27 Abril 2012
Se a Igreja não acolhe mais as indignações, as urgências, as invenções que os seus membros fazem ouvir como gritos de fé, então ela nada mais é do que uma instituição morta.
A opinião é de Dom Jacques Noyer, bispo emérito de Amiens, na França, em artigo publicado no sítio Témoignage Chrétien, 22-04-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Muito frequentemente se fala do ato de fé como de um abaixamento: aceitar não compreender, não julgar, aceitar a superioridade de Deus ou a autoridade da Igreja. A obediência da fé seria uma renúncia. Os nossos contemporâneos muitas vezes rejeitam essa atitude de ovelhas seguidoras, embora, em outros âmbitos, o "gregarismo" lhes apresente menos problemas...
A Bíblia nos fala de um Deus que se nomeia "Eu sou, eu existo". No capítulo 8 de João, Jesus nos diz: "Vocês acreditam que eu sou". Segui-lo não é fechar os olhos. Segui-lo é despertar para a sua palavra, sair do túmulo, decidir, assumir as próprias responsabilidades, dizer, por nossa vez: "Eu sou".
A tradição espiritual muitas vezes desenvolveu esse "despertar" com palavras breves: o Fiat de Maria, o Amém dos sacramentos, o adsum da ordenação, o Sim de Cristo. Todas essas respostas nos colocam de pé. Às vezes, viu-se nelas a resignação. Ao contrário, é uma mobilização do nosso ser. "Eu existo! Eu assumo a missão! Podem contar comigo". Assim como para o adolescente enrolado no cobertor em dias de frio, é preciso uma voz, uma luz, um apelo para nos fazer sair da nossa sonolência. Para existir, para viver, precisamos de uma urgência, de uma tarefa que não possamos deixar para os outros.
Certamente, esse grito de fé sempre pessoal pode se unir a outros em um "nós existimos". A Igreja é esse "nós existimos", que reúne os fiéis. Mas a história mostrou o desvio possível de uma Igreja em que alguns decidem sobre o crer dos outros. A obediência se torna uma virtude passiva, uma recusa do ser, uma preocupação de não ser notado. Não podemos acreditar que essa seja a obediência a que Bento XVI convidou os padres "desobedientes" da Áustria e de outros países. Se a Igreja não acolhe mais as indignações, as urgências, as invenções que os seus membros fazem ouvir como gritos de fé, então ela nada mais é do que uma instituição morta.
Os apóstolos entenderam a Ressurreição como um apelo a prolongar a presença de Jesus, a se mobilizar pelo seu projeto para inventar as ações necessárias para anunciar o Evangelho. A Igreja assumiu audácias, por muito tempo, para as quais ela não pediu permissão a Jesus Por que ela deveria se paralisar hoje?
Como todo grupo humano, a Igreja precisa de uma disciplina para evitar a tomada do poder por parte de alguns, para organizar a diversidade desses gritos, para assegurar a comunhão no mesmo Evangelho. Mas não é aí que se situa a Grande Obediência da Fé. Dizer "Sim" a esse Pai que nos autoriza a ser à sua imagem, seguir o Filho assumindo com ele a responsabilidade do Reino, partilhar o Espírito que dá a todos o direito de ser e a liberdade de inventar o futuro da humanidade, essa é a Grande Obediência.
Que o "Pai Nosso" possa ressoar como uma generosa resposta àquele que nos fez filhos herdeiros: o seu Nome é o nosso Nome, o seu Reino é o nosso Reino, os seus objetivos são os nossos objetivos. Sim, Pai, somos os teus homens e mulheres!
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A grande obediência da fé - Instituto Humanitas Unisinos - IHU