25 Abril 2012
Widerstand und Ergebung, "Resistência e submissão": esse é o título da coleção de cartas escritas da prisão militar de Tegel pelo pastor Dietrich Bonhoeffer. Esse jovem teólogo luterano, de espírito aguçado, se comprometeu ao serviço da sua Igreja como pastor, depois na luta para defendê-la da influência dos cristãos pró-nazistas, por fim na resistência política contra Hitler.
A reportagem é de Xavier Charpe, publicada no sítio Baptises.fr, 23-04-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Depois do fracasso da tentativa de assassinato do dia 22 de julho de 1944, ele seria transferido da prisão militar de Berlim para a da Gestapo. Seria o silêncio. Na derrota alemã, Hitler vigiaria pessoalmente para que todos os conspiradores sejam encontrados e executados. Depois de um processo apressado, feito apenas pela aparência, Bonhoeffer e os seus companheiros seriam enforcados na noite entre os dias 8 e 9 de abril de 1945.
Portanto, neste ano, o 67º aniversário da sua morte caiu justamente no dia da Páscoa. Enforcado, ou mais exatamente supliciados: eles foram suspensos de modo que a ponta dos pés toque o chão. Quando, extenuados, estão prestes a sucumbir, são reanimados e se recomeça. Uma agonia que é feita para durar por muito tempo: como o sadismo da morte daqueles e daquelas que foram suspensos no lenho da cruz.
Depois, os corpos foram queimados, de modo que não haja sepultamento. O vazio de um não túmulo. Os torturadores tinham a consciência de que, agindo desse modo, uniam Bonhoeffer e os seus companheiros a um outro supliciado, que Bonhoeffer tinha seguido, no serviço e na obediência? No dia de Páscoa, este ano, foi difícil não pensar em Dietrich e no aniversário da sua "Páscoa".
Traduzir Widerstand und Ergebung por "Resistência e submissão" é absolutamente correto, já que é o sentido corrente dessas duas palavras. Mas eu gostaria de ouvir as ressonâncias que vibram por trás das palavras alemãs.
Wider-stand
Em stand, ouço a raiz stehen, que não significa só estar, mas "estar de pé". "Mulheres e homens de pé", porque é Cristo que os faz ficar de pé. Cristo, aquele que estava morto, que a morte havia deitado sobre a terra, mas que Deus Pai tinha levantado novamente, posto novamente de pé. É a palavra grega anastasis, que nós traduzimos como ressurreição.
Depois da derrota da prisão e da morte na cruz, eis que os seus discípulos são postos novamente de pé e, consequentemente, postos novamente "a caminho", quando já estavam "deitados sobre a terra". Eles sabem que foi Cristo que os colocou novamente de pé. Na fé, sabem que Cristo está vivo junto ao Pai. A verdadeira prova de que Cristo está vivo e que podem reconhecê-lo como seu "Senhor" é que Cristo os colocou novamente de pé e os faz viver da sua vida com o seu Espírito.
Wider
Frente à, em face de. Homens e mulheres que estão de pé e que "fazem frente". Fazer frente, enfrentar o real, enfrentar a própria responsabilidade diante do chamado de Deus, diante da vocação que ele quis para nós e diante da qual seria bom não recuar. Fazer frente no compromisso e na solidariedade com os próprios irmãos. "Ouve o meu chamado, empenha-te no meu seguimento no caminho pelo qual eu vou te conduzir e do qual tu não conheces o destino".
Vocês acreditam que, comprometendo-se na obediência e tentando muito simplesmente fazer o que devia fazer, Dietrich Bonhoeffer conhecia o destino do caminho, no fim do qual ele estaria, independentemente do que lhe acontecesse, nas mãos de Deus?
"Só aquele que crê obedece; só aquele que obedece crê", escrevia ele em Nachfolge (Seguir Cristo). Estar de pé e fazer frente, na responsabilidade e na fé em Cristo. Enfrentar o real, não fugir dele, não acreditar que, separando-se da vida, se poderá encontrar Deus em sabe-se lá qual "sagrado", enfrentar a própria responsabilidade diante do Outro e diante de cada um dos outros que se colocam no nosso caminho, enfrentar a prova quando ela chega, e como não poderia chegar, um dia ou outro, a menos que nos tome por (ou finja que somos) privilegiados.
Somos "chamados", certamente, mas não nos consideramos ou nos comportamos como privilegiados. Cristo se fez solidário com aqueles que ele se encontrava. Como podemos nos isentar da solidariedade? Fazer frente na responsabilidade.
Ergebung"
Em gebung há a raiz sobre a qual se constrói o verbo geben: "dar". Mais do que submissão, há "o abandono", sob a condição de sentir o dom, que está na parte final da palavra. É uma questão de dom, do dom de si mesmo, do dom da própria vida. Quando se tenta, com a graça de Deus, ficar de pé, como mulheres e homens responsáveis, aceitando obedecer ao chamado de Deus, à própria "vocação", enfim, quando se tenta ficar de pé no seguimento de Cristo, quando o que devia ser feito foi feito, então podemos nos abandonar a Deus, colocar a própria vida nas mãos de Deus: "Em tuas mãos, Senhor, entrego o meu espírito". "Deixa agora, ó Senhor, o teu servo ir em paz, pois meus olhos viram a tua salvação".
Enfrentar, de pé, depois, quando chega o tempo da prova, abandonar-se a Deus, nas suas mãos. Ocupemo-nos das nossas vidas. Deus saberá como se ocupar da nossa morte. Pelo menos, é nisso que nós acreditamos, se pensamos que nossa vida estava nas mãos de Deus e é daí que veio a fecundidade.
Arrisco-me a pensar que Dietrich Bonhoeffer viveu essa Páscoa.
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Dietrich Bonhoeffer, um aniversário - Instituto Humanitas Unisinos - IHU