24 Abril 2012
Exatamente no dia 23 de abril de 1972 nascia a entidade que viria a ser uma das mais dedicadas à causa indígena deste país. O Conselho Indigenista Missionário (CIMI), braço indígena dentro da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) completa hoje, 23, 40 anos de existência.
A informação é do Boletim da CNBB, 23-04-2012.
O presidente do CIMI e bispo da prelazia do Xingu (PA), dom Erwin Kräutler, falou na entrevista coletiva de hoje, da 50ª Assembleia Geral dos Bispos da CNBB, em Aparecida (SP), do aniversário da entidade e da polemica em torno da construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, que acontece em Altamira (PA).
Dom Erwin disse que no atual contexto, a data de hoje não é para muita comemorações, mas sim de cobranças. “A meu ver, o nosso maior legado foi ter colocado as condições e causas indígenas na Constituição Federal de 1988. Infelizmente, os governos que seguiram desde então, não cumpriram o prazo estipulado na Carta Magna, que foi de cinco anos, para demarcação das terras indígenas. Atualmente, menos da metade das terras indígenas no Brasil são demarcadas, o que gera conflito com fazendeiros, madeireiros e grileiros de terras, ocasionando mortes e tragédias”, destacou o bispo prelado do Xingu.
Sobre Belo Monte, dom Erwin foi incisivo ao afirmar que a situação da cidade de Altamira (PA), é de caos, gerado pela “irresponsabilidade do Governo Federal que não atendeu os requisitos mínimos para a realização de uma obra desse porte”.
“Não há saneamento básico, leito nos hospitais, vagas nas escolas, segurança, o trânsito está terrível, e os funcionários que lá estão não têm as menos condições de trabalho digno, não a toa hoje foi anunciada uma paralisação geral das obras na Volta Grande do Xingu”, descreveu dom Erwin as condições que lá estão vivendo a população local e os operários que seguiram de várias partes do país em busca de emprego e boas condições de vida.
O presidente da Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz, da CNBB, e bispo de Ipameri (GO), dom Guilherme Werlang, que também participou da Coletiva de Imprensa, disse que participou, em Brasília, duas semanas atrás, de uma reunião, pedida pelo Governo Federal, onde estavam o ministro da secretaria geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, e o ministro de Minas e Energia, Edson Lobão, para tratar de assuntos ligados a grandes construções do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Segundo o dom Guilherme, o ministro Edson Lobão disse que o Brasil teria que escolher entre duas opções: o desenvolvimento, com as grandes construções, como Belo Monte, e o subdesenvolvimento.
“Devemos pensar muito o significado de progresso e desenvolvimento. Se for para progredir e destruir as nossas florestas, a fauna e a flora, prefiro o subdesenvolvimento, ou melhor, o desenvolvimento desacelerado e ecologicamente equilibrado. O Governo brasileiro passa a falsa informação de que energia vinda das águas (hidroelétricas) é uma energia limpa. Isso é uma mentira. A energia que usamos é proveniente da destruição de florestas, do descaso com ribeirinhos, quilombolas e indígenas, é vinda de uma da morte de operários. Devemos rever urgentemente o nosso modelo de geração de energia”, enfatizou dom Guilherme.
O bispo da prelazia do Xingu afirmou que a Usina de Belo Monte, que ele costuma chamar de Belo Monstro, cessará o abastecimento de água para inúmeras tribos indígenas da região conhecida como Volta Grande do Xingu. Além disso, 40 mil pessoas, entre ribeirinhos, pescadores e povos tradicionais, que vivem na Bacia Hidrográfica do rio Xingu, serão removidas da região e ainda não sabem para onde serão realocadas. “Eu acuso que o Governo brasileiro trata o povo do Xingu e do Pará como pessoas de segunda categoria. O Pará continua colônia. Nós somos considerados o quintal do Brasil”, relatou dom Erwin.
Greve
Os trabalhadores do Consórcio Construtor Belo Monte (CCBM), responsável pelas obras da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, na Volta Grande do Xingu, em Altamira, decidiram entrar em greve a partir de hoje por tempo indeterminado. Após duas rodadas de negociações as partes não entraram num acordo.
A principal reivindicação é a melhoria das condições de trabalho. Eles pedem ainda elevação do valor da cesta básica, atualmente em R$ 95, e a redução do intervalo entre os períodos de folga - que hoje é de seis meses.
No final da semana passada, a assessoria de imprensa do CCBM disse que “por enquanto, não haverá divulgação de nenhuma ação” com relação à greve e que no “momento se restringe a rotinas administrativas”.
Essa é a segunda vez que os trabalhadores param nesse ano. A primeira interrupção das obras aconteceu entre o fim de março e início de abril e foi marcada por atritos entre policiais militares e trabalhadores.
Na última rodada de negociação, o CCBM sugeriu manter os seis meses entre os recessos para os trabalhadores visitarem as famílias, não reduzindo o tempo de baixada. O aumento proposto para o vale-alimentação foi de R$ 90 para R$ 110. Os trabalhadores pedem R$ 300. “Esses dois pontos já são atendidos em outros empreendimentos da região porque só aqui no da Belo Monte não pode ser atendido?”, questionou na semana passada o vice-presidente do Sindicato, Roginel Gobbo.
A assessoria de imprensa do ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, disse na sexta-feira, 20, que o governo teria conversado com algumas construtoras de Belo Monte e que a expectativa era de um acordo. “A postura do Governo é estimular o diálogo conversando com os dois lados”, disse. Ainda de acordo com a assessoria, o Governo não vai intervir nas questões trabalhistas.
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“Eu acuso que o governo brasileiro trata o povo do Pará como pessoas de segunda categoria”, diz dom Erwin Kräutler - Instituto Humanitas Unisinos - IHU