluindo da investigação as outras filiais da Delta que podem estar envolvidas no mesmo esquema criminoso", reforçou o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB).
Pelo cronograma aprovado, a CPI mista vai ouvir primeiro os "acusadores", ou seja, delegados da Polícia Federal e procuradores da República responsáveis pelas operações Vegas e Monte Carlo, realizadas pela PF, que trouxeram à tona as relações de Cachoeira com o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) e outros parlamentares.
O depoimento de Cachoeira será em 17 de maio e o de seus operadores políticos e financeiros, dia 22. No dia 24, serão ouvidos informantes de Cachoeira na PF e na Polícia Militar de Goiás. No dia 29, será o depoimento de Cláudio Abreu. A última oitiva marcada é a de Demóstenes, em 31 de maio. Há várias audiências públicas marcadas até 18 de outubro. A apresentação do relatório final será no dia 23 e a votação, 25. O deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) defendeu que as apurações sobre a Delta na CPI sejam voltadas ao Centro-Oeste, já que as possíveis irregularidades da empresa foram apontadas nos inquéritos da PF em Estados dessa região.
Parlamentares do PT integrantes da CPI decidiram que as relações pessoais de Cavendish com o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), não serão investigadas num primeiro momento. A avaliação é que, por enquanto, as imagens divulgadas de Cabral e secretários de governo do Estado em viagens ao Exterior com Cavendish, são questionáveis, mas ainda sem indício de ilícitos.
Segundo o presidente da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), o Supremo Tribunal Federal (STF) encaminhou à comissão documentos referentes apenas à Operação Vegas, que antecedeu a Operação Monte Carlo. Uma das polêmicas da reunião foi quanto à responsabilidade de o colegiado manter o sigilo dos documentos.
O líder do PPS na Câmara, Rubens Bueno (PR), rechaçou a convocação do procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Ao contrário do que defendeu a maioria governista, dentre os quais o ex-presidente da República e senador Fernando Collor (PTB-AL), Bueno disse que a insistência de trazer Gurgel para falar é para desviar o foco das investigações.
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CPI deixa governadores e Cavendish de fora - Instituto Humanitas Unisinos - IHU