07 Abril 2012
A mudança climática poderá provocar uma redução do valor econômico do oceano equivalente a 0,37% do PIB mundial em 2100 (0,25% em 2050) se não forem controladas as emissões de gases de efeito estufa e a temperatura média do planeta subir até quatro graus. Se forem controladas, e o aquecimento for de somente 2,2 graus, a redução do valor econômico do oceano exigirá 0,11% do PIB em 2100 (0,06% em 2050). São as conclusões do estudo "Avaliando o Oceano", realizado por especialistas e coordenado pelo Instituto Ambiental de Estocolmo. Mas a mudança climática não é uma ameaça única; sobre o oceano convergem múltiplos fatores de estresse, dentre os quais se destacam, segundo esses especialistas, a acidificação, o aquecimento da água, a hipóxia, a elevação do nível do mar, a poluição e o uso excessivo de recursos.
A reportagem é de Alicia Rivera, publicada pelo jornal El País e reproduzida pelo Portal Uol, 05-06-2012.
O estudo, explica o Instituto sueco, comporta "uma inovadora análise sobre a economia do oceano projetada para quantificar o custo da degradação desse entorno, que não costuma aparecer nas análises de custo-benefício que servem de guia para a promulgação de políticas". Os cálculos foram feitos avaliando os custos ao longo dos próximos 50 e 100 anos em cinco categorias de perda de valor do oceano: pesca, turismo, aumento do nível do mar, tempestades e capacidade de absorção do carbono.
"O oceano vem enfrentando uma série de ameaças interconectadas sem precedentes na história da Humanidade", escrevem os especialistas no resumo do estudo, que será divulgado na íntegra dentro de alguns meses.
Mais de 40% dos ecossistemas marinhos já estão enfrentando simultaneamente mais de um dos seis fatores de estresse considerados no estudo:
Acidificação
Os mares e a atmosfera trocam gases através da superfície do mar e nos últimos 200 anos os oceanos absorveram entre 25% e 30% das emissões de CO2 acumuladas no mundo. Esse processo em parte encobre a mudança climática, mas perturba o sistema oceânico gerando o chamado efeito de acidificação, com preocupantes consequências sobre a química marinha para os organismos que vivem nesse habitat. O pH médio do oceano caiu cerca de 30% desde o início da Revolução Industrial até hoje e, se as emissões continuarem crescendo como até agora, o pH terá caído entre 150% e 200% até o ano de 2100. A mudança é cerca de dez vezes mais rápida do que qualquer alteração registrada nos últimos 65 milhões de anos.
Aquecimento
O oceano absorveu 80% do calor acrescido ao sistema climático nos 200 últimos anos, provocando um aumento da temperatura na superfície, o que causa um impacto sobre os ecossistemas marinhos, os recursos e as populações costeiras.
Hipóxia
Nos últimos 50 anos vem se observando uma alarmante tendência à diminuição das concentrações de oxigênio tanto nas zonas costeiras como dentro do mar. Já foram identificadas cerca de 500 zonas mortas por hipóxia nos oceanos de todo o mundo, onde a reduzida contribuição de oxigênio dissolvido na água impede o crescimento e a reprodução de organismos.
Elevação do nível do mar
O nível médio do mar já subiu cerca de 25 centímetros desde 1800, e o ritmo vem se acelerando. O nível tem subido aproximadamente 1,8 milímetros por ano nas últimas cinco décadas, mas já foi de 2,5 milímetros anuais no período de 2003-2007. A elevação das águas oceânicas se deve ao derretimento de geleiras e das calotas polares, à perda de gelo dos maiores mantos de gelo da Groenlândia e da Antártida, à expansão térmica da água ao aquecer-se e a mudanças no armazenamento terrestre. É difícil ter uma projeção de qual será a elevação do nível do mar acumulada no final deste século, mas os modelos indicam que pode estar entre 0,20 e 2 metros.
Poluição
Tóxicos químicos, resíduos sólidos, nutrientes e sedimentos gerados pela atividade humana (como agricultura, desmatamento, esgoto, aquicultura etc.), radioatividade, derramamento de petróleo e lixo como as redes de pesca abandonadas ou plástico são os principais poluentes oceânicos. Ademais, há uma poluição biológica, ou seja, a proliferação de espécies invasoras. Os efeitos da combinação de uns com outros são praticamente desconhecidos, mas sabe-se que, entre outras consequências, podem influir negativamente na capacidade de adaptação de muitas espécies ao aquecimento.
Uso excessivo de recursos marinhos
Segundo a ONU, o peixe representa 20% do consumo de proteína animal para 1,5 bilhão de pessoas e cerca de 15% para outros 3 bilhões. Nas zonas costeiras essa porcentagem pode chegar a 90%. O valor econômico global da pesca chega a cerca de 200 bilhões de euros por ano, como a maior parte dos pescadores e aquicultores concentrados na Ásia (85,5%), seguida da África (9,3%). A FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) estima que 85% das reservas pesqueiras estejam sendo exploradas ao máximo, superexploradas, esgotadas ou se recuperando do esgotamento.
"O oceano é o eixo de nosso sistema de vida. Cobre 70% da superfície de nosso planeta e gera o oxigênio que respiramos a cada segundo; amorteceu o golpe da mudança climática, absorvendo cerca de 25-30% de todas as emissões de origem antropogênica e 80% do calor acrescido ao sistema global, regula nossa meteorologia e proporciona alimento para bilhões de pessoas. O oceano não tem preço", escrevem os cientistas do Instituo de Estocolmo.
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Danos ao oceano podem causar prejuízos equivalentes a 0,37% do PIB mundial - Instituto Humanitas Unisinos - IHU